Pilotando aos 6 anos cheia de coragem, Helena ganhou o “1º carro”
Paixão da mãe por automobilismo e liberdade para escolher esporte levaram Helena até o mundo do kart
Livre para escolher o esporte que quisesse, Helena se apaixonou por pisar fundo e entender sobre cada detalhe do kart que pilota. É assim que, aos 6 anos, ganhou o 1º “carro” e começou a entender que ser uma das poucas meninas no automobilismo também requer coragem.
Foi mais de um mês com a família mobilizada para garantir a festa com entrega surpresa para Helena no último dia 22. Mas, desde o ano passado, quem convive com a menina só sabe sentir o orgulho crescer cada vez mais.
É assim, com esse sentimento, que as palavras da cirurgiã-dentista, Caroline Moreira Calves, descrevem a filha. “Helena é uma criança destemida, ela ama acelerar, não tem dó de pisar fundo e a cada semana diminui ainda mais o tempo de uma volta no circuito. Ela já fala que quer ser pilota quando crescer”.
Apesar de ser apaixonada por automobilismo, Caroline conta que a família não tinha condições de investir no esporte quando ela era criança e tampouco havia espaços acessíveis em Campo Grande que pudessem oferecer as práticas. Agora, com a escolha da filha, é que a participação da família deixou de ser algo distante.
Para motivar ainda mais a menina, a mobilização para estruturar o sonho veio como uma surpresa de aniversário. Deixando a desejar em relação a esportes tradicionais como futebol e natação, os equipamentos precisaram ser trazidos de fora do estado.
“Todos os equipamentos que a família se uniu para comprar para ela vieram de fora do Estado e pedimos tudo pela internet. Não tem aqui na cidade nenhuma loja especializada ou que ofereça os equipamentos necessários. O kart conseguimos comprar aqui mesmo por intermédio do treinador dela, que conhecia um rapaz que estava vendendo porque o filho não se adaptou ao esporte”, diz a mãe.
E, com tudo preparado, a reação de Helena foi cheia de alegria. “Helena é uma criança muito expressiva e na hora que ela viu todo mundo reunido e empurrando o kart, ficou super emocionada e, mais ainda, porque todos estavam ali para assistir um treino dela. Quando ela chegou, foi um choro geral por parte da família, todos estavam na expectativa para tudo dar certo nesse dia. Ficamos mais de um mês organizando tudo, mantendo surpresa e principalmente esperando pela reação dela”.
Mas, antes de chegar o momento do presentão aos 6 anos, Helena pôde escolher, como uma criança, se queria brincar e aprender sobre esse mundo. Na mente de Carolina, a ideia era encontrar um esporte que a filha se identificasse e, pensando sobre as possibilidades, viu o kart.
Com isso em mente, no ano passado, a família fez uma viagem até Blumenau para que ela tivesse o primeiro contato. “A prioridade sempre foi que a Helena fizesse algo que ela realmente gostasse, tanto é que quando fomos para Blumenau conversamos muito e eu expliquei que se ela não gostasse estava tudo bem, nós nem precisaríamos voltar no segundo dia e que poderíamos ir no Beto Carrero brincar”.
O curso era específico para esse contato inicial com crianças e durou dois dias. “Era um curso aberto apenas para 12 crianças e além de ser a única menina da turma, nós éramos as únicas de fora da região sul”, explica a mãe.
Além de se desafiar a começar algo novo, a menina também sentiu pela primeira vez a barreira de espaços que são majoritariamente ocupados pelo público masculino.
“No curso, quando ela viu que era a única menina, foi um choque de desconforto e foi ali que ela realmente sentiu pela primeira vez essa questão da barreira de ‘coisas para meninas e meninos’. Conversamos muito, explicamos que ela poderia fazer tudo o que desejasse. Os professores foram muito atenciosos nesse sentido e disseram que o importante era ela gostar da experiência”, relata Caroline.
Depois do primeiro susto, Helena conseguiu fazer amizades e, como diz a mãe, perdeu o peso de ser a única menina para ser só mais uma criança pilotando. “Sabemos que essa é uma barreira que dentro do automobilismo ela terá que enfrentar a vida inteira, ainda há pouco incentivo das famílias em apresentarem esse esporte para as meninas e isso reflete nas competições”.
De volta a Campo Grande, a família viu que a menina tinha jeito e interesse, por isso foi iniciada a busca por modos de garantir que ela treinasse por aqui.
Não foi uma busca fácil porque o kart ainda não é muito difundido aqui no estado e acabamos chegando no Michel, o treinador, por indicação do pai de outro piloto que seguíamos nas redes sociais. Todos os treinos são feitos no kartódromo, que fica nas Moreninhas, conta a cirurgiã-dentista.
Caroline comenta que ainda não sabem de outra menina que treine kart por aqui e, citando exemplos de cenários maiores, conta que são apenas duas meninas na F4 e nenhuma mulher na F1. “A questão das mulheres no esporte está avançando, mas ainda a passos lentos e estamos nos preparando para dar todo o suporte necessário se ela desejar seguir nessa carreira lá na frente”, completa.
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