No fiado de surpresa, descobrimos a fama do “Cauboy do Coco”
Há 16 anos, o "empresário do coco" conversa com as pessoas, faz amigos na rua e vende sucos e salgados como nenhum outro
Poderia ter sido com qualquer pessoa ou jornalista da cidade. Ou pior, nem ter virado história. Mas um gesto simples do 'Caubói do Coco', o de oferecer fiado à repórter do Lado B por estar sem dinheiro em espécie para pagar o vendedor, acabou neste texto. Em tempos de distanciamento social, o que menos se espera é receber do nada um ato de gentileza. E quando acontece nos pega de surpresa, sem saber o que fazer com sua chegada repentina. O dono do quiosque proporcionou isso e mais: uma bom relato da vida.
Seu nome é José Augusto Silva, mais conhecido como Caubói do Coco. Mesmo que naquele dia estivesse sem o chapéu e a bota de boiadeiro tão característicos, de segunda à sábado atende a freguesia que passa pela rua Maracaju, 1317 – isso há quase 16 anos. “Aqui era a varandinha da casa da minha mãe. Fechei a frente e transformei em quiosque. Estou há muito tempo, todo mundo me conhece”, explica, e assim vai cumprimentando e atendendo diversas pessoas no decorrer da conversa.
Uma delas o xará do seu Zé, o empresário José Augusto Rezek. “Já frequento aqui tem uns 7 anos. Reunimos vários amigos neste espaço aberto, sentamos ali naquela outra mesinha, tá vendo?, aponta. Segundo ele, ali ficam corretores de imóveis, desembargador aposentado e até coronel. "Ficamos batendo papo e até discutindo negócios. É nosso segundo escritório”, brinca o “primo”.
Os fortes de venda do quiosque são água de coco, pamonha e os salgados assados. Antes, ele até fazia o frapê de coco, com creme de leite, leite condensado… uma delícia. “Mas o pessoal foi ficando mais ‘fitness’, né? Agora eles só querem saber do suco mesmo, sem açúcar, sem nada”, afirma Caubói. Mais natural.
Zé foi criado em Sidrolândia mas veio para Campo Grande ainda na infância. Firme e forte, continua na Capital após as 106 internações na Santa Casa por conta de um câncer na bexiga. “Tive metástase nos ossos, e o médico até chegou a me desenganar, achando que eu não sobreviveria. Me mandou pra casa para morrer. Mas aqui estou, 99,9% bem”, brinca.
Com a ajuda da esposa Joselene – casamento que já dura 26 anos – o quiosque vai se mantendo de pé principalmente depois da recuperação de Zé Augusto, que ainda enfrenta sequelas da doença. “Sou eu quem fico mais tempo aqui cuidando da nossa vendinha. E os clientes são de muitos anos. Acho que quando a pessoa vê nossa sinceridade, ela volta mesmo”, comenta a companheira. E adiciona: “o comércio pode até ser pequeno e bem simples, mas nos dá muito fruto mesmo com a pandemia. A gente atende com bastante respeito”.
E também confiança, afinal o “devo, não nego, pago quando puder” do Lado B poderia ter sido apenas um atendimento em vão. Mas por aqui a gente nunca se esquece dos nossos personagens, muito menos que histórias eles poderão contar. Após o bate-papo entre jornalista e Caubói do Coco, paguei à ele R$ 8. “Toma aqui seu troco”, falou Zé enquanto me devolvia uma moedinha de R$ 1. Desconversei: “é seu, considere como um juro!”. E assim acertamos o “empréstimo”. Mas a gentileza... virou texto que vai durar um bom tempo ainda.
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