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Comportamento

Presídio, escola e ‘zoológico’: Capital teve quadrilátero maluco

Na década de 1980, o Fórum ainda era presídio e dividia região com o mini ‘zoológico’ de Lúdio Martins Coelho

Por Aletheya Alves | 26/08/2024 07:12
Campo Grande News - Conteúdo de Verdade
Vista do prédio em que foi construído no local da antiga residência mostra proximidade. (Foto: Arquivo/Campo Grande News)
Vista do prédio em que foi construído no local da antiga residência mostra proximidade. (Foto: Arquivo/Campo Grande News)

Campo Grande guarda uma série de curiosidades e algumas delas acabam ficando de fora das histórias contadas formalmente, exemplo disso é o quadrilátero no Jardim dos Estados em que presídio, escola e um mini “zoológico” eram vizinhos. Os registros desse convívio pouco provável ficaram na mente de quem morou na região da Rua da Paz e as fotografias acabam sendo de um ponto ou outro isoladamente.

Para entender melhor, vamos ao antes e depois: o então Presídio Central ficava no endereço em que hoje é o Fórum Cível e Criminal de Campo Grande (Rua da Paz e Barão do Rio Branco com a Vinte e Cinco de Dezembro). Também com terreno na Rua da Paz, mas com a Rua Bahia estava (e segue) a Escola Lúcia Martins Coelho. Outra escola que também ficava na Rua da Paz era o Pequenópolis, um colégio infantil.

E, para fechar os endereços, o tal mini “zoológico” ficava em frente à Escola Lúcia Martins Coelho. Falando assim até parece que o espaço era algo comercial, mas na realidade era a casa do ex-prefeito de Campo Grande e ex-senador, Lúdio Martins Coelho.

Há anos, a casa do falecido político já não existe e um prédio foi construído no local. O antigo presídio também ganhou uma cara totalmente nova, o colégio infantil fechou e quem restou foi a escola estadual (tendo passado por reformas).

“Lembro que as casas eram abertas com muros baixos. As casas ficavam abertas e o fato curioso é a convivência ‘harmônica’ em poucas quadras com uma escola, um presídio, um ‘zoológico’ e residências”, descreve o empresário Henrique Fracalanza Alves Corrêa.

Tendo crescido na Rua da Paz, ele explica que morou na esquina com a Rua Rio Grande do Sul (em uma casa que foi transformada em restaurante, veja aqui). E, pensando na década de 1980, o Jardim dos Estados ainda tinha poucas vias asfaltadas com poucos moradores.

Posicionamento dos três principais pontos que geram a curiosidade. (Foto: Reprodução/Google Maps)
Posicionamento dos três principais pontos que geram a curiosidade. (Foto: Reprodução/Google Maps)

“Havia um terreno baldio em frente à casa com um gigantesco mangueiral, carros e ônibus atolaram quando chovia. Eu tinha aproximadamente 15 anos. Havia poucos moradores e todos se conheciam, era um bairro novo se formando”, contextualiza.

E, sobre o que havia por ali, ele complementa dizendo que a maior parte dos terrenos eram ocupados por residências, um “bolicho” da família Seiko e a escola estadual que dividia o muro com o presídio.

“A Escola Estadual Lúcia Martins Coelho existe até hoje no mesmo local. Um morador ilustre era o então pecuarista e prefeito da cidade, Lúdio Coelho, que morava exatamente na frente da escola, onde atualmente é um prédio. O gosto excêntrico do prefeito tinha espaço até para um zoológico em sua casa com patos, gansos, marrecos, cabras, até jacaré”.

Em grupos de lembranças sobre a cidade, não faltam comentários sobre quem chegava a ir até o portão da casa de Lúdio só para ver os animais. O problema é que registros dos bichos e da casa ficaram no passado com a demolição do espaço e retirada dos animais pelo Ibama.

Lúdio Coelho era o responsável por criar animais sem permissão. (Foto: Roberto Higa)
Lúdio Coelho era o responsável por criar animais sem permissão. (Foto: Roberto Higa)
Antigo texto da Folha de São Paulo sobre o mini "zoológico". (Foto: Reprodução/Folha de São Paulo)
Antigo texto da Folha de São Paulo sobre o mini "zoológico". (Foto: Reprodução/Folha de São Paulo)

Inclusive, sobre os animais do ex-prefeito, no dia 27 de julho de 1999, Lúdio foi parar na Folha de São Paulo após ser notificado por não ter autorização para criar os animais. Na época, ele era senador e tinha 12 animais, entre eles quatro veados-mateiros, quatro jabutis e dois papagaios.

Segundo a reportagem, todos os animais haviam sido trazidos de cidades do interior, principalmente do Pantanal. A esposa do político, Nilda Coelho, havia até detalhado que os animais eram criados há mais de 15 anos sem licença ambiental.

Já em relação à união entre a escola e o presídio, Henrique narra que ainda havia uma horta no terreno em frente ao presídio e que, quando algum preso fugia, todo o bairro ficava sabendo.

Registro ainda mais antigo do então Presídio Central. (Foto: Arquivo/Agepen)
Registro ainda mais antigo do então Presídio Central. (Foto: Arquivo/Agepen)

“Eles atravessavam a rua para trabalhar na horta e voltavam para o presídio. Também havia uma sirene, sempre que fugia um preso, a sirene tocava para alertar a vizinhança. As mães corriam pelas ruas recolhendo os filhos para dentro de casa e trancaram tudo.

Conforme reportagem da revista da Polícia Penal, o Presídio Central funcionou entre as décadas de 1970 e final de 1980. Em 1989, deixou de ser regime fechado e manteve apenas o semiaberto por um tempo.

Já em 1993, começaram as obras do Poder Judiciário e, desde 2002, o Fórum é que ocupou o novo prédio. Com as mudanças, demolições e desenvolvimento do bairro, o quadrilátero “maluco” ficou mais padronizado e restaram as histórias.

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