O desafio diário da mulher que é mãe e cientista ao mesmo tempo
Única de MS eleita como membro afiliada da Academia Brasileira de Ciências, professora fala sobre os desafios
Quando se observa o número de mulheres que entram para a graduação e pós-graduação há um indicativo relevante, mas quando se olha o número de concursados e pesquisadores nos institutos, por exemplo, a contagem não reflete a porcentagem da formação de mulheres. Observando isso, é com orgulho que hoje a professora doutora Denise Brentan da Silva, comemora o título de única sul-mato-grossense eleita como membro afiliada da Academia Brasileira de Ciências.
Na esteira da nova conquista, a pesquisadora aproveita o espaço para falar sobre a importância do título como inspiração para meninas que vislumbram a ciência. Além disso, destaca os desafios de ser uma mulher na pesquisa e como encara a difícil tarefa da maternidade em meio à vida científica.
Formada em Farmácia pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e com pós-graduação na área de Química, hoje ela trabalha com análises químicas de substâncias presentes na natureza e busca de novos componentes que podem ser utilizados para tratar doenças. Além disso, tem vários projetos dentro da ecologia química.
Com um trabalho intenso, ela recebeu a nomeação com alegria e acredita que isso seja fundamental para o fortalecimento da ciência no Brasil. “Nessa pandemia ter sido indicada foi uma surpresa imensa, pois está sendo difícil esse momento, não só pela tristeza da alta transmissão e o número de mortes, mas também pela dificuldade que nós mulheres e mães estamos vivendo nesse momento de trabalho”, explica.
Denise ainda destaca a importância do reconhecimento das mulheres na ciência. “Nós somos fundamentais, existem vários artigos científicos que mostram que a diversidade em estudos faz com que haja resultados melhores no final. A mulher agrega muitas outras visões em trabalhos científicos e na pesquisa”, diz.
Maternidade da mulher cientista – Trilhar a maternidade e a ciência é um caminho difícil. “Porque a vida de uma cientista requer muito estudo e dedicação. A gente tem que ser muito disciplinada também, então isso ficou muito claro na pandemia, a gente tem muitos artigos sendo publicados que mostram a grande incidência de mulheres com alta taxa de estresse, de depressão, ansiedade durante a pandemia porque muitas estão em home office com filhos e isso ressalta a dificuldade”, comenta Denise.
Na visão dela, esse cenário reforça a importância de debater o tema e pensar em políticas públicas que possam auxiliar a maternidade. “Porque a maternidade é um processo natural da vida e nós não devemos ser penalizadas para isso, mas sim criar estratégias de apoio para que uma mãe cientista, por exemplo, passa manter sua carreira”.
Denise lembra que existem levantamentos em que cientistas escolhem não terem filhos para não impactar na carreira científica ou escolhem ter apenas um filho. “Acho muito cruel esse sistema de metas para mulheres no meio científico. Por isso, acredito que essa reflexão tem que ser muito profunda e ter mudanças estruturais para que a gente possa ter condições de competirmos por igual e ter um apoio na maternidade”, destaca.
Com isso, a nomeação deixa uma reflexão à Denise que também busca inspirar outras meninas e mulheres “A minha reflexão é para que nós mulheres possamos atuar e correr atrás dos nossos sonhos. A gente precisa continuar a luta para estarmos nos diversos segmentos. Mostrar mulheres cientistas para a comunidade é importante para estimular outras meninas”.
Já sobre ser membro da academia, Denise acredita que a presença de uma pesquisadora da universidade de Mato Grosso do Sul entre os membros será uma promissora oportunidade. “Todo esse trabalho que eu vou desenvolver na Academia Brasileira de Ciências sem dúvida nenhuma vai trazer grande visibilidade para nossa instituição, para a UFMS, para a pesquisa que a gente realiza aqui no estado, porque um dos pontos que a gente vai ter dentro da discussão da Academia é expor as nossas contribuições científicas, sempre pensando no que a gente pode avançar na ciência do país”.
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