Não foi amor à 1ª vista, mas adoção fez de Joice amor para vida toda de Diná
Diná relata montanha-russa de emoções e as etapas que teve que superar até realizar o desejo de se tornar mãe
Aos 38 anos de idade, Diná Campos, hoje com 57 anos, decidiu embarcar naquela que seria a maior e mais bonita aventura de sua vida: a maternidade. De todos os livros que leu, e todos os lugares que visitou, porque Diná ama viajar, nada poderia se comparar à jornada que lhe aguardava, cheia de emoções, altos e baixos.
Foram três anos e oito meses de caminhada, até chegar aos braços da filha, Joice Campos, hoje com 20 anos. “Se a gente fizer as contas, quando ela nasce, acendeu minha luzinha pra ser mãe. Só que levou três anos e oito meses para a gente se encontrar”.
Escolher o caminho da adoção não foi tarefa fácil ou doce. Quando a "chavinha da maternidade" girou na sua cabeça, Diná sonhava em ver a barriga crescer, amamentar e desfrutar de todas as etapas que uma gestação proporciona. "Só que eu não tinha um companheiro. E, como meus pais eram separados, eu via essa história de criar filhos assim, e achava isso muito dolorido. É aí que surge a história da adoção na minha vida”.
Sem contar para ninguém, nem mesmo para os pais, Diná passou um ano inteiro estudando e pesquisando sobre o processo de adoção. Porém, o caminho era repleto de dúvidas.
Quando eu pensava na adoção eu chorava, porque eu sabia que se eu partisse para esse caminho, minha barriga não iria crescer, eu não iria amamentar e não teria as minhas características físicas. Você olhar e dizer ‘olha, como se parece, tem os olhos do pai’, isso é uma coisa prazerosa. Então se você não vai ter isso, você tem que trabalhar essa frustração. Era uma coisa muito forte, e eu sabia que era uma coisa que não tinha volta, era para sempre”.
Depois de um ano trabalhando as questões pessoais e buscando entender os próprios sentimentos, desejos e anseios, Diná deu entrada ao processo de adoção e passou a frequentar as reuniões. Foi nesse momento, ouvindo as dores de casais jovens que não podiam gerar filhos, que decidiu que adotaria uma criança mais velha. “Ouvindo os relatos, eu decidi que eu iria deixar o bebê para os casais”.
Iniciado o processo de adoção, Diná comunicou aos pais e aos amigos próximos que, em breve, uma criança chegaria para alegrar a casa. Porém, a novidade não passou longe de críticas e observações.
Tive amigos que falavam assim pra mim ‘você é louca, você vai colocar uma pessoa que você não conhece na sua casa’. Familiares também falavam assim ‘nossa, não tem nada a ver com você, que loucura é essa? Você tem uma vida tão livre, por que que você vai querer um empecilho? Para impedir você de viajar, de namorar, essas coisas todas”.
Decidida a viver a maternidade, nenhuma crítica ou opinião contrária foi capaz de ser maior que o desejo de Diná de encontrar Joice, mesmo que nessa época elas ainda não fizessem ideia de que mudariam a vida uma da outra. Cerca de um ano após dar entrada na papelada da adoção, Diná finalmente entrou na fila para adoção. Seis meses depois, Joice chegou.
Diná estava na casa da amiga quando a equipe de ação da Justiça ligou para avisar que havia uma criança que se encaixava com as características exigidas (de dois a quatro anos). Ela não iria conhecer Joice ainda, mas já era o primeiro passo. “Eu lembro que chorei muito, fiquei muito emocionada”.
No dia em que ela foi até o Fórum conhecer a história da criança, novas questões passaram a rondar os pensamentos da futura mãe.
Quando eu saí de lá, eu falei assim ‘ai meu deus, todo mundo vai bater o olho e vai saber que ela não é minha filha’. Graças a Deus, quando cheguei em casa, me veio na cabeça, a quem que eu queria enganar com essa história de que ela não saiu de dentro de mim? Eu nunca iria esconder isso dela e de ninguém”.
A lembrança da primeira vez que viu a Joice ainda é vívida na memória de Diná. Joice era a criança mais difícil de se ganhar a confiança. Não interagia, não deixava pegar no colo e ficava isolada no canto.
A confiança entre as duas foi se construindo aos poucos. Diná ia várias vezes ao abrigo, levava Joice pra passear, até o dia que autorizaram levar pra casa. Sem experiência alguma, revisita uma memória engraçada, sobre a primeira noite que passaram juntas. “Ela começou a chorar, porque ela queria voltar pro abrigo. Daí eu lembro que nesse dia eu falei assim 'não, eu não posso, não posso abrir [a porta]', ela perguntou: 'porque o bicho papão tá lá fora?’, e eu falei 'por isso mesmo’”.
Isso não me fez desistir dela, eu acho que as coisas melhores da vida são as mais difíceis, elas tem um sabor todo especial. Não é amor à primeira vista. Existem histórias que as pessoas falam que bateu o olho e já amaram. Comigo não foi assim, a gente foi construindo ao longo da nossa vivência esse amor”.
Cinco anos após a adoção se concretizar, Joice sofreu um acidente e foi parar na Santa Casa, onde passou 12 dias internada e passou por cirurgia. Diná relembra, emocionada, que a filha olhou em seus olhos e disse “mãe, agora eu sei que você nunca vai me abandonar”. Diná nunca escondeu nada da filha e sempre prezou por uma relação aberta e clara, que foi fundamental para construir a relação e confiança entre as duas.
Hoje, cerca de 17 anos após a escolha que mudou sua vida, Diná reflete que a adoção parte muito mais de atender um desejo pessoal da mãe que pretende adotar, do que da criança que está na sala para adoção.“Foi muito legal também eu já ser madura. Talvez se eu tivesse uns 20 e poucos anos, eu não teria esse entendimento do que é você ter uma criança. Foi uma maternidade muito bem planejada, inclusive financeira. Quando pensei que queria ser mãe, comecei a me organizar em todos os aspectos”.
No último feriado, Diná viajou, e quando retornou para casa, foi recebida pela filha, ansiosa para mostrar um trabalho da faculdade para ela. Hoje, cursa publicidade e propaganda na UCDB (Universidade Católica Dom Bosco).
“Ela ia me explicando, aí eu olhando as mãozinhas dela, estava pensando assim ‘será que a Joice tem noção do quanto que eu amo ela?’. Eu acho que ela não tem. A gente só tem noção disso quando a gente se torna mãe. Você é capaz de dar a sua vida pelo seu filho. Eu pela Joice, enfrentaria qualquer coisa por ela. E tudo que eu mais quero pra ela é que ela seja feliz, pra mim isso é o principal”. Ao terminar de contar a história, Joice apenas abraçou a mãe e respondeu “é claro que eu sei”, quando questionada se ela fazia noção do quanto a mãe a amava.
Diná garante que nunca passou pela sua cabeça qualquer sentimento de arrependimento. E se restam dúvidas, basta olhar para mãe e filha juntas e sentir no olhar das duas todo o amor, carinho e afeto que elas construíram uma pela outra nos últimos anos.