Os filhos precisam saber: Mãe não é sagrada, mãe é sobrecarregada
Quando a gente se torna mãe, aos olhos da sociedade, entramos num portal sagrado que, acredito eu, seguindo moldes cristãos, nos coloca como imaculadas. De uma hora para outra a mulher humana dá lugar à mãe, aquela que abdica de tudo pelos filhos.
Desde abrir mão do domínio do próprio corpo durante a gestação e amamentação até se anular quando o assunto não é maternidade, sendo praticamente uma santa que sofre calada em nome da prole. Em seu coração sempre cabe mais um e a supermulher dá conta de tudo, sorrindo, mas não muito, afinal não pode ser escandalosa ou espaçosa, pois trata-se de uma mãe de família.
Só que, analisando ao longo da história, não há nada de milagroso quando uma mulher acumula trabalho doméstico, materno e profissional remunerado, o nome disso é sobrecarga, fato que ficou evidente durante a pandemia.
A beatificação pela qual passamos nada mais é que um mecanismo para que todos fiquem na zona de conforto, menos nós. Já indaguei em outro texto e aqui repito: por que raios alguém tem que padecer se está no paraíso?
Eu te digo: porque é romântico, é bonito ver o sacrifício materno. Isso sim é ser mãe, dizem os que estão de fora e não fazem ideia do que é suportar tudo sem falar nada por receio do julgamento. Sim, porque se a mãe der um pio sobre sua exaustão ela não gosta dos filhos e já encara na lata um "teve filho para quê, então?".
E neste jogo social, sem perceber, a gente vai tentando se encaixar na fôrma da mãe perfeita, nos deixamos de lado, beirando a loucura em busca de atender expectativas alheias, almejando seguir a cartilha do impossível e enterrando cada vez mais quem um dia fomos. Pois hoje, minha cara leitora, eu te proponho ressurgir.
Se olhe com carinho, retome seus planos, seus sonhos, sua vida, sem medo de julgamentos, pois eles vão existir independentemente das suas escolhas. Lembre-se que a mulher que você é, foi quem construiu a mãe que seus filhos têm hoje, portanto orgulhe-se, liberte-se e seja feliz.
*Jéssica Benitez, jornalista e mãe do Caetano e da Maria Cecília, além de criadora do perfil Eu nem queria ser mãe