ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram
NOVEMBRO, SEXTA  22    CAMPO GRANDE 32º

Comportamento

'Meninos de rua' já tiveram escola só para eles em Campo Grande

Espaço alugado na Rua Antônio Maria Coelho atendia mais de 50 alunos; frequência era livre

Por Aletheya Alves | 21/06/2024 06:15
Documento que descreve sobre a antiga Escola Alternativa, em Campo Grande. (Foto: SNI/Arquivo Nacional)
Documento que descreve sobre a antiga Escola Alternativa, em Campo Grande. (Foto: SNI/Arquivo Nacional)

Em 1988, Campo Grande inaugurou uma escola dedicada a “meninos de rua” com o funcionamento que seria completamente diferente do ensino regular. Na época, um espaço foi alugado na Rua Antônio Maria Coelho e mais de 50 alunos estavam matriculados, conforme relatório do SNI (Serviço Nacional de Informações).

“[...] oferece uma educação diferenciada, fugindo ao padrão escolar, porém dentro da realidade em que vivem esses meninos. O projeto da Escola Alternativa começou a funcionar em fevereiro e engloba educadores e psicólogos e é mantido pelo Governo do Estado”, descreve o documento.

Com frequência livre, o objetivo era que o aprendizado fosse independente da frequência e cada atividade de aula seria individualizada. “Se um aluno não comparecer na escola por duas semanas, quando este retornar recomeça suas atividades a partir do estágio em que se encontrava. Por isso, cada aluno é acompanhado individualmente pelos professores, não havendo promoções, nem reprovações”.

Seguindo a lógica de que cada aluno deveria cumprir seu próprio currículo escolar, não havia definição sobre o ano letivo. De forma geral, as atividades na escola incluíam alfabetização, prática esportiva, oferta de merenda, atividades recreativas e ações culturais.

Escola ficava localizada na Rua Antônio Maria Coelho. (Foto: Murilo Medeiros)
Escola ficava localizada na Rua Antônio Maria Coelho. (Foto: Murilo Medeiros)

“Outras atividades previstas são a horta comunitária e o trabalho dinâmico de grupo com a participação de psicólogos. Práticas essas que visam incrementar a atividade educacional”.

Todo o projeto era dividido entre a Secretaria de Educação de Mato Grosso do Sul, Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua e a antiga Funabem (Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor).

Ao órgão federal, a direção relatou que um dos pontos positivos era a alfabetização das crianças e adolescentes, já que alunos de 16 anos nunca haviam frequentado salas de aula. E, ao invés de querer integrar os meninos à sociedade, a ideia era “fazê-los aceitá-la como ela o é porque os próprios educadores discutem sobre a validade dessa atual sociedade, percebendo que não é a desejada; o objetivo é tentar fazer com que eles convivam, que se aceitem uns aos outros, trazendo igualmente um bom resultado”.

Já entre as preocupações da época estavam o atraso no pagamento do salário dos professores e a cobrança dos alunos por um local para dormirem e melhor alimentação (pontos que não faziam parte do projeto). Além disso, a dependência química também era algo sensível.

“O uso de drogas, cola de sapateiro e maconha, apesar de alguns educadores terem declarado que é tolerado até mesmo dentro das salas de aula, como forma de mostrar o relacionamento aberto entre alunos e educadores” era algo prejudicial na visão da direção. “Torna-se um problema difícil de resolver por parte da própria equipe da escola”.

Considerando esse contexto, a “solução” era trabalhar ações de esclarecimento sobre o uso e as consequências das drogas.

Mas, apesar do projeto ter recebido os apoios citados, a Escola Alternativa funcionou apenas durante um ano. Em dezembro, a equipe teria recebido um aviso sobre férias e uma reestruturação, mas no ano seguinte as aulas não voltaram.

 Acompanhe o Lado B no Instagram @ladobcgoficial, Facebook e Twitter. Tem pauta para sugerir? Mande nas redes sociais ou no Direto das Ruas através do WhatsApp (67) 99669-9563 (chame aqui).

Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para entrar na lista VIP do Campo Grande News.

Nos siga no Google Notícias