Paciente à médica: deficiência não impediu Monique de fazer Medicina
Diagnosticada com atrofia muscular espinhal tipo 2, ela não deixou a deficiência ser um fator de limitações
Diagnosticada ao nascer com atrofia muscular espinhal tipo 2, a estudante Monique Saad Adams, de 23 anos, não deixou a deficiência ser um fator de limitações em sua vida. Hoje, no último ano da faculdade de Medicina, mesmo diante de grandes desafios, mostra que é possível encontrar força e propósito, além de inspirar outros a lutarem por seus sonhos enquanto ela mesma sonha em deixar sua marca no mundo.
Desde os primeiros anos, a vida de Monique foi marcada por idas a hospitais e consultas médicas. Sempre do lado do paciente na cadeira, ela não imaginava que em seu futuro, se sentaria atrás da mesa, de jaleco e estetoscópio. Isso porque a escolha pela medicina não foi imediata, nem um sonho de infância.
Apesar de ter tido um avô, já falecido, que foi médico, ela explica que sua infância foi marcada por diversas visitas aos consultórios, então a profissão não lhe atraía tanto, porque temia ter que “reviver” toda essa experiência.
Ainda no ensino médio, ela pensava em cursar engenharia química, mas na época não tinha o curso superior nessa área em Campo Grande. Como ela não podia mudar de cidade para fazer faculdade, por conta de toda a estrutura e apoio da família e médicos que recebia, ela decidiu fazer um teste vocacional e escolher outra área para estudar.
Para sua surpresa, o resultado do teste deu medicina. A decisão de fazer o curso veio seis meses antes do vestibular, e Monique relata que foi um ano bastante intenso de estudos, para conseguir passar.
Na reta final da jornada acadêmica, a futura médica declara que a trajetória não foi fácil, e desde o primeiro ano, os desafios foram intensos, pois a cada semestre a pressão e a cobrança eram maiores. Por ter deficiência, precisava conciliar os estudos com as fisioterapias e os exames de rotina, e relata que chegou até a pensar que não daria conta de fazer tudo ao mesmo tempo.
“Não era uma opção abandonar o tratamento. Mas vivi um dia de cada vez, uma semana de cada vez, um semestre por vez, eu fui conseguindo conciliar tudo, e tudo foi se ajeitando. Parece que era pra ser mesmo, eu tinha muita insegurança, mas tudo foi dando certo’, conta Monique.
Na fase do internato, ela relata que teve experiência de atender em hospitais, postos de saúde, UPAs (unidades de pronto atendimento). Conforme as suas necessidades e limitações, com o tempo ela foi fazendo as adaptações necessárias para conseguir atender os pacientes de forma eficiente e eficaz.
“Eu fiz adaptação para martelo neurológico, fiz adaptação para estetoscópio, porque eu não tenho muita força muscular, então eu não consigo, por exemplo, erguer o braço em cima da cabeça, e eu sou cadeirante e sou mais baixa do que as outras pessoas por estar sentada, então eu fui adaptando para conseguir cumprir com tudo que eu tinha pra cumprir”, explica.
Empatia e propósito
A experiência de ser paciente ao longo de sua vida, deu a Monique uma perspectiva única sobre as angústias e inseguranças enfrentadas pelos pacientes. Por isso, ela vê a medicina como algo que vai muito além de apenas dar um diagnóstico e prescrever um remédio: trata-se também de ajudar a aliviar o sofrimento dos pacientes e oferecer apoio emocional.
“Antes eu tava do outro lado da mesa, a minha vida toda foi assim. E agora eu sou quase médica, então é muito interessante poder viver esse outro lado. E eu acho que esse é o diferencial que eu tenho. Porque eu fui uma paciente por muitos anos e ainda sou, então eu conheço muito bem as angústias que um paciente tem, como ele se sente, as inseguranças que ele tem. E por eu já ter vivido isso a minha vida toda, eu consigo suprir um pouco das necessidades que eles têm, e é gratificante poder ajudar eles”, comenta Monique.
Todos os desafios que ela encontrou no meio do caminho foram prontamente superados com o apoio da família. Monique conta que sempre soube que terminaria os estudos e faria um curso no ensino superior, pois sempre teve incentivo da mãe para concluir os estudos e conquistar sua própria autonomia, independente de qualquer limitação física.
“Uma coisa bem interessante é que meus pais me criaram de uma forma que eu nem lembrava que eu era cadeirante. Minha deficiência nunca foi um problema e eu tinha muito essa visão de que era uma coisa lógica, eu ia fazer faculdade, era uma coisa natural. Sem a criação e o apoio que meus pais me deram, eu nunca ia conseguir chegar onde eu estou”, relata.
Planos para o futuro
Monique ainda não está cem por cento certa de qual especialidade médica deseja seguir, mas confessa que cogita seguir na área de psiquiatria, uma área que gostou de cara, logo no início da faculdade. Em suas últimas férias, ela inclusive passou 40 dias em um hospital psiquiátrico fazendo estágio.
A futura médica expressa que a vida tem um recurso limitado, que é o tempo, então é necessário elaborar metas e objetivos de vida. Nesse caso, as metas dela são bem claras: ela deseja fazer a diferença na vida das pessoas, e encontrou uma maneira de fazer isso através da medicina. Ela sonha em abrir seu próprio consultório e se tornar uma profissional renomada, dedicando-se a ajudar quem precisa.
“Por isso que eu estudo muito, que eu me dedico bastante, e que eu faço terapia, para eu conseguir ser uma pessoa melhor a cada dia e, quem sabe, conseguir ajudar as pessoas”, finaliza.
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