'Meninos de rua' já tiveram escola só para eles em Campo Grande
Espaço alugado na Rua Antônio Maria Coelho atendia mais de 50 alunos; frequência era livre
Em 1988, Campo Grande inaugurou uma escola dedicada a “meninos de rua” com o funcionamento que seria completamente diferente do ensino regular. Na época, um espaço foi alugado na Rua Antônio Maria Coelho e mais de 50 alunos estavam matriculados, conforme relatório do SNI (Serviço Nacional de Informações).
“[...] oferece uma educação diferenciada, fugindo ao padrão escolar, porém dentro da realidade em que vivem esses meninos. O projeto da Escola Alternativa começou a funcionar em fevereiro e engloba educadores e psicólogos e é mantido pelo Governo do Estado”, descreve o documento.
Com frequência livre, o objetivo era que o aprendizado fosse independente da frequência e cada atividade de aula seria individualizada. “Se um aluno não comparecer na escola por duas semanas, quando este retornar recomeça suas atividades a partir do estágio em que se encontrava. Por isso, cada aluno é acompanhado individualmente pelos professores, não havendo promoções, nem reprovações”.
Seguindo a lógica de que cada aluno deveria cumprir seu próprio currículo escolar, não havia definição sobre o ano letivo. De forma geral, as atividades na escola incluíam alfabetização, prática esportiva, oferta de merenda, atividades recreativas e ações culturais.
“Outras atividades previstas são a horta comunitária e o trabalho dinâmico de grupo com a participação de psicólogos. Práticas essas que visam incrementar a atividade educacional”.
Todo o projeto era dividido entre a Secretaria de Educação de Mato Grosso do Sul, Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua e a antiga Funabem (Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor).
Ao órgão federal, a direção relatou que um dos pontos positivos era a alfabetização das crianças e adolescentes, já que alunos de 16 anos nunca haviam frequentado salas de aula. E, ao invés de querer integrar os meninos à sociedade, a ideia era “fazê-los aceitá-la como ela o é porque os próprios educadores discutem sobre a validade dessa atual sociedade, percebendo que não é a desejada; o objetivo é tentar fazer com que eles convivam, que se aceitem uns aos outros, trazendo igualmente um bom resultado”.
Já entre as preocupações da época estavam o atraso no pagamento do salário dos professores e a cobrança dos alunos por um local para dormirem e melhor alimentação (pontos que não faziam parte do projeto). Além disso, a dependência química também era algo sensível.
“O uso de drogas, cola de sapateiro e maconha, apesar de alguns educadores terem declarado que é tolerado até mesmo dentro das salas de aula, como forma de mostrar o relacionamento aberto entre alunos e educadores” era algo prejudicial na visão da direção. “Torna-se um problema difícil de resolver por parte da própria equipe da escola”.
Considerando esse contexto, a “solução” era trabalhar ações de esclarecimento sobre o uso e as consequências das drogas.
Mas, apesar do projeto ter recebido os apoios citados, a Escola Alternativa funcionou apenas durante um ano. Em dezembro, a equipe teria recebido um aviso sobre férias e uma reestruturação, mas no ano seguinte as aulas não voltaram.
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