Neta nasceu e aqueceu coração de um avô que perdeu o grande amor
O último sonho de Mariano era ser avô e sua netinha nasceu seis meses antes de sua partida
Marcada por uma trajetória familiar cheia de desafios, perdas e resiliência, a advogada Oriana Lima, de 38 anos, encontrou no nascimento de Lara uma forma de manter vivo o legado de seus pais, por meio da filha.
O nascimento da menina, hoje com quatro anos, foi um dos últimos desejos que Oriana pôde realizar para o pai, Mariano, que sonhava em ser avô, especialmente após a trágica e repentina perda de Vera Lúcia, mãe de Oriana e esposa de Mariano.
Oriana relata que sua mãe, Vera Lúcia, era a segunda filha mais velha de sete irmãos e “uma mulher à frente de seu tempo, cheia de sonhos, mas com poucos recursos”. Durante muitos anos, Vera cuidou dos irmãos e da própria mãe, até decidir formar uma família ao lado de Mariano.
Após um ano de casamento, Vera engravidou de Oriana. Apesar de a gravidez não ter sido considerada de risco, quando estava prestes a completar o oitavo mês de gestação, Vera sofreu um derrame e ficou completamente paralisada. Oriana permaneceu oito dias no ventre da mãe após o derrame e nasceu prematura. Como sequela do derrame, Vera ficou tetraplégica.
“A história que me contam é que meu pai precisou escolher entre mim e ela. Em um estalar de dedos, uma mulher cheia de vida ficou acamada, com um bebê prematuro. Meu pai já havia perdido um filho antes de se casar com minha mãe, e essa perda o afetou profundamente. Quando eu nasci e tive complicações, ele achou que também me perderia”, relata Oriana.
Apesar das limitações, Oriana conta que a mãe era uma mulher muito ativa e culta, que fazia questão de realizar tarefas cotidianas, como escrever, fazer ligações e estudar. Tudo isso com a filha sempre por perto, auxiliando nos cuidados do dia a dia.
“Bem pequena, eu já sabia fazer curativos e colocar sonda. Nós somos uma família muito unida. Meus tios e primos estavam sempre conosco e ajudaram muito na minha criação. Minha avó materna, junto com meu pai, assumiu a minha criação enquanto ela se recuperava”, detalha.
Infelizmente, aos 21 anos, Oriana perdeu a mãe, vítima de um câncer de pâncreas. O falecimento abalou profundamente toda a família, especialmente Mariano, que era apaixonado pela esposa.
Dois anos após essa fatalidade, Mariano também sofreu um derrame, ficando hemiplégico. Com a partida de Vera e a nova condição de saúde do pai, mesmo carregando o trauma da gravidez, Oriana começou a sentir um forte desejo de ser mãe. A vontade também foi impulsionada pelo sonho de Mariano de ser avô e de ver, ainda em vida, sua neta nascer.
“Ficamos só nós dois, e ele tinha o sonho de ser avô. Sempre dizia que não queria morrer antes de ver sua neta. Com certeza, a partida dela fez com que eu desejasse ter um filho para perpetuar o seu legado”, completa Oriana.
Quando a advogada começou a tentar engravidar, recebeu o diagnóstico de que não poderia gestar de forma natural. A solução foi tentar a fertilização in vitro e contar com todo o apoio da família para passar pelo processo “longo e doloroso” do tratamento, que resultou na gravidez de Lara.
“Lembro como se fosse hoje, eu fiz o teste e deu positivo. Fui correndo contar para o meu pai. Ele, um senhor militar, que quase não chorava, desabou. Ao sair da maternidade, não fui nem para casa, fui direto para casa dele, uma imagem que não sai da minha cabeça: ele com duas máscaras, cabelinho molhado, todo tímido esperando para pegar a neta. Foi esse momento que fez eu pensar que tudo valeu a pena”, relata Oriana.
A gestação ocorreu durante a pandemia, e apenas seis meses após o nascimento de Lara, Mariano faleceu por covid. Hoje, quatro anos após sofrer outra perda importante, Oriana reflete que ter Lara na família é uma “benção”, principalmente porque ela significa a perpetuação do legado dos pais.
"Eu quase nunca paro para pensar em tudo que passei. Ter perdido minha mãe de forma tão repentina para o câncer, e depois perder meu pai para o covid, com uma bebê de 6 meses. Hoje “órfã”, mas vendo a Lara crescer com toda essa bagagem familiar, tenho orgulho. Não mudaria uma vírgula da minha história. Eu ressignifiquei um trauma, através da minha benção, que é a minha filha Lara”, finaliza.
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