Presídio, escola e ‘zoológico’: Capital teve quadrilátero maluco
Na década de 1980, o Fórum ainda era presídio e dividia região com o mini ‘zoológico’ de Lúdio Martins Coelho
Campo Grande guarda uma série de curiosidades e algumas delas acabam ficando de fora das histórias contadas formalmente, exemplo disso é o quadrilátero no Jardim dos Estados em que presídio, escola e um mini “zoológico” eram vizinhos. Os registros desse convívio pouco provável ficaram na mente de quem morou na região da Rua da Paz e as fotografias acabam sendo de um ponto ou outro, isoladamente.
Para entender melhor, vamos ao antes e depois: o então Presídio Central ficava no endereço em que hoje é o Fórum Cível e Criminal de Campo Grande (Rua da Paz e Barão do Rio Branco com a Vinte e Cinco de Dezembro). Também com terreno na Rua da Paz, mas com a Rua Bahia estava (e segue) a Escola Lúcia Martins Coelho. Outra escola que também ficava na Rua da Paz era o Pequenópolis, um colégio infantil.
E, para fechar os endereços, o tal mini “zoológico” ficava em frente à Escola Lúcia Martins Coelho. Falando assim até parece que o espaço era algo comercial, mas na realidade era a casa do ex-prefeito de Campo Grande e ex-senador, Lúdio Martins Coelho.
Há anos, a casa do falecido político já não existe e um prédio foi construído no local. O antigo presídio também ganhou uma cara totalmente nova, o colégio infantil fechou e quem restou foi a escola estadual, tendo passado por reformas.
“Lembro que as casas eram abertas com muros baixos. As casas ficavam abertas e o fato curioso é a convivência ‘harmônica’ em poucas quadras com uma escola, um presídio, um ‘zoológico’ e residências”, descreve o empresário Henrique Fracalanza Alves Corrêa.
Tendo crescido na Rua da Paz, ele explica que morou na esquina com a Rua Rio Grande do Sul, em uma casa que foi transformada em restaurante, veja aqui. E, pensando na década de 1980, o Jardim dos Estados ainda tinha poucas vias asfaltadas com poucos moradores.
“Havia um terreno baldio em frente à casa com um gigantesco mangueiral, carros e ônibus atolavam quando chovia. Eu tinha aproximadamente 15 anos. Haviam poucos moradores e todos se conheciam, era um bairro novo se formando”, contextualiza.
E, sobre o que havia por ali, ele complementa dizendo que a maior parte dos terrenos eram ocupados por residências, um “bolicho” da família Seiko e a escola estadual que dividia o muro com o presídio.
“A Escola Estadual Lúcia Martins Coelho existe até hoje no mesmo local. Um morador ilustre era o então pecuarista e prefeito da cidade, Lúdio Coelho, que morava exatamente na frente da escola, onde atualmente é um prédio. O gosto excêntrico do prefeito tinha espaço até para um zoológico em sua casa com patos, gansos, marrecos, cabras, até jacaré”.
Em grupos de lembranças sobre a cidade, não faltam comentários sobre quem chegava a ir até o portão da casa de Lúdio só para ver os animais. O problema é que registros dos bichos e da casa ficaram no passado com a demolição do espaço e retirada dos animais pelo Ibama.
Inclusive, sobre os animais do ex-prefeito, no dia 27 de julho de 1999, Lúdio foi parar na Folha de São Paulo após ser notificado por não ter autorização para criar os animais. Na época, ele era senador e tinha 12 animais, entre eles quatro veados-mateiros, quatro jabutis e dois papagaios.
Segundo a reportagem, todos os animais haviam sido trazidos de cidades do interior, principalmente do Pantanal. A esposa do político, Nilda Coelho, havia até detalhado que os animais eram criados há mais de 15 anos sem licença ambiental.
Já em relação à união entre a escola e o presídio, Henrique narra que ainda havia uma horta no terreno em frente ao presídio e que, quando algum preso fugia, todo o bairro ficava sabendo.
“Eles atravessavam a rua para trabalhar na horta e voltavam para o presídio. Também havia uma sirene, sempre que fugia um preso, a sirene tocava para alertar a vizinhança. As mães corriam pelas ruas recolhendo os filhos para dentro de casa e trancavam tudo.
Conforme reportagem da revista da Polícia Penal, o Presídio Central funcionou entre as décadas de 1970 e final de 1980. Em 1989, deixou de ser regime fechado e manteve apenas o semiaberto por um tempo.
Já em 1993, começaram as obras do Poder Judiciário e, desde 2002, o Fórum é que ocupou o novo prédio. Com as mudanças, demolições e desenvolvimento do bairro, o quadrilátero “maluco” ficou mais padronizado e restaram as histórias.
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