Para não ver a rua sem crianças, Augusto inventou sorteio de pipa
Cansado de ver a turma brincando com celular, ele criou a brincadeira, que já conquistou um público fiel
No bairro Buriti, o sorteio de pipa na Conveniência Bigode causa expectativa e atrai um público de peso. Aos sábados e domingos, a garotada que é fã da brincadeira chega pontualmente para a disputa acirrada e cheia de emoção. Na hora de tentar pegar a pipa, os meninos, que têm entre 6 a 14 anos, mostram que é preciso ter estratégia e um pouco de sorte.
Quem realiza os sorteios semanais é o proprietário do estabelecimento, Augusto Notarangeli, de 31 anos. Ele relata que teve a ideia após perceber que a rua estava diferente. “O bairro estava muito parado, as crianças só ficavam no celular e eu resolvi pegar a pipa pra vender. Peguei linha, rabiola, pipa e a criançada começou a ver. Aí eu comecei a distribuir e sortear um pouco”, explica.
No local, além de vender, ele coloca no sorteio pipas com tamanhos e modelos variados. De 45 e 75 centímetros, o brinquedo traz desenhos no estilo corte e recorte, estampados e dos personagens Joker e Malvadão. Embora não seja com frequência, em ocasiões mais especiais, Augusto também sorteia as carretilhas.
Como os participantes apresentam idades diferentes, Augusto cria dinâmicas para que nenhum tenha mais vantagem que o outro. Ele cita algumas das regras estabelecidas. "Quando é um maiorzinho eu só deixo pegar uma vez, porque seria injusto né?! Porque olha a diferença de tamanho de um para outro", declara. As regras, conforme Augusto, garantem que eles não brigam entre si.
O Lado B acompanhou a disputa realizada na tarde de ontem (09). Por volta das 16h30, os primeiros meninos foram chegando e indo direto para a estante onde ficam as pipas. Os garotos vinham de diferentes direções, porém com o objetivo comum de levar o grande prêmio.
Às 16h40, entre as Ruas Jaime Costa e Girassol, cerca de 10 meninos se posicionaram para participar do sorteio. Augusto subiu na cadeira e lançou para cima a primeira, segunda, terceira, quarta e quinta pipa. Basicamente, aquele que colocava a mão primeiro era quem levava a melhor. Entre corridas, deslizes no asfalto, risadas e bastante determinação, a brincadeira durou menos de cinco minutos.
Um dos sortudos da tarde foi Miguel Sabine, de 7 anos, que levou duas pipas. Ao todo, o menino fala que já levou mais. “São 10 pipas”, conta. Questionado sobre qual é o segredo para levar tantas vezes o brinquedo, ele dá uma resposta inusitada. “É comprar”, diz. Apesar dele não falar qual é o truque, os amigos e participantes do sorteio garantem que tirar o chinelo ajuda a correr mais rápido.
O grande campeão da tarde foi João Emanuel, de 11 anos, que conseguiu pegar três pipas. Tímido, ele não quis saber de muita conversa e só falou que agora tinha cinco pipas. O pai dele, Gilson Ramires, de 35 anos, também solta pipa e até trabalhou numa fábrica do brinquedo.
Por ter passado a infância brincando na rua, Augusto planeja fazer mais ações para movimentar a rotina da criançada. Futuramente, ele quer organizar um campeonato de bulita entre as crianças. Através dos sorteios, ele diz que já conseguiu mudar um pouco a realidade dos meninos. "Melhorou 90%, porque se você andar por aqui você vai ver um muleque soltando pipa. Se você viesse antes não ia encontrar ninguém soltando", conclui.
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