Molho de salgado é gentileza para quem cansa em porta de hospital
Vendedor faz questão de agradar quem vai comer ou beber o cafezinho de lei todas as manhãs
Na contramão dos vendedores ambulantes que só servem o salgado e “despacham” o cliente, Fabiano Garcia, de 32 anos, faz questão de agradar quem passa para comer um salgado ou beber o cafezinho de lei de toda manhã. Com diversos molhos expostos no muro da unidade de trauma da Santa Casa de Campo Grande, o ex-frentista criou hábitos que tornam a rotina no local mais leve. Ali, histórias não faltam, e acredite, ele já ouviu muitas.
RESUMO
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Fabiano Garcia, um vendedor de salgados de 32 anos em Campo Grande, transformou sua rotina em frente à Santa Casa em uma terapia para si e para seus clientes. Há três anos no local, ele oferece salgados, café e diversos acompanhamentos, além de muita conversa e acolhimento para quem passa. Sua história no ponto começou como um bico, mas ele se apaixonou pelo contato com os clientes e hoje não pensa em sair dali. Com um faturamento de R.500 por mês, Fabiano se orgulha do seu trabalho e do impacto positivo que ele causa na vida das pessoas.
Há três anos no ponto, ele conta que não pensa em sair e que, inclusive, adora estar no local porque é uma terapia para ele. Para deixar os clientes mais à vontade, ele coloca uma caixinha de som e disponibiliza diversos temperos como molho de pimenta, ketchup, molho de alho e até shoyu.
Já escutei muita coisa. Muitos são acompanhantes de idosos, crianças, pessoas acidentadas. Já me emocionei muito aqui. Chorava junto com a pessoa. Alguns são de longe e não podem sair, então sentam aqui e conversam.”
Ele relembra que as histórias que mais o marcaram foram as de crianças com câncer e de uma uma mãe que desabou no local após o diagnóstico do filho “Me choca muito. Quando é mais velho, a gente espera coisas assim. Mas criança, não. Antes, eu levava o problema para casa, hoje, nem tanto. A gente vai aprendendo a lidar porque são muitas histórias.”
No lugar até quem fuma tem vez. Como não havia pontos de venda o comerciante logo se encarregou de oferecer o produto e deu certo. Pessoas que não podem sair do hospital por estar companhando pacientes compram pela proximidade. Elas aproveitam e já fazem o combo café mais cigarro.
O trabalho começa às 3h da manhã, quando ele coloca a mão na massa, - literalmente - para fritar os pasteis, vendidos a R$7, assim como os salgados. Depois, ele arruma a caixa de isopor e os molhos para iniciar a jornada. O ponto de partida é o bairro Jardim Monumento.
Além do salgado, Fabiano vende café a R$ 2, refrigerante e, quando está frio, leva chá e leite.“Eu gosto de estar aqui, é gostoso. Já tentei sair e não consigo. Pego amor pelos clientes. Isso é uma terapia. O contato com o cliente cria vínculo, faz amizade, a gente conhece muita gente.”
A história com o cantinho que ele pode chamar de seu começou quando ele trabalhava como frentista e foi convidado para fazer um bico enquanto o dono do ponto estava doente. O tempo passou e ele assumiu o negócio.
“Larguei tudo e comecei a trabalhar para mim. Esse ponto era de outro rapaz. Tem 30 anos, era do seu Agemiro, depois do filho dele e, agora, meu. Eu herdei. Não penso em sair nunca.”
Quando assumiu o lugar, ele trouxe algumas melhorias que achou necessárias para deixar os clientes mais confortáveis, como trocar as garrafas de café por versões de inox, colocar música para os e adicionar os molhos. A meta agora é colocar cadeiras de praia futuramente.
“Dei uma olhada e vi o que podia mudar. Aí trouxe algumas coisas. O pessoal gosta do jeito que eu converso com os clientes. A maneira de abordar também conta. Eu falo: ‘Oi, vamos tomar um café, um refrigerante?’ Muitos nem sabiam que tinha café aqui.”
Com o trabalho, Fabiano consegue tirar o sustento de R$3.500 ao mês. Ele trabalha cinco horas por dia, mas a rotina começa antes, às 3h. Além dos alimentos, ele leva uma lona caso chova, lixeira e um banquinho.

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