Não existe mulher mais forte do que aquela que teve de entregar o filho
A maternidade aflorou em Iza, que por duas vezes se viu grávida, e mesmo sem os filhos nos braços, continua sendo mãe.
Na semana passada, as redes sociais estavam inundadas de declarações de amor às mães, fotos de família, recordações, almoços e presentes. Foi ainda na gestação do meu segundo bebê, que um dia conversei com uma das pessoas mais doces que eu conheço.
Jornalista como eu, Izabela Jornada, ou como eu gosto de chamá-la, Iza, me contou que também era mãe, de Maitê, uma bebezinha que ela teve de entregar com menos de 2 meses de nascida. A história me chocou não só pela dor compartilhada, mas porque a partida de Maitê não levou a doçura de Iza junto e nem o jeitinho materno dela.
Eu sempre quis contar essa história, e me lembrei que assim como ela, muitas mães passaram pelo domingo passado sem celebrá-lo com os filhos. O depoimento de Iza mostra que não existe mulher mais forte do que aquela que teve de entregar o filho que acabara de receber.
A Iza tem 35 anos, é casada há 11 com Lúdio, os dois são cristãos, o que justifica tamanha fé. O semblante dela já transmite uma paz da gente querer abraçar, a voz nesta narrativa, então, só reforça que a fé é capaz de erguer mães e fazer milagres.
A primeira gestação foi no segundo ano de casada, e foi até os 3 meses, quando ela descobriu que tinha uma doença, a Síndrome do anticorpo antifosfolipídeo, que faz com o que o sangue coagule. Além de passar pela curetagem, Izabela também teve uma série de embolias pulmonares, perdeu 1/3 do pulmão direito e chegou até a passar pela extrema unção ao final dos dois meses de internação. Ela atribui a alta a um milagre. "Aí que entra a fé. Eu tenho muitas fé em Deus. É Deus que me sustenta", diz.
Cinco anos depois, engravidou, sem se planejar, de Maitê. Não que ela não pudesse ter filhos, mas era preciso ter se preparado, inclusive tomando as injeções de clexane, que ela passou a tomar já no segundo mês de gravidez. "Quando descobri o desenvolvimento dela já estava comprometido", conta.
Um dia, na igreja, a jornalista sentiu vontade de fazer xixi, foi ao banheiro e viu sair muito sangue. Correu para a maternidade, Maitê já estava "coroando", mas sem UTI na Cândido Mariano, nem nos demais hospitais, os médicos optaram por "devolver o bebê", uma forma bem simples de falar, e então segurar a gestação o quanto desse.
Uma semana depois, a mãe que havia sido transferida para o Hospital Universitário, único com UTI disponível, viu Maitê nascer de 28 semanas e com 680g. "Ela nasceu perfeita, sem infecção e foi para a UTI. E como mãe tem uma força incrível... Eu ouvia as pessoas falarem isso, mas eu não entendia. E quando ela nasceu, entendi, porque eu estava cortada de uma cesariana, e não sentia nada. O que me impediria de vê-la todos os dias na UTI era a cesárea, mas eu ficava lá, sentada, do lado dela, zelando, cuidando e pedindo para Deus que ela ficasse bem".
Maitê ganhava peso, e até mamava o leite da mãe através da sonda. Nos testes, o do pezinho por exemplo, não apontou alterações. Com 40 dias de internação, e tendo dobrado de peso, os médicos já falavam em alta e levar Maitê para casa. "Nossa, que maravilha, que alegria, o quarto, tudo já estava pronto e perfeito", recorda.
No mesmo dia, em casa, a mãe foi tomar banho, sentiu no coração alguém conversando com ela. "Eu vou levar a Maitê, eu quero levar'. Eu falei: 'não, Deus, não... O médico falou que ela está boa". Como resposta, Izabela lembra ter ouvido: "o que eu tenho para fazer na sua vida por meio dessa fraqueza é muito grande, mas se você não quiser, eu não levo. "E eu falei, não, se o senhor está falando, eu confio e entrego".
Ao sair, contou ao esposo sobre a experiência. O casal orou junto e dormiu. Pela manhã, a assistente social ligou no celular de Lúdio. "Aconteceu uma intercorrência com a Maitê, e ele falou: eu sei, ela faleceu", narra a mãe.
Com calma, eles foram até o hospital onde encontraram a bebê sem todos os fios, enroladinha para a despedida.
"O médico falou que ela teve uma parada cardiorrespiratória, a gente nem indagou nada. Estávamos preparados, foi uma coisa muito sobrenatural, mas muito triste, desesperador, aí que minha fé aumentou ainda mais. A dor de perder um filho é surreal. É uma dor, assim, que não dá para imaginar. Eu vejo que é a mão de Deus que vem me sustentando".
Lúdio completa o pensamento... "A morte é uma violência ao DNA do homem que foi criado à imagem e semelhança de Deus. É algo que chega sem avisar, nem nada, e quando você se depara com ela, se não tiver um alicerce mais profundo, de você entender para onde estão indo aqueles que morrem, você entra num colapso emocional, porque é difícil, mas em Deus é possível superar, e é louco demais isso".
Maitê teria feito 5 anos dia 21 de janeiro, no entanto, a data que mais marca a mãe não é a do nascimento, nem o Dia das Mães, e sim 5 de março. "Eu não esqueço, às vezes o aniversário dela passada batido, o Dia das Mães eu fico mais na minha mãe, porque fui mais filha do que mãe, mas o dia da morte, foi o que mais me marcou..."
Se Izabela foi ou ainda é mãe? A resposta é sim. "Fui mãe, sou mãe, porque a Maitê vive dentro de nós. Ela faz parte da nossa história".
A maternidade aflorada com Maitê acaba sendo exercida nos sobrinhos e também nos jovens da comunidade cristã onde o casal frequenta. "Mas eu ainda quero ter filhos", diz a mãe.
Você tem alguma história para compartilhar com o Mãe também reclama? Ou algum tema para o próximo domingo? Escreve pra mim: paulamaciulevicius@gmail.com.