Nas mãos dos enfermeiros, agulha é "arma" que emociona a cada dose
Eles nunca foram tão filmados e fotografados quanto agora, seja por desconfiança ou alegria pela vacina
Vivendo um momento histórico, Silvio e Larissa são os "anjos" da vacina que têm se emocionado ao ver o público chorar quando chega a vez de ser imunizado. Com agulha na mão, eles já vacinaram centenas de pessoas que passaram pelo drive do Parque Ayrton Senna, na Capital.
Silvio José Pereira Alves tem 50 anos de vida, é técnico de Enfermagem e atua na área de saúde desde a década de 1990. Especificamente no município, está desde 2008, quando assumiu um concurso.
Técnico de enfermagem no Caps 3 do Aero Rancho, Silvio tem feito plantões eventuais na vacina da covid. Doença que ele inclusive chegou a contrair em junho do ano passado, mas com sintomas leves, permaneceu sob cuidados em casa mesmo.
Ao assumir a postura de "vacinador", Silvio conta o que compartilha durante um breve, mas tão significativo, momento da vida das pessoas.
"Vejo uma população extremamente emocionada e também extremamente desconfiada. Alguns choram e se alegram, porque veem esperança de retomar as atividades normais, a vida normal, e algumas estão agressivas, querem comparar doses de vacina, querem tudo minucioso, por desconfiança mesmo desses vídeos que estão rolando", conta.
Nesse domingo (18), Silvio diz que nunca viu uma demanda tão grande no drive, foram pelo menos 110 pessoas vacinadas por ele. "Doía a garganta, não conseguia falar depois de falar com tanta gente ao mesmo tempo", diz.
Entre as histórias, Silvio descreve que já se emocionou ao ver a gratidão de quem oferece o braço para a agulhada. "As pessoas estão aliviadas por estarem sendo vacinadas e me emociona vê-las assim, com esperança de vida", comenta.
Quando são velhinhos então, como foi domingo no caso da repescagem, o técnico diz que lado a lado com a emoção também está a animação.
Foto e vídeo – De todas as pessoas vacinadas nesse domingo, Silvio calcula que só em torno de 10 não estavam com os celulares a postos para documentar o momento. "As pessoas querem gravar, a família pede pra filmar, é como um recado: 'chegou a minha vez'. Eu nunca tinha sido tão fotografado e filmado assim, até procuro me proteger ao máximo para não sair meu rosto", revela. Isso porque, segundo o técnico, o importante ali não é ele. "O milagre é a vacina, não sou eu, eu sou o vacinador só", explica.
Por trás de um celular ligado tem o sorriso de quem será imunizado e também de toda uma família. "As pessoas querem compartilhar esse momento com quem ainda não se vacinou dizendo que 'você também vai conseguir'. Vejo que também serve para sensibilizar quem está endurecido e não quer aceitar a vacina, percebo tudo isso", reflete.
Quanto aos vídeos que têm circulado nas redes sociais, de profissionais que fingem ou não fazem a vacinação por distração, Silvio frisa que apesar de uma rotina tão árdua como a de técnico de enfermagem, isso é inadmissível. "A população vê dê dessa forma, na nossa profissão, errar é inadmissível", frisa.
Ansioso como a população, Silvio também não vê a hora da vacinação chegar para todos, de forma que não precise separar por idades e grupos prioritários. "A hora que tiver a vacinação em massa, vou ficar mais feliz. Acredito que nós vamos ter uma esperança maior de ter nossa vida de volta no sentido de ir e vir, de frequentar lugares que nos trazem felicidade, de estar com as famílias novamente, de poder abraçar. E também ter a certeza de que esse período crítico já tenha passado, espera.
Paranaense de nascença, mas criada no Maranhão, Larissa Alana dos Santos Camargo carrega um sotaque que lembra a praia. Aos 22 anos, a enfermeira residente do Programa de Saúde da Família está desde março na escala da vacina, período em que tem chorado junto com quem vai ser imunizado.
"A emoção de estar tomando a vacina, recebendo a imunização contra esse vírus que está matando tanta gente, as pessoas agradecem muito e falam que somos 'anjos'", narra.
Filmada e fotografada o tempo todo, são cerca de 10 minutos - quando o cadastro ainda não está feito - que Larissa fica com o paciente. "Eles perguntam o nosso nome, tiram selfie. Vejo as pessoas bem mais esperançosas depois que recebem a dose, parece que enxergam a luz no fim do túnel", diz.
Quando é segunda dose então, a felicidade é maior ainda. "Eles brincam que agora estão livres. É uma coisa bem bonita de se ver", compartilha.
A enfermeira também tem como sonho ver a vacina chegar para grande parte da população e assim diminuir as internações pela covid. "O que eu mais espero é ter aquela parcela de segurança vacinada e que UTI's e hospitais já estejam com número bem baixo de internações", comenta.
Protagonista num momento histórico, Larissa fala que nunca imaginou que trabalharia em uma pandemia nem que estaria por trás da imunização de centenas de pessoas.
Agora vejo a importância da minha profissão, neste momento de pandemia, vejo que as pessoas estão valorizando e enxergando a enfermagem. Nunca imaginei estar em um drive de vacinação, isso vai me marcar e no futuro eu vou poder dizer que eu estava na linha de frente da vacinação da covid-19".
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