No bloco, foliões mostram que só o preconceito atrapalha o Carnaval
Bloco levanta bandeira da inclusão e mostra que deficiência não atrapalha na hora de curtir a folia
Música, fantasias e muita gente feliz curtindo a folia no Teatro do Horto Florestal. O bloco ‘Nada Sobre Nós Sem Nós’ ocupou o espaço com muita animação na noite de sexta-feira (09) mostrando que o Carnaval também se faz com inclusão.
O bloco é composto por pessoas com ou sem deficiência que, juntas, celebram a festa popular desde 2019. Presidente do Nada Sobre Nós Sem Nós, Damião Zacarias é o idealizador do bloco que surgiu a partir de uma conversa entre amigos no ISMAC (Instituto Sul-Mato-grossense para Cegos Florivaldo Vargas).
Ritmista e esportista, Zacarias é nascido em uma família de carnavalescos. Em Corumbá, o pai era músico e a mãe desfilava todos os anos como porta-bandeira de diferentes escolas. Ele cresceu sentindo a alegria do Carnaval em casa, por isso, criou o bloco para mostrar que a festa é um direito de todos.
A expectativa dele é que ano após ano o bloco ganhe reconhecimento na sociedade e a presença de novos foliões. “A intenção do bloco foi mostrar para nós mesmos e para sociedade que temos direito de ir, vir e de brincar de Carnaval. Eu fico feliz em ver eles atendendo nosso chamado e espero que venha cada vez mais gente, que fortaleça cada vez mais”, destaca.
Entre as atrações convidadas para animar o evento estava o DJ JK. João Pedro Ruiz, de 23 anos, teve a história contada no Lado B em 2023. Deficiente visual, ele mora em Porto Murtinho e roda o Estado como DJ há 10 anos.
Apesar da agenda cheia, ele fez questão de participar da festa já que vê a inclusão como algo essencial. “A minha carreira se volta para a inclusão da pessoa com deficiência e nos meios musicais eu estou incentivando isso. Estou com um projeto ‘Como você enxerga seu mundo?’ onde queremos trazer esse conceito”, afirma.
Na perspectiva dele, o Carnaval é uma festa sem distinções e que ninguém deve ficar de fora. Para ele, o bloco vem para levantar essa bandeira e abraçar todos os foliões independente de serem com ou sem deficiência.
“O Carnaval é uma festa muito diversificada, não tem distinção de cor, gênero, nem nada. A pessoa com deficiência precisa ser protagonista, mostrar que ela também pode sair para curtir e brincar. Esse é um bloco que quer ser visto pela sociedade”, comenta.
Sandra Andrade, de 65 anos, é uma das folionas que compartilham da ideia de inclusão que o bloco traz. Escritora e não deficiente, ela é voluntária no ISMAC há dez anos e esteve presente nas primeiras conversas sobre o bloco.
Para ela não há nada melhor do que pular Carnaval com a turma de amigos que a ensinaram muito na última década. “No ISMAC eu aprendi a olhar a vida, a enxergar melhor. Eu fico louca esperando para cair na farra com eles, é meu lugar no mundo estar com eles”, fala.
Ana Lucia, de 49 anos, escolheu a melhor fantasia para curtir o bloquinho no Horto Florestal. Esbanjando animação, ela fala que o Nada Sobre Nós Sem Nós vem para mostrar que a única coisa que atrapalha a folia é o preconceito.
“A vida inteira pulei Carnaval e o que gosto é que é um momento de alegria, uma festa para todos. Hoje estamos aqui no bloco para mostrar que a pessoa com deficiência dança, é alegre, ela contribui para sociedade. Não tem nada que nos atrapalhe, o pior obstáculo que temos é o preconceito”, reforça.
A Subsecretaria de Políticas Públicas para Pessoas com Deficiência, Telma Nantes, destaca que o Carnaval também é momento de dar atenção à acessibilidade, à inclusão e à igualdade.
“Isso é cidadania é sair e foliar como as demais pessoas. Eu gosto de curtir, apoiar e precisamos proporcionar esse momento às pessoas. Cultura é inclusão, Carnaval é inclusão e as pessoas com deficiência merecem ter essas possibilidades”, conclui.
Confira a galeria de imagens:
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