No José Abrão, sonho da merendeira que criou alunos no quintal é fazer 2 quartos
- "Oi, tia Janete", diz alguém da rua.
- "Oi, Cleitinho", responde com carinho a eterna merendeira.
Enquanto Janete Constantino está à vista da rua, o cumprimento chega de ex-alunos que passam na frente da casa mais conhecida do bairro. "Tia" da creche e merendeira da escola estadual do José Abrão, ela é sem dúvida pessoa querida na região. Além de deixar a criançada repetir merenda, Janete levava os pequenos para seu quintal no final do dia, até a hora dos pais poderem buscar. De 1985 a 2012, a tia serviu muito prato de comida para marmanjo que até hoje bate à porta dela para comer.
A casa de esquina é a única do bairro que mantém as mesmas características desde quando o conjunto habitacional foi entregue, mais de 30 anos atrás. E foi ali que ela criou os dois filhos, Joselaine e Josemir, e cria hoje a segunda leva: os adotivos João Vitor e João Pedro.
O espacinho se restringe a quatro peças: sala e quarto juntos, cozinha e banheiro. O "quarto" é ocupado por uma beliche, na qual o filho menor, de 13, dorme em cima e o maior, de 15 anos, divide a cama com a mãe.
"Meu sonho é construir dois quartos. Espaço tem, quer ver? Olha aqui", mostra dona Janete, hoje com 66 anos.
A área do quintal é grande e comporta muito bem um "puxadinho". À época em que ela lavava roupa para fora, construiu de madeira uma edícula para fazer de lavanderia. "E eu criei um monte de guri nesse pedacinho aqui", diz toda saudosa. Eram 10 e até 12 crianças que ela trazia da creche para casa. Como o horário de saída era 5h da tarde e muitos pais não conseguiam buscar os filhos, ela os levava para casa, dava comida e entregava as crianças prontas, lá pelas 7h da noite.
"Isso eu fazia na creche. Quando ela fechou para reformar, eu fiquei lá de guarda. Depois fiz concurso e fui para a escola", conta.
Tia Janete segura a risada para a câmera e diz que nunca foi tão boazinha assim com as crianças como hoje os adultos retribuem. O que deve ser apenas modéstia dela. Porque até gente para fazer as duas peças ela já conseguiu.
"Servente e mestre de obras nós temos disponível. Só vamos ajudar com a gasolina, era gente que morava aqui no bairro. É que a minha mãe é muito querida", fala a filha Joselaine Constantino, de 35 anos.
Janete nunca quis sair do bairro onde é tão conhecida e, pelas redes sociais, a família começou uma campanha para construir a "casa dos sonhos". O apelo nas redes é para o material que as pessoas tiverem sobrando em casa. Tinta, telha, tijolo, janela.
"Vamos buscar, não tem problema nenhum", diz Josemir Bispo, de 36 anos. No José Abrão, o analista de sistemas até hoje é conhecido pelo "filho da tia Janete".
O contato de Josemir é: 99223-8462.
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