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Comportamento

Para pais de MS, esperança de justiça sobre Boate Kiss vai se apagando

Com julgamento dos réus de volta à estaca zero, pai de vítima não acredita mais na justiça dos homens

Idaicy Solano | 06/09/2023 06:13
Jânea e o filho David, em momento eternizado em fotografias espalhadas pela casa; imagens mantem viva a lembrança do filho (Foto: Paulo Francis)
Jânea e o filho David, em momento eternizado em fotografias espalhadas pela casa; imagens mantem viva a lembrança do filho (Foto: Paulo Francis)

Uma década se passou após a tragédia que comoveu o país inteiro, matando 242 pessoas na Boate Kiss, e mais uma vez a família das vítimas é derrotada na luta por justiça, três delas de Mato Grosso do Sul. O STJ (Superior Tribunal de Justiça) confirmou a anulação do julgamento que condenou quatro réus pelo incêndio, e o processo volta à estaca zero. A maioria das vítimas era jovens, que tinham a vida inteira pela frente, e assim como o tempo passa, a esperança de algo que compense a dor fica cada vez mais apagada.

As fotos, livros, roupas e objetos pessoais ainda mantidos em um dos cômodos da casa do enfermeiro Eduardo Pena de Souza, 64 anos, e da esposa Jânea Santiago de Souza, 64 anos, representam pequenos fragmentos do tempo que nem mesmo a morte é capaz de apagar. Dez anos após a tragédia que ceifou a vida do filho mais novo do casal, David Santiago Souza, vítima do incêndio, no dia 27 de janeiro de 2013, a única esperança por justiça reside na fé.

O enfermeiro afirma que não restam mágoas, sentimento de revanchismo, ou desejo de fazer justiça pelas próprias mãos. O único sentimento que restou é a saudade e a lembrança da breve passagem de David em sua vida.

Enquanto eu estiver vivo, não vai terminar. É um filho que partiu antes de mim, não tem como esquecer. Para nós, a verdadeira justiça é a divina. Não vai ser a minha, não vai ser a dos homens”, diz pai de David.

Eduardo, pai de David, mantem boas recordações do filho e acredita que a justiça divina será feita (Foto: Paulo Francis)
Eduardo, pai de David, mantem boas recordações do filho e acredita que a justiça divina será feita (Foto: Paulo Francis)

Eduardo mora em Campo Grande com a esposa, e na época da tragédia, o filho era acadêmico de Odontologia na UFSM (Universidade Federal de Santa Maria). No dia do incidente, o jovem estava comemorando o aniversário de 22 anos com os amigos, na festa "Aglomerados", que acontecia na boate.

Segundo o enfermeiro, uma série de negligências levaram às circunstâncias da tragédia que resultou na morte do filho, que na época tinha apenas 22 anos. “Toda a omissão que envolve [a tragédia] não resulta só nessas quatro pessoas [que estão sendo julgadas]. Para mim, a justiça verdadeira seria se todos aqueles que foram culpados fossem condenados. O prefeito da cidade na época, a chefia do Corpo de Bombeiros, quem permitiu o funcionamento, deveriam todos responderem juntos”.

Mochila da faculdade e objetos da época em que era acadêmico da UFSM foram guardados por Eduardo e Jânea (Foto: Paulo Francis)
Mochila da faculdade e objetos da época em que era acadêmico da UFSM foram guardados por Eduardo e Jânea (Foto: Paulo Francis)

Não há um dia que se passe sem que Eduardo pondere sobre todo o potencial que o filho não teve a oportunidade de mostrar, tanto como pessoa quanto como futuro profissional, afinal, David se mudou para Santa Maria em busca de uma formação acadêmica.

Diversos objetos pessoais do rapaz foram guardados, até mesmo de sua breve passagem pela universidade. Hoje, eles são a recordação do jovem que, na perspectiva da família, tinha um futuro brilhante pela frente. “Não tem nenhum dia que a gente não chore por causa disso, que a gente não lembre como ele era, como pessoa, como filho, como irmão. Não tem um dia que a gente passe sem lembrar dele, sem fazer oração pra ele”.

Livros e objetos do filho são mantidos em cômodo da casa como sinal de qe David um dia esteve ali (Foto: Paulo Francis)
Livros e objetos do filho são mantidos em cômodo da casa como sinal de qe David um dia esteve ali (Foto: Paulo Francis)

A reportagem tentou contato por meio de telefone e mensagem com os parentes das jovens Ana Paula Rodrigues e Flávia de Carli Guimarães, as outras duas vítimas do incêndio que tinham família em Mato Grosso do Sul, porém não houve retorno.

Estaca Zero - Nesta terça-feira (5), o STJ anulou a condenação dos donos da boate, Elissandro Callegaro Spohr (o Kiko) e Mauro Londero Hoffmann, do músico Marcelo de Jesus dos Santos e do auxiliar de palco Luciano Bonilha Leão.

Após decisão, que contou com 4 votos favoráveis contra 1 em desfavor, o julgamento volta à estaca zero, e um novo júri será marcado e os indiciados seguem em liberdade. Desde janeiro de 2013, quando ocorreu a tragédia, nenhuma pessoa foi responsabilizada pela Justiça.

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