Petição quer impedir que Bolsonaro vire "visitante ilustre" em Campo Grande
Na onda das polêmicas, o vereador de Campo Grande Roberto Santos Durães (PSC), até pouco tempo integrante do Partido dos Trabalhadores (PT), decidiu apresentar uma proposta na Câmara para homenagear como visitante ilustre o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) e o presidente do partido, o pastor Everaldo. Ambos devem estar na cidade em maio.
Quase figura central dos noticiários durante a votação do impeachment, Jair Bolsonaro homenageou durante o seu voto o Coronel Ustra, chefe da unidade que foi palco de prisões e torturas de presos políticos, entre 1970 e 1974, época da ditadura no País. A lembrança trouxe à tona agressões promovidas por Ustra como introduzir ratos na vagina de presas políticas, inclusive, da presidente Dilma Roussef.
“É um ato político de respeito a uma pessoa do meu partido, como deram para a Dilma, Zé Dirceu, entre outros, porque eu não posso dar para o parceiro do meu partido, notoriamente uma pessoa pública. É uma questão de cortesia, de homenagear um migrande, uma autoridade constituída, companheiro de partido. Eu o visitei recentemente, saímos, ele me mostrou Brasília, sou genro de um colega de farda do pai dele, da época que serviu em Nioaque”, defende o vereador Durães.
Sobre as recentes declarações de Bolsonaro em homenagem a Ustra, o vereador vai além e se solidariza com o pensamento do deputado, seguindo o mesmo discurso. “Eu não me importo, ele fala há 18 anos o que ele quer falar, a opinião dele. Eu falo por mim e não por terceiros. O Ustra, era um Coronel, dentro das Forças Armadas, em uma época em que existia hierarquia, disciplina, sim senhor. Hoje o mundo civil não está acostumado com essas fraquezas de não ter disciplina. As pessoas defendem Fidel Castro e ele matou 2 mil pessoas. O lado de lá pode fazer tudo e o lado de cá não. Pode homenagem prostituta que encontrou Jesus e o Bolsonaro não”, acredita Durães, citando a homenagem da Câmara à ex-modelo e escritora, Andressa Urach.
Para o vereador, algumas pessoas não aguentam “gritinhos no ouvido”, em relação a tortura que possam ter sofrido durante a ditadura. “Houve excesso, claro, não é assim, eu apanhei, meu filho chorou na minha frente”, questiona.
Mesmo assim, Durães defende que seria capaz de homenagear também o maior desafeto de Bolsonaro, o deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ). “Nem sei falar o nome dele direito. Eu assinaria se um colega viesse com a proposta, não suporto ele, nem o trabalho dele, mas sigo com a idea de ordem, de estrutura política da Câmara”, diz.
Petição – Em contrapartida ao discurso polêmico do vereador de Campo Grande, o advogado Leandro de Moura, 34 anos, decidiu criar uma petição contra a homenagem a Bolsonaro. Por enquanto, há 81 assinaturas, sendo que a expectativa é arrecadar 1 mil. Depois, o documento será entregue na Câmara de Vereadores do município.
“Eu acho um absurdo, uma Câmara de Vereadores se prestar a um papel de homenagear alguém que tem todo esse histórico com o Bolsonaro, em vez de se preocupar com outras questões. Campo Grande está passando por inúmeros problemas de administração, está complicado, bairros abandonados, salários atrasados e de repente uma proposta descabida dessa”, afirma Leandro.
Para o advogado, o trabalho de Bolsonaro é criar polêmica e não apresentar propostas. “Ele tece críticas, até hoje não teve um projeto aprovado. Não vale a pena, não contribui para o País. Não vejo porque a Câmara homenagear esse deputado, a meu ver vão fazer igual a ele, não produzirão nada que realmente tenha valor”, diz.
Independente da polêmica, para o doutor em Ciências Sociais, e professor da UFMS, Thiago Duque, essa homenagem evidencia algo bem mais grave atualmente, é o reflexo do despreparo na Câmara Municipal. “Há vereadores que são intelectualmente muito fracos, são ineficientes no quesito intelectual e moral. Por isso, usam de qualquer discurso para ganhar visibilidade, para aparecer na mídia.”
Na avaliação do sociólogo, é um equívoco pensar que homenagem a pessoas como Bolsonaro seja algo pensando no bem comum. “Nada é coletivo, tudo é muito egoísta. É muito mais uma estratégica política”.
Ele lembra que não é só uma questão de gostar ou não do deputado, mas de estar bem informado. A OAB do Rio de Janeiro já ingressou, inclusive, com um pedido de cassação do mandato e de abertura de processo penal contra o deputado federal por conta da homenagem ao torturador Ustra.
Por tudo isso, Thiago Duque acha que tal assunto nem deveria ser polêmica, porque é criminoso. “Não dá para defender perfis autoritários, fascista, ilegais. Eles afrontam a racionalidade e história democrática.”
Quem quiser assinar a petição pode entrar nesse link.