Pantaneiro de nascença e alma, seu Arlindo chora as chamas do fogo
Arlindo Diniz tem 83 anos de vida e de amor por Corumbá, sobre as chamas do fogo, escreveu uma carta "ao mundo".
Aos 83, no caminho para 84 anos, seu Arlindo Diniz tem muito a falar sobre o Pantanal. Filho da "terra", ele conta que além de nascer, também "deitou raízes" em Corumbá, com nove filhos. Quando as chamas do fogo atingiram a região, ele chorou num texto suplicando para que salvem seu Pantanal.
"Eu naveguei rio acima, rio abaixo. Ia para São Luís de Cáceres, entrava no Rio Cuiabá, que também deságua no Paraguai. Desci também até a Argentina e às vezes até as cidades próximas do Uruguai", descreve.
A viagem era longa e quando não estava conduzindo, seu Arlindo vivia da natureza. "Rio, animais pelas beiradas. Chegava em portos estrangeiros e ficava ali, admirando", recorda.
Para quem sempre se alimentou da natureza, das águas e tem o Pantanal correndo no sangue, vê na região de nascença vida ora ameaçada pelo fogo. O que justifica o texto escrito a mão por ele, no fim da matéria.
"Pra mim, tudo isso é vida. A gente acorda pela manhã e sente o perfume das flores pela beirada, vê os peixes emergindo, os pássaros voando. Sente aquele clima saudável que existe em poucas cidades. Aqui o ar é livre, corre livre. Sou um amante da natureza", poetiza.
Presidente do sindicato dos trabalhadores de transporte fluvial de Corumbá e Ladário, no passado, seu Arlindo já viveu muito tempo fora, mas nada que o faça escolher outro lugar que não seja o seu Pantanal.
"Daqui desta cidade de Corumbá, a gente olha com muita admiração. Por várias vezes saí da cidade, mas não me sinto bem em outros lugares pelo fato de que aqui você respira o ar puro. Não tem o oxigênio poluído da cidade grande".
Em todos os outros dias do ano, seu Arlindo falaria do calor. Mas calhou de conversamos justamente no frio, tempo que ele não gosta não.
Seu Arlindo viveu mais nas águas do que em terra além de trabalhar exportando minério, também removia o gado em época de enchente, ou seja, conhece como ninguém as fases do Pantanal.
"Escrevi porque eu gosto muito do Pantanal, foi o local onde dei a minha vida, minha mocidade, meu melhor tempo. Tenho um amor pelo Pantanal", diz.
Com bronquite, asma e o avançar da idade, ele também quer falar por todos os que choram o Pantanal em chamas. "Fiquei num estado desesperado, daí a razão pela qual resolvi escrever este texto, no dia 25 de julho".
Pantanal, Patrimônio da Humanidade, Santuário Ecológico
Essa vasta planície verdejante que os historiadores chamam de Mar de Xaraés, local de rara beleza que fascina pela sua encantadora visão.
Esse quadro de deslumbramento é que atrai os turistas brasileiros e estrangeiros, essa maravilha da natureza é o orgulho do nosso estado.
Corumbá e Ladário tem o privilégio de tê-lo mais próximo e, por isso é chamado de Porta do Pantanal e apresenta cenário jamais visto em lugar algum, esplendoroso pela visão do rio Paraguai por sua fauna e sua flora exuberantes, mas, sobretudo pela pesca.
Essa reserva da natureza que faz as matas absorverem o gás carbônico e devolverem o oxigênio puro e saudável que aspiramos a longo hausto, faz da cidade de Corumbá um dos polos turísticos mais sonhado...uma inquestionável fonte de renda do município ( ou assim deveria ser). Movimenta o comércio, superlota os hotéis e também a navegação.
Corumbá não pode ser um polo industrial e seu desenvolvimento é circunstanciado pela sua necessidade de preservação da natureza.
Daí a razão do desemprego que sofre os filhos da terra, motivando a nossa luta em defesa do pantanal fustigado destruído pelo fogo, que na voragem crepitante pela ação do vento foge do controle dos que tentam apagar...
São inúmeros os focos de incêndios espalhados por toda parte, essa voragem arrasadora e destruidora tem como causa primária o empobrecimento do solo afetado pelo fogo abrasador.
Exterminam os animais pela lentidão dos seus passos, acabando com a farmácia dos índios.
E em local de águas paradas onde não há correnteza, os peixes morrem mais do que desovam, são cardumes imensos apodrecendo nas águas por falta do oxigênio respirável.
Os que ateiam fogo no pantanal não tem consciência da perversidade que cometem...
Essa nuvem fumacenta acompanhada de fuligem pela atmosfera fustigada pelo vento e espalhada por toda parte formando nuvem de fumaça poluída que causa males, quiçá, irreparáveis como ardidura nos olhos... Fica difícil respirar... Afeta os brônquios, acelera as rinites, asmas e outras doenças respiratórias.
Com a chegada da noite é pior pois a atmosfera baixa essa nuvem de fumaça reinante nas ruas que passa a invadir os lares deixando as pessoas asfixiadas.
Milhares de famílias tem sido vítimas desse efeito maligno que afugenta os turistas e causa déficit na economia, prejudica os empresários de embarcação e o comércio em geral, promove acima de tudo o já persistente desemprego.
Não basta só apagar o fogo, é preciso manter a vigilância, criar leis mais duras, punindo com severidade os autores dessa sanha destruidora que se repete todos os anos causando grande sofrimento à população de Corumbá, Ladário e adjacências.
Para trás com esse costume selvagem.
Solicitamos providências às autoridades constituídas das esferas municipal, estadual e federal, civil, militares e também aos amantes da natureza para que proteja essa dádiva da natureza que o Senhor nos deu como inexorável herança. Pantanal é VIDA e por isso não deve ser destruído. Que cesse a mortandade de todos os SERES.
- Arlindo Diniz.