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Comportamento

No dia da Visibilidade Trans alegria é seguir vivo para celebrar a data

Veja a história de pessoas que lutam para ocupar espaços, serem respeitadas e sonham em constituir família

Jéssica Fernandes | 29/01/2023 07:10
Grupo de pessoas seguram cartazes relacionados a visibilidade trans. (Foto: Arquivo pessoal)
Grupo de pessoas seguram cartazes relacionados a visibilidade trans. (Foto: Arquivo pessoal)

Olhar para o lado e reconhecer no outro um pouco de si, encontrar um lugar de afeto e celebrar por continuar vivo no País com mais mortes de pessoas trans e travestis. O Dia Nacional da Visibilidade Trans, celebrado em 29 de janeiro, desperta um misto de emoções naqueles que lutam e sonham em ter um emprego digno, constituir família e andar na rua sem ser atravessado pelo olhar do preconceito.

Para marcar a data, o Lado B conversou com duas pessoas que relatam as próprias vivências e abordam temas relacionados à identidade de gênero, transfobia, visibilidade e sonhos.

Emy Mateus Tantos, de 23 anos, conhecida como Afroqueer, relata que desde criança esteve associada a tudo que leva o status de ‘feminino’. Na faculdade de Artes Cênicas descobriu que não precisava viver refém de rótulos que determinam e limitam o que é masculino ou não.

(À direita) Emy Mateus, produtora cultural em Campo Grande. (Foto: Arquivo pessoal)
(À direita) Emy Mateus, produtora cultural em Campo Grande. (Foto: Arquivo pessoal)

“Eu sempre fui muito ligada a esse universo feminino. Eu não entendia o que era, mas depois que entrei na universidade entendi que algumas coisas eram imposições sociais. [...] A identidade que construo é uma identidade latino-americana. Eu quero ter a minha transexualidade que é plural”, afirma.

Emy é travesti e se descobre na arte e na vida diariamente, seja através da dança ou em pesquisas relacionadas a gênero e sexualidade. A produtora cultural destaca que as pessoas têm o direito de não corresponderem a um sistema que, muitas vezes, oprime e impede os outros de serem quem querem ser.

Sobre quem é e desejar ser, a produtora cultural destaca que almeja ter a própria identidade reconhecida. “Essa identidade é uma constante movimentação, a transição não acaba, porque a gente tá se revendo o tempo todo. Quando a gente se revê, a gente pensa o que quer com nossas identidades. Eu sempre falo pras minhas amigas: ‘Eu não quero que minha beleza seja como mulher cis, travesti, mas que seja contemplada porque é minha”, relata.

Devido a opressão e preconceito, segundo ela, a solução é reivindicar espaços e direitos simples, como ter o pronome respeitado. “A gente vem de um movimento com muita luta”, pontua.

Quando a vida é cerceada de luta e pelo constante movimento em fazer a comunidade ser vista e ouvida como merece o que falta é tempo de sonhar. A travesti fala sobre essa implicação e que sonhar é um direito político.

“Às vezes a gente esquece de sonhar, temos desejo de construir família, ser relevante, ter trabalho digno. A gente vai pra esse momento de enfrentamento direto e esquece que tem a possibilidade de viver. A gente fica tanto nesse lugar de sobreviver que a gente não tem tempo de viver”, comenta.

Questionada sobre um dos sonhos que tem, Emy conta que deseja ter um lugar que ajude pessoas marginalizadas. “Meu sonho é construir uma grande casa com muita arte, ter uma instituição, com muitas pessoas aprendendo, estudando, se empoderando para elas alcançarem os sonhos dela”, explica.

Além de Emy, o corretor de imóveis, Kaique Da Silva, de 24 anos, também conversou com o Lado B. Natural de Barretos (SP), ele fala como foi fazer a transição de gênero numa cidade pequena.

“Por ter muitas pessoas de idade, quando comecei a minha transição passei por muita coisa. As pessoas não respeitavam meus pronomes, sofria transfobia nos lugares”, revela.

Há 1 ano e 2 meses quando começou a transição, o corretor recorda uma das primeiras situações onde foi alvo de transfobia. Na festa do Peão de Barretos, Kaique entrou na fila de revista masculina quando um segurança se recusou a fazer o serviço de revistar o jovem.

“O cara foi pra me revistar e começou a rir da minha cara, falou que eu tinha que passar na revista das mulheres. Foi uma das coisas mais pesadas que senti, porque além da transfobia as pessoas ficam debochando”, desabafa.

Recentemente, o corretor se mudou para Campo Grande onde diz ter sido acolhido. “É diferente lá de Barretos porque tem mais pessoas trans, então consegui me comunicar. A gente ter experiência com pessoas como nós, é se sentir mais acolhido”, afirma.

O acolhimento, segundo Kaique, também é essencial quando vem da família. “É muito importante ter esse acolhimento em casa. Na rua a gente passa muitas coisas”, frisa.

Bingo Trans -  Para celebrar o mês da Visibilidade Trans, Emy organiza um evento cujo valor será revertido em prol de artistas e pessoas que fazem parte da comunidade.

O Bingo Trans ocorre neste domingo (29), a partir das 17h, no Laricas Cultural. O evento terá performances, exibição de documentário e DJs. Estão previstos prêmios, como, liquidificador, tatuagem, piercing, maquiagem, procedimentos estéticos, unhas, tranças, corte de cabelo, maquiagem e sapatilhas.

A entrada é R$ 10 e o endereço é Rua Antônio Maria Coelho, 1.663, Centro.

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