Na fachada, placa indica residência dos Nakasato, o inicio de uma longa história
Há tradições que continuam na fachada como uma marcação do passado. Na rua Calógeras, a lembrança está na placa que indica a residência da família Nakasato, precisamente, de Maçao e Odilon Nakasato.
A cor desbotada só tem vida graça à inscrição mais recente, que serviu para atualizar o telefone da casa. Mas a placa ainda guarda vestígios do antigo número para ligações.
No sobrado, o tempo parou. Maçao morreu há 5 anos, mas o filho assumiu a vida do pai levando adiante a mesma profissão. “Eu tive a honra de ser discípulo dele e aprendi a fazer massagem tradicional do Japão”, conta Odilon.
Em casa, ele atende clientes que aparecem em busca de Shiatsu, Do-in ou Reike para aliviar dores do corpo e da alma. A placa está lá por ideia do pai, mas só com o tempo ganhou a propaganda dos serviços oferecidos.
O avô veio para Campo Grande na 3ª leva de imigrantes japoneses. O pai nasceu aqui e na década de 40 aprendeu a profissão que exerceria pelo resto da vida.
“Um professor de judô veio do Japão em intercâmbio com a Associação Nipo-Brasileira e aqui ensinou meu pai a fazer massagem da forma tradicional. Era um homem que tinha enfrentado até a segunda grande guerra”, conta.
Maçao criou os filhos com o ofício e quando sentiu que as mãos fraquejavam, pergunto a Odilon se ele queria continuar.
“Aceitei e fiquei um ano apreendendo. Durante anos trabalhei ao lado dele que morreu aos 83 anos ali, até o último dia fazendo as massagens”, lembra.
Hoje a família Nakasato é enorme, tem mais de 600 pessoas, estima Odilon. “Tem vez que eu encontro primo que eu nunca tinha ouvido falar”, comenta sempre muito sorridente.
Aos 57 anos, com 4 filhos, ele já foi professor de inglês, mas quando aceitou levar adiante a profissão do pai, só fez isso. “Comecei com o Shiatsu, o Do-in e depois aprendi o Reike”, diz.
Odilon ainda se lembra da Maria Fumaça em frente de casa, da brincadeira na rua, em frente ao Hotel Gaspar, mas a saudade parece maior do pai e da mãe, falecida há 2 anos.
O nome do pai, por exemplo, nunca foi apagado da placa. Continua lá depois de 25 anos da morte do velho massagista.
É como sinal de respeito. Foi Maçao quem ensinou, por exemplo, a diferença com os métodos mais modernos que, na opinião de Odilon, transformaram as massagens tradicionais em algo comercial. “Ele sempre disse que é preciso uma pegada mais forte e hoje vejo que tem muita gente que faz de forma superficial, o que não dá efeito”, conclui.
No fim das contas, a placa que provocou curiosidade acabou virando um bom pretexto para escrever parte da história de mais uma família.