Pagodeiro e gay, João é feliz com sonho de viver apenas de sua música
"'Poc' de nascença, pagodeiro por vocação" – é assim que João Rosa, irmão de um dos integrantes do Atitude 67, se descreve
“'Poc' de nascença, pagodeiro por vocação”. É assim que João Rosa se descreve em perfil de rede social. Irmão de Karan Cavallero, um dos integrantes do Atitude 67, o rapaz observava, respirava e ouvia música desde muito cedo, aos 6 anos de idade. "Os ensaios aconteciam na garagem de casa", relembra. Hoje, o músico tem um sonho feliz: viver profissionalmente da arte do "lêlêlê" – tocar um bom pagode.
"Não sei nem dizer o que me atrai no pagode, é aquela coisa que não tá no meu sangue, mas nasceu dentro de mim", reflete.
João aprendeu a tocar cavaquinhos aos 14 anos com a ajuda do sambista Luiz Café. O "mestre" – como ele o chama – multi-instrumentista, cantor e compositor do grupo Dom Brasileiro convidou para que integrasse o time de roda de samba.
"Entre meus 16-17 anos, fiquei o ano inteiro tendo a experiência de tocar profissionalmente na noite de Campo Grande, isso mesmo antes de eu ficar com uma pessoa do mesmo gênero que eu", comenta.
Na sequência, o jovem mudou-se para São Paulo estudar Ciências Sociais, e que hoje está formado pela USP (Universidade de São Paulo). Foi nessa época que ficou – como ele mesmo diz – "uns bons anos parado com a música", mas sem nunca largar ela de fato. Compunha dali, tocava com os amigos acolá e assim deixava rolar.
"Só no final do ano passado que voltei mais forte com o pagode, quando toquei na noite de São Paulo num projeto coletivo voltado à LGBTs no samba, uma roda aberta e inclusiva que acontecia uma vez por mês. Foi um dos pontapés para eu me reencontrar na música".
João está ingressado no mestrado de Sociologia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) mas, com a pandemia, as aulas foram paralisadas e ele resolveu voltar para perto da família em Campo Grande. Na quarentena, encontrou uma nova oportunidade.
"Foi aí que me deu o estalo de trabalhar meu nome e lutar realmente para viver da minha arte. Ser gay e pagodeiro é diferente porque só de fazer parte da comunidade LGBT já algo que 'foge aos padrões' sociais. Ao mesmo tempo que não tiro o pagode mim, a sexualidade também representa quem mais sou, é por causa dela que minha existência é marcada estruturalmente. É minha vida", assegura.
Nas redes sociais, se lançou "'poc' pagodeira" e pelo nome artístico de João Rosa no Instagram divulga seu trabalho no geral e canta músicas do universo LGBT em ritmo de pagode. Umas das últimas postagens, homenageou em vídeo canções regionais no gênero musical brasileiro.
"Unir os dois mundos do meu coração para mostrar que, no fim das contas, dá pra ser o que bem quiser, tanto gay quanto pagodeiro", considera.
Viver de música – "Não é fácil como acontece com muita gente, o mercado fonográfico é um grande funil. Mas o que mais sonho é viver fazendo o que mais gosto. Meu esforço de agora é justamente transformar isso em uma alternativa viável para minha sobrevivência. É difícil, mas é possível".
João não revelou por completo, mas adiantou que ainda vai ter muita música autoral e uma "grande novidade" que o público certamente pode aguardar para este ano.
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