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Comportamento

Nada de 'serviço masculino', Pereirão vai para a lida e ‘manda’ em homens

Brincadeiras à parte, Eliana defende que ainda hoje há quem duvide que mulheres podem trabalhar no "bruto"

Aletheya Alves | 26/01/2023 06:51
Eliana conta que sofreu preconceito quando deu início aos trabalhos no Pantanal. (Foto: Arquivo pessoal)
Eliana conta que sofreu preconceito quando deu início aos trabalhos no Pantanal. (Foto: Arquivo pessoal)

“Aos poucos esse tabu vai caindo, não é besteira dizer que a mulher pode mesmo fazer o que ela quiser”, resume Eliana Pereira. Mostrando isso na prática, Pereirão, como é conhecida, decidiu ir para o meio do Pantanal trabalhar liderando uma equipe de homens, em um trabalho entendido como “serviço masculino”.

Desde pegar toras de madeira para construir cercas até comandar tratores e resolver toda a parte administrativa, Pereirão não se cansa da “lida”. Com uma história que já envolveu até prisão no passado, a empreiteira narra que todo preconceito é fútil e começar, ou recomeçar, é sempre possível.

Antes de voltar ao passado, explicar o trabalho de Eliana é importante, ainda mais para quem não tenha ideia de como alguns serviços são prestados no Pantanal. Responsável pela sua empresa, ela explica que muitas fazendas precisam de estruturas, como a construção de cercas. São nesses casos que sua empreiteira é acionada.

“Existe essa ideia de trabalho de homem e de mulher, se for seguir isso, eu faço muito trabalho de homem, muito trabalho braçal. Mas minhas funções são várias”, diz Eliana.

Desde 'comandar' trator até ir para construção de cercas, tudo está incluso. (Foto: Arquivo pessoal)
Desde 'comandar' trator até ir para construção de cercas, tudo está incluso. (Foto: Arquivo pessoal)
Ela explica que "energia" do Pantanal recarrega as baterias. (Foto: Arquivo pessoal)
Ela explica que "energia" do Pantanal recarrega as baterias. (Foto: Arquivo pessoal)

Atualmente, ela trabalha especificamente para uma fazenda localizada em Porto Murtinho. “Eu faço o administrativo, venho para a cidade contratar quem queira lidar com o trabalho na fazenda comigo, decido quais funcionários vão pegar as madeiras e quem vai atuar na construção das cercas, cuido da alimentação e, além de tudo isso, vou para a lida”.

Além de supervisionar tudo isso, a empreiteira explica que não resiste em fazer o trabalho “bruto”. “Eu pego poste, ajudo a construir cerca, vou monitorando se tudo está sendo feito certo. É um trabalho que hoje a gente vê muito homem fazendo. Eu mesma ainda não conheço outras mulheres”, comenta.

Mas, além de pensar no hoje, Eliana explica que é necessário falar sobre sua trajetória. Isso porque o preconceito nunca foi só pelo fato de ser mulher, mas também por já haver sido presa.

“Eu fiquei três anos em regime fechado, já saí faz 13 anos. Cometi um erro, paguei por ele e voltei para a sociedade”, sintetiza. Detalhando sobre seu histórico, Pereirão conta que foi condenada por tráfico de drogas, tendo ficado presa em Bonito e depois sendo transferida para Campo Grande.

Até a parte de alimentação, sem glamour, é sua responsabilidade. (Foto: Arquivo pessoal)
Até a parte de alimentação, sem glamour, é sua responsabilidade. (Foto: Arquivo pessoal)

Intitulando esse período como o mais difícil de sua vida, ela comenta que o apoio da mãe foi um dos fatores importantes para conseguir retornar para a sociedade. “É sempre possível mudar, mas você precisa de apoio, precisa querer e também precisa fazer diferente”.

Desde sua saída da prisão, Eliana decidiu que não queria mais voltar para trás das grades e resolveu começar a estudar. “Fui batalhar, correr atrás dos meus sonhos”.

No início, ela se tornou agente comunitária de saúde, depois se formou em Pedagogia e atuou na área da educação. Em seguida, tentou se eleger como vereadora, mas acabou não conseguindo o cargo.

A partir daí é que foi convidada para gerenciar uma empreiteira na fazenda em que trabalha atualmente. “O preconceito por ser mulher já começou ali. Muita gente falava que eu estava de romance com o dono da empreiteira, mas fui mostrando que não é assim e hoje minha equipe me respeita muito”.

Sem se arrepender de ter ido parar no meio do Pantanal, Eliana conta que vê seu trabalho imerso em muito privilégio. “Não é fácil, você precisa abrir mão de muitas coisas, mas o Pantanal é incrível. Existe uma energia muito boa e toda vez que me estresso, fico nervosa, é essa energia que me ajuda”.

Eliana comenta que apoio da mãe sempre foi essencial. (Foto: Arquivo pessoal)
Eliana comenta que apoio da mãe sempre foi essencial. (Foto: Arquivo pessoal)

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