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Comportamento

Nem transplante fez Nadir deixar amor por trabalhar pelo Pantanal

“Faço parte do Pantanal porque respiro tudo isso”, resume o guia que nasceu na beira do Rio Miranda

Por Aletheya Alves | 30/08/2024 06:25
Nadir conta que cresceu na comunidade do Salobra e quis construir vida ali. (Foto: Arquivo pessoal)
Nadir conta que cresceu na comunidade do Salobra e quis construir vida ali. (Foto: Arquivo pessoal)

“Eu costumo dizer para as pessoas que faço parte do Pantanal porque eu respiro tudo isso”, introduz o guia Nadir Silva. Como ele diz, nasceu na beira do Rio Miranda e, até quando três anos se transformaram em uma luta pela saúde, seguiu entendendo que não abandonaria o gosto por trabalhar e defender o lugar que sempre foi seu lar.

Hoje, Nadir já conseguiu voltar a compartilhar as histórias que cresceu ouvindo para os turistas que decidem conhecer a comunidade do Salobra. Mas, durante três anos, o cotidiano era composto por hemodiálises e espera por um transplante de rins.

Nesse período, grande parte daquilo que ele considera sua vida foi tirado de si. E é sobre essa importância que ele conta e que fez questão de continuar pensando que voltaria a dar destaque na rotina.

“Sempre vivi aqui, nasci, cresci e tive oportunidade de estudar na Fundação Bradesco, que é um internato. Fiz até o Ensino Médio lá, foram quatro anos de magistério, mas quis retornar para cá porque se eu tivesse que crescer seria aqui e, crescendo aqui, ajudaria as outras pessoas também ", descreve o guia.

Após trabalhar como piloteiro e pescador profissional, ideia foi migrar para o turismo ecológico. (Foto: Arquivo pessoal)
Após trabalhar como piloteiro e pescador profissional, ideia foi migrar para o turismo ecológico. (Foto: Arquivo pessoal)
Hoje, Nadir defende que é necessário focar na sustentabilidade do Pantanal. (Foto: Arquivo pessoal)
Hoje, Nadir defende que é necessário focar na sustentabilidade do Pantanal. (Foto: Arquivo pessoal)

Desde o seu retorno para a comunidade, trabalhou com um pouco de tudo, mas sempre vinculado ao rio. Por um tempo, foi agente comunitário, mas a maior parte da vida atuou como piloteiro de barcos para turistas e pescador profissional.

Mas, percebendo que o trabalho estava ajudando a destruir o que ele sempre entendeu como lar, precisou mudar.

“Eu trabalhava como piloteiro e nessa profissão você passa o dia todo com o turista no barco. O cara vai bebendo, fica com conversas que não fazem sentido para o nosso meio e você é obrigado a passar o dia inteiro. Esse mesmo cara, ele vem aqui, come peixe, mata e leva embora porque ele está pagando, tem dinheiro e isso começou a me incomodar. A tendência de toda destruição é acabar, então da mesma forma que estava acontecendo com os peixes, estava acontecendo também com jacaré”, pontua Nadir.

Na prática, ele acrescenta que o turista ia até a comunidade para encomendar peixes e carne de jacaré, por exemplo, com os moradores nativos “E o morador estava destruindo a casa dele para satisfazer outras pessoas”.

Incomodado com esse processo e acostumado a dizer que a comunidade, o rio e o Pantanal fazem parte de si, o então piloteiro viu que não queria mais manter a profissão.

“Percebi que alguém tinha que se levantar na comunidade para mudar essa ideia, para mostrar que existe outra alternativa de trabalho e preservar o lugar. Nós podemos ganhar dinheiro e cuidar do lugar em que vivemos, então eu decidi que não queria mais ser piloteiro, não queria mais ser um pescador predador” comenta.

Foi aí que decidiu se tornar um guia específico para quem quer fazer turismo ecológico. “Existem pessoas que só tiram benefício disso tudo (do Pantanal). Mas hoje eu trabalho com turismo ecológico e minha maior gratificação é poder apresentar o que nós temos de melhor para as outras pessoas”.

A partir das suas vivências e histórias que sempre ouviu, Nadir criou um jeito próprio de compartilhar a região da comunidade. Tudo isso reforçando que a destruição não é uma escolha possível.

Outro ponto de mudança na vida foi o transplante, que foi realizado há um ano. “Faz quatro anos que comecei o tratamento. Fiquei por três anos em hemodiálise e isso foi me tirado um pouco tudo isso (da vida com o Rio Miranda), mas consegui o transplante e voltei para a minha vida”.

Agora, já integrado à rotina do Rio Miranda novamente há um ano, ele completa dizendo que essa sempre foi e vai continuar sendo sua vida.

“Para mim, o Pantanal é a minha casa. Os animais são parte do meu quintal e eu costumo dizer para as pessoas que faço parte do Pantanal porque eu respiro tudo isso”, completa.

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