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Comportamento

Pai também sofre quando filha nasce "direto para Deus”, desabafa João

Ele perdeu a Isabela antes do parto, mas mantém fé em Deus e ainda afirma ser pai de uma "princesa"

Jéssica Fernandes | 09/03/2022 08:51
Registro feito há três anos durante chá de revelação. (Foto: Arquivo pessoal)
Registro feito há três anos durante chá de revelação. (Foto: Arquivo pessoal)

Em 2018, João Paulo, de 37 anos, soube que seria pai e finalmente realizaria um dos maiores sonhos de vida. Depois de terminar um casamento e em razão da idade, ele tinha dúvidas se poderia experimentar a paternidade. Mas foi no retiro espiritual que diz que receber a confirmação do milagre mais esperado que estava a caminho.

Ao procurar o Lado B para compartilhar uma parte de tudo que vivenciou e continua vivenciado com a perda da filha, João comentou que a dor dos pais nunca era lembrada. “Muito se fala do sofrimento das mães, mas e dos pais? Pai que é pai sofre muito também”, desabafa.

Após quatro anos, ele relembra o momento que alterou a trajetória dele e o impacta até os dias atuais. “Um pregador disse que um homem estava em dúvida se poderia ser pai. Disse que a pessoa, eu, poderia confiar e acreditar. Tomei posse da palavra e dias depois, descobrimos a gravidez, foi só alegria”, afirma.

A partir da data, a animação tomou conta de João, que relata ter procurado formas de entender sobre a gravidez e alternativas para passar mais tempo com a filha. “Para entender o que estava acontecendo com a minha ex, passei a pesquisar e aprendi. Para ter mais tempo nos primeiros meses de vida dela, me tornei voluntário nas eleições”, diz.

Bonecos de menina e menino fizeram parte de decoração da festa. (Foto: Arquivo Pessoal)
Bonecos de menina e menino fizeram parte de decoração da festa. (Foto: Arquivo Pessoal)

Durante a gestação, ele acompanhava os exames de rotina e, pouco a pouco, organizava com a ex-companheira os preparativos para a chegada do bebê.

Antes de saberem o sexo da criança, ele e a mulher definiram dois possíveis nomes. No chá revelação, João soube que seria pai de uma menina, a Isabela. “Fiz questão de fazer o chá de revelação e participar dos chás de bebês. Junto com uns amigos, fizemos o chá de beber, que era um pacote de fraldas e uma caixinha de cervejas”, explica.

O dia em que tudo mudou - Um dia, a ex-mulher relatou um desconforto. “O médico disse que era normal, pois a bebê estava se posicionando para o parto”, fala. No dia 20 de fevereiro de 2019, ela teve um sangramento e precisou ser encaminhada para a Maternidade Cândido Mariano.

João com a blusa que ganhou durante chá de revelação. (Foto: Arquivo Pessoal)
João com a blusa que ganhou durante chá de revelação. (Foto: Arquivo Pessoal)

Emocionado, ele recorda a ocasião em que soube que a filha jamais conheceria o quarto e vestiria as roupas do enxoval. “Já eram 32 semanas e seis dias de gestação, reta final, quarto pronto, berço montado, um monte de fraldas e enxoval. Tudo mudou”, revela.

Durante o atendimento, nada de batimentos cardíacos do bebê, o que acendeu o sinal de alerta. Posteriormente, João recebeu a notícia que definiu o destino da pequena Isabela. “A médica que a atendeu não conseguiu ouvir os batimentos da minha princesa. Fomos encaminhados a ultrassom e lá o médico constatou (a morte)”, expõe.

Depois da notícia, o momento mais sensível ocorreu durante o parto da Isabela. João enfatiza que a situação não foi como sonhava, porém aceita a decisão divina. “Fiz questão de acompanhar o parto, pois tinha prometido à minha filhinha que iria acompanhar o seu nascimento. Não foi como eu queria que fosse, mas sim da forma de que Deus quis”, afirma.

Em casa, João guarda a boneca perto da biblía. (Foto: Arquivo Pessoal)
Em casa, João guarda a boneca perto da biblía. (Foto: Arquivo Pessoal)

No dia do enterro, os familiares e amigos cantaram uma canção para a criança. Essa lembrança, conforme João, é inesquecível. “No dia da despedida, eu mais consolei os presentes que ficaram muito emocionados. Foi lindo. Cantamos para ela, a carreguei em meus braços até o carro fúnebre e depois, até a sua morada terrestre”, conta.

Meses depois do falecimento da filha, João e a mulher decidiram terminar o relacionamento e cada um seguir o próprio caminho. Atualmente, ele relata sentir saudade constante da filha e, nos momentos mais difíceis, busca conforto em orações. “Me inspiro muito na história de Jó, que perdeu tudo, mas não a fé. Faço questão em dizer que sou pai de uma princesa e que Deus me honrou em fornecer um anjo a Ele”, fala.

Hoje em outro relacionamento, João segue a vida, porém guarda vestígios da passagem breve de Isabela pelo mundo. Em casa, ele guarda uma boneca, uma placa com o nome dela e outras recordações. “Ela nasceu direto para Deus”, conclui.

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