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Comportamento

Pensar só no filho não funciona, mães ‘atípicas’ precisam de cuidados

Centro de apoio a autistas e mães foi criado na Capital com objetivo de tirar famílias do segundo plano

Por Aletheya Alves | 06/08/2024 06:44
Ketrin é uma das mães atendidas no Centro de apoio a autistas e mães. (Foto: Arquivo pessoal)
Ketrin é uma das mães atendidas no Centro de apoio a autistas e mães. (Foto: Arquivo pessoal)

“Você pode ter condições de um atendimento particular para seu filho, mas não vai ter o acolhimento para as mães”, resume a pedagoga Eliane dos Santos Silva. Há poucos meses, ela abraçou a ideia de integrar o Centro de apoio a autistas e mães em Campo Grande por saber que não adianta pensar só nos filhos, ainda mais quando se tem uma família atípica. Em suas palavras, é preciso apoiar e cuidar das mães e responsáveis tanto quanto das crianças.

Há cinco anos, Davi nasceu e aos 10 meses de idade alguns sinais começaram a ser percebidos por Eliane. Conforme a falta de contato visual, atraso de fala e movimentos repetitivos se tornaram mais frequentes, a pedagoga especializada em educação especial imaginou que o filho teria TEA (transtorno do espectro autista).

Após dez sessões com uma neuropsicóloga, o diagnóstico veio e, mesmo imaginando o diagnóstico, ela narra que seu mundo balançou. “Eu sabia, mas estava torcendo para receber uma resposta diferente”.

Davi, filho de Eliane, durante sessão de terapia. (Foto: Arquivo pessoal)
Davi, filho de Eliane, durante sessão de terapia. (Foto: Arquivo pessoal)

Destacando que ter uma rede de apoio faz toda diferença, Eliane explica que ser uma mãe atípica muda toda a rotina que é imaginada. Em seu caso, Davi foi um filho planejado e tudo precisou ser reestruturado.

Com a rotina de acompanhamentos médicos e mudanças no cotidiano, ela defende que a vida vai mostrando que não basta cuidar e focar apenas no tratamento dos filhos. E é aqui que entrou o Centro de apoio, fundado há alguns meses.

Reuniões já estão sendo realizadas no centro. (Foto: Divulgação)
Reuniões já estão sendo realizadas no centro. (Foto: Divulgação)

A ideia da criação do centro não foi de Eliane, mas ela se tornou vice-presidente da organização. “Você não vai ter um momento em que as mães vão conversar em uma clínica particular, dividir experiências, trocar choro, sorrisos e abraços, trocar aquele olhar com lágrima para cair. Esse espaço a gente não tem no particular e é o que já estamos tendo no Centro”.

Desde atendimento psicológico até rodas de conversa, tudo vem se encaixando na construção do Centro. “Mães de TEA precisam passar por psicólogo porque é uma carga pesada. Precisamos de acolhimento, de amparo. As mães precisam disso porque você olha para sua vida, para sua casa e sabe que isso nunca mais vai ser igual”, descreve.

Exemplificando, ela comenta que mães vivem em crise e não sabem como lidar mesmo quando têm uma rede de apoio familiar.

Confirmando o depoimento da pedagoga, Ketrin Carolina Martins de Araújo narra que desde o processo de luto após o diagnóstico até a caminhada em busca de ajuda, tudo é bastante complexo. Isso porque nem mesmo o atendimento completo para os filhos é de fácil acesso na saúde pública.

Tem um estudo que diz que pais de crianças com TEA se assimilam com um soldado em batalha porque é isso. A gente tem o psicológico muito abalado e mesmo assim precisamos nos erguer para a próxima luta, seja no médico, seja contra preconceito que sofremos, diz Ketrin.

Mãe de três, ela relata que Pyetro, de 7 anos, e Theo, de 5 anos, foram diagnosticados e cada laudo mostrou como ajuda não era algo supérfluo. “Eu entrei em uma fase de negação porque não queria acreditar. Já é difícil ter um diagnóstico, imagine dois”.

Em sua história, o que aliviou os dias foi aceitar e começar a procurar por auxílio. “Vem a fase boa e eu recebi ajuda com os meninos. Por um tempo, o pessoal do Juliano Varela ajudou com remédios, atendimento, mas não foi suficiente e desde que conheci a Janaína e a Eliane mudou muita coisa”, diz.

“Elas me acolhem como mãe e lá (no Centro), eu não me sinto diferente porque quem participa se preocupa com os mesmos problemas de integração na escola, de medo dos nossos filhos não conseguirem terapia”. No caso de Ketrin, a ajuda também veio com cestas básicas e apoio para transporte com as crianças. Mas, o diferencial é realmente um ambiente saudável para ela.

Centro de apoio a autistas e mães

Na presidência do Centro, a professora Janaina Gonçalves dos Santos explica que começou a ter contato com crianças do espectro autista logo quando passou a ministrar aulas de Arte. Mas, há três anos viu o número de alunos diagnosticados aumentar e ideias sobre desenvolver ações específicas começaram a tomar força.

Inicialmente, uma feira para integrar mães “atípicas” e “típicas” foi criada em sua garagem com objetivo de gerar renda e um espaço de convívio. Em conversas com colegas, amigos e conhecidos, novas ações passaram a ser projetadas até que tomaram forma do Centro como a melhor escolha.

“Depois de muita conversa, eu falei que queria que as mães tivessem informação, apoio e que isso se estendesse aos filhos. Em 30 dias, o sonho foi passando de pessoa para pessoa até conseguirmos apoio”, comenta a professora.

Hoje, o Centro ainda está em processo de desenvolvimento, mas ativo com atendimento às mães e alguns filhos. “Começamos com reuniões mensais e decidimos que primeiro vamos cuidar das mães para que elas consigam cuidar dos filhos. Conseguimos parcerias com otorrino, fono, psicólogo, assistente social, enfim, pessoas que podem oferecer o atendimento”.

Para participar, o atendimento é gratuito, mas as mães precisam se integrar e frequentar as reuniões. Dessa forma, conforme as vagas forem surgindo, os filhos também terão acesso aos tratamentos.

Quem se interessar pode entrar em contato pelo número (67) 67 99635-7070.

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