Orivaldo 'entrou' em mundo sagrado aos 7 anos rodeado por preconceito
Militar aposentado conta que é o alabê mais velho de Mato Grosso do Sul
Rodeado de preconceito desde a infância, Orivaldo de Medeiros Carvalho, ainda jovem, se viu em mais um desafio. Aos 7 anos, além da cor da pele, ele teve que lutar contra a intolerância religiosa praticada por aqueles que desprezam pessoas que vivem o candomblé. A religião de matriz africana guiada por orixás é herança de família para ele, que afirma ser o ogã alabê de cabeça raspada mais velho de Mato Grosso do Sul.
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Orivaldo de Medeiros Carvalho, reconhecido como o ogã alabê de cabeça raspada mais velho de Mato Grosso do Sul, enfrenta preconceitos desde a infância, especialmente relacionados à sua religião, o candomblé, que é de origem africana. Apesar das dificuldades, ele se dedica a promover a aceitação e a compreensão de sua fé, unindo-se ao Movimento Negro de Anastácio e Aquidauana (Mona) para lutar pelos direitos da população negra. Orivaldo destaca a importância de desmistificar o candomblé, que é frequentemente mal interpretado como satanismo, e busca unir diversas religiões para fortalecer a luta contra o preconceito e a discriminação racial, enfatizando que a verdadeira essência do candomblé é a celebração e o respeito às suas tradições e orixás.
Para contextualizar, um ogã no candomblé é o responsável pelos toques rituais, alimentação, conservação e preservação dos instrumentos musicais sagrados. Na religião, a raspagem da cabeça é um ritual de iniciação que simboliza o recomeço da vida, o nascimento e o sacrifício do iniciado ao seu Orixá. O cabelo é visto como a parte do corpo que continua a crescer após a morte e representa força.
Corumbaense de nascença, mas residindo em Anastácio há 20 anos, o militar aposentado explica que a mãe era umbandista e que pegou amor por religião espíritas. Filho da nação Angola, ele pontua que o candomblé louva orixás que pertencem aos quatro elementos: água, fogo, ar e terra. Para ele, uma das coisas que diferencia a religião é a forma de louvar as entidades.
“Ser o ogã mais antigo do Estado é ter privilégios, eu comecei cedo e sempre vivi isso. Procurei me aprofundar em fundamentos. É importante na minha vida. Na minha família todos são espíritas. Minha religião não é brasileira, candomblé não é, é africano. Brasileiro é umbanda. Como era proibido aqui no país, trouxeram o candomblé e davam o nome para os orixás de santos católicos, para enganar o senhor do engenho e ele achar que os escravos estavam cultuando os santos”.
O preconceito, sentido desde que se entende por gente, já não afeta mais Orivaldo. Para ele, o cenário sempre existiu e vai continuar existindo. Como forma de seguir tentando melhorar a situação para os praticantes da religião e para o próprio povo negro, ele se uniu ao grupo Mona (Movimento Negro de Anastácio e Aquidauana).
Aliás, os integrantes começaram o ano com a fé renovada após lavarem escadas da igreja de Aquidauana e festejarem suas crenças às margens do Rio Aquidauana, em homenagem a Iemanjá. O ogã destaca que a rainha dos mares simboliza uma mãe, amada e respeitada por todos os filhos.
“Preconceito isso tem em qualquer lugar, isso vem desde que o mundo é mundo. A gente está quebrando essa hegemonia e mostrando aos leigos que não temos nada a ver com outro tipo de coisas espirituais que nos julgam. Acham que é satanismo, não é. Isso perdura até hoje, assim como preconceito com pessoas de cor”.
Orivaldo acrescenta que o grupo Mona conseguiu unir 40 casas de umbanda e candomblé presentes tanto em Anastácio quanto Aquidauana e que o sonho é conseguir unir todas as religiões ao movimento. ”É importante que as pessoas saibam que o movimento não é religião, é uma ONG que acopla tudo”. Ou seja, que luta pelos direitos do povo negro nas várias esferas da sociedade.
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