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Comportamento

Paralisia cerebral não parou Orlando, que virou escritor aos 66 anos

Com um livro lançado e outros dois para publicar, ele sonha em ver história de vida virar novela

Por Jéssica Fernandes | 16/01/2024 07:46
Escritor com paralisia cerebral, Orlando mostra rascunho dos livros no caderno. (Foto: Marcos Maluf)
Escritor com paralisia cerebral, Orlando mostra rascunho dos livros no caderno. (Foto: Marcos Maluf)

O diagnóstico de paralisia cerebral nos primeiros meses de vida definiram parte da trajetória de Orlando José Pereira, de 67 anos. Natural de Lins (SP), o enfermeiro aposentado não deixou que o diagnóstico o limitasse e ‘entre lutas e vitórias’ coleciona sonhos, como de lançar o segundo livro e andar sem auxílio do andador.

Em 2023, aos 66 anos, Orlando recorreu aos cadernos onde descobriu que tinha tempo e vontade para ser escritor. Em 90 dias, ele escreveu o primeiro livro que recebeu o nome de ‘Entre Lutas e Vitórias: O livro da minha vida”.

A obra lançada no ano passado por uma editora de São Paulo começa com a história da mãe dele Conceição Aparecida, recupera as primeiras lembranças de Orlando no hospital, AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente), a adolescência rebelde até a fase adulta onde trabalhou em um hospital de Marília (PR).

Primeira obra foi escrita em 90 dias e lançada em 2023. (Foto: Marcos Maluf)
Primeira obra foi escrita em 90 dias e lançada em 2023. (Foto: Marcos Maluf)

A história de Orlando é cumprida, mas ele buscou contar tudo nas 58 páginas do livro. Ao Lado B, o escritor retoma o mesmo processo, mas também fala sobre os grandes sonhos que tem e o quanto a deficiência não o limitou por mais que o mundo tenha tentado.

Ao falar sobre a recente carreira de escritor, ele cita o principal motivo que o fez começar a escrever. “Eu não vou poder mudar o mundo, mas eu queria provar que pessoas com deficiência tem condições de fazer coisas boas que nem eu que tenho paralisia cerebral”, diz.

Em 1955, Orlando nasceu e não demorou para que o pai o abandonasse aos cuidados da mãe. “Ele não aceitava ter um filho desse jeito, então ele abandonou. Ficou só eu e minha mãe”, resume. As complicações médicas, segundo Orlando, começaram cedo. “Minha mãe diz que eu já nasci com problema, que o cordão umbilical enrolado no meu pescoço e depois foi o que deu a paralisia”, afirma.

Livro tem registros da infância de Orlando na AACD. (Foto: Marcos Maluf)
Livro tem registros da infância de Orlando na AACD. (Foto: Marcos Maluf)

Hospital é a palavra que resume os primeiros anos da infância dele, que durante 1 ano ficou internado devido aos tratamentos. Demorou para que o enfermeiro aposentado conseguisse tratamento adequado e durante esse período a mãe não sabia mais o que fazer.

Através de um médico, a família conseguiu vaga na instituição que auxilia crianças com deficiência. Foi na AACD que Orlando diz ter crescido e aprendido a andar aos sete anos. “Minha mãe não achava vaga para me internar e aí apareceu o doutor Ulisses que deu oportunidade de que eu chegasse até a AACD. Fui operar na AACD da perna e do pé para poder começar a andar, mas foi difícil, não foi fácil, foi uma luta”, fala.

Com tanta ‘luta’, ele precisou aprender a se defender e não esconde que na infância era briguento, pois muitas crianças faziam piadas relacionadas à paralisia cerebral.

No caderno estão guardadas as histórias que ele quer publicar. (Foto: Marcos Maluf)
No caderno estão guardadas as histórias que ele quer publicar. (Foto: Marcos Maluf)

1º livro - Hoje, de certa forma, Orlando aprendeu a lutar através da força das palavras. Quando começou a escrever, o enfermeiro aposentado recebeu incentivo da esposa Jailita. “Eu escrevi o primeiro e depois que estava escrito minha esposa falou: ‘Continua’. Demorou muito tempo de novo para eu escrever, mas aí escrevi o ‘Entre Lutas e Vitórias’. Já tem outro que está escrito que é o volume dois”, explica.

No segundo livro, ele se aprofunda em questões relacionadas à paralisia cerebral e outras doenças. Para lançar o material, Orlando busca o apoio de alguma editora de Campo Grande. O livro está pronto, assim como um terceiro onde debate política e a questão do preconceito.

A publicação desses livros são alguns dos sonhos que o Orlando deseja realizar, assim como queria que o primeiro virasse uma novela. “Fora o sonho de mandar esse segundo livro para edição eu tenho o sonho de poder andar novamente sem o andador. É possível eu fazer isso”, destaca.

Aos 67 anos, Orlando tem vários sonhos que pretende realizar. (Foto: Marcos Maluf)
Aos 67 anos, Orlando tem vários sonhos que pretende realizar. (Foto: Marcos Maluf)

Quem tiver interesse em ajudar o escritor pode entrar em contato com o Lado B através do Direto das Ruas. (67) 99669-9563 (chame aqui).

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