Na tristeza e esperança, mãe relata como é viver com a filha adicta
Em entrevista, uma mãe compartilha a angústia vivida após sua filha ficar presa por dívida de drogas
A dependência química é uma doença que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. De acordo com o Relatório Mundial sobre Drogas 2022, divulgado pelo UNODC (Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime), o uso de drogas entre pessoas na faixa etária entre 15 e 64 anos aumentou significativamente nos últimos dez anos.
O relatório aponta que, somente em 2020, aproximadamente 284 milhões de pessoas utilizaram drogas, o que representa um aumento significativo de 26% em relação à década anterior.
Entretanto, apesar dos números alarmantes, a dependência química ainda é cercada de preconceitos. Diferentemente do que muitas pessoas pensam, não tem a ver com mau comportamento, falta de caráter ou de força de vontade. Trata-se de uma doença, que traz danos físicos, materiais e emocionais para todos os envolvidos.
Essa realidade é vivenciada pela costureira Mariza Gomes, de 56 anos, que enfrenta momentos de aflição durante a recuperação de sua filha mais velha, Yule Gomes Gimenez, de 29 anos, dependente química.
Mesmo após um dia cansativo e cheio de trabalho, Mariza concedeu um momento para relatar ao Campo Grande News o que passou durante os 19 dias em que Yule ficou desaparecida.
O drama começou no dia 8 de julho deste ano, quando Yule passou na casa da mãe e disse que seguiria para a casa da atual companheira. Entretanto, no dia seguinte, ela não apareceu e os dias se passaram sem nenhum contato. Isso deixou Mariza em alerta, pois sua filha costumava ligar mesmo quando estava afastada.
Se ela não está me ligando, alguma coisa está estranha. Aí já comecei a sentir meu coração batendo forte", desabafa Mariza, preocupada com o paradeiro da filha.
O desaparecimento de Yule foi percebido quando sua mãe decidiu verificar seu paradeiro com a família de sua ex-companheira. “Eu liguei pro pai da moça e falou que ela não estava lá mais. Diz que ela apareceu lá sozinha, pegou umas coisas e foi embora. Fiquei mais assustada ainda porque quando a moça chegou, ela falou que não estava mais com Yule”.
Buscas - Inicialmente, a costureira tentou fazer a busca com colegas de bairro e conhecidos da família. “Fizemos muitas orações, até mesmo crianças oraram por ela. Compartilhamos informações em grupos, ligamos para as pessoas que ela costumava entrar em contato. O desespero tomava conta de nós, pois não tínhamos notícias dela”.
Sem respostas e pistas do paradeiro de Yule, Mariza decidiu registrar o desaparecimento na delegacia, no dia 24 de julho. Mariza contou que foi procurada pela DHPP (Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa) para ir na quinta-feira (27) passar por coleta relacionada a exame de DNA. O que poderia ajudar nas buscas e, ao desligar a ligação, recebeu a chamada de um novo número.
“Eu nem ia atender por ser um número desconhecido, sem querer atendi e era ela pedindo para voltar para casa. Ela usou o telefone de um mototaxista que trouxe ela para mim”, contou Mariza.
Após a situação delicada em que ela foi encontrada, a família descobriu que a jovem estava com uma dívida relacionada ao uso de drogas, o que a levou a ficar detida por alguns dias na antiga rodoviária. "Ela me contou sobre as coisas horríveis que aconteceram com ela, incluindo a violência que sofreu", compartilha Mariza sobre o estado de sua filha antes de buscar tratamento.
De acordo com Mariza, a jovem foi agredida e teve parte do cabelo raspado. “Percebi como a dependência química havia destruído a sua identidade, a pessoa brilhante e inteligente que ela costumava ser. Nada disso eu desejo para ninguém. Ninguém merece passar por essa dor e agonia”, comenta Mariza.
Recaídas - Mariza explica que esta não foi a primeira vez que sua filha enfrentou problemas com drogas. A jovem começou a lutar contra a dependência química aos 15 anos. "Já fiz vários boletins de ocorrência quando ela era menor. O máximo de tempo que ela ficou sem avisar foi uma semana. Dessa vez, foi quase um mês", recorda.
Na época, preocupada com o quadro da filha, Mariza relata que encaminhou Yule para uma clínica de reabilitação. “Eu sempre tentei ajudar. Durante o tratamento, eu sempre falava para ela que iria melhorar”.
Segundo ela, após o tratamento, a filha mais velha ficou saudável ao longo de seis anos. “Nesses seis anos ela ficou bem. Trabalhou, casou e teve a neném dela. Ela é uma pessoa que se destaca, porque é comunicativa. E nesse tempo ela ficou bem”, explica a costureira.
Entretanto, após os seis anos de sobriedade, Yule teve uma nova recaída, que culminou no seu desaparecimento. “De uns três anos pra cá, ela já começou a ter recaída. Foi morar sozinha, com outros relacionamentos e amizades”.
Esperança - Mesmo com todas as dificuldades, a esperança sempre prevaleceu, especialmente quando sua filha decidiu buscar ajuda. “Ela sabe que tem essa doença. Tanto é que, quando voltou para casa, me falou: ‘Quero me tratar. Eu quero pela minha filha e pela senhora’”.
Mariza, apesar de enfrentar críticas e julgamentos de algumas pessoas, sustenta que a dependência química é uma doença que precisa ser tratada. "Apesar de tudo, mantenho a fé. Vejo que ela já está mudando, que a clínica está fazendo a diferença. Recebi uma foto dela lá, e ver sua aparência mais cuidada me enche de felicidade. Tenho esperança e acredito que, com o tempo, ela poderá se recuperar completamente", declara com otimismo.
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Em Campo Grande, os interessados em conhecer o trabalho, sejam dependentes ou seus familiares, podem entrar em contato pelo WhatsApp (19) 3255-6688 ou pelo número 0800 888 6262.
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