Preto Velho seria ‘demônio’ se fosse branco ou intolerância teria fim?
Dia Municipal do Preto Velho, contra intolerância religiosa, foi aprovada na Câmara e aguarda ser sancionada
“Se o Preto Velho fosse um Branco Velho, nós já teríamos sido aceitos há muito tempo”. Essa é a provocação do guardião da praça que leva o nome da figura ancestral em Campo Grande, José Luiz Mendes de Castilho. Aprovado pela Câmara Municipal na semana passada, o Dia Municipal do Preto Velho (13 de maio) aguarda ser sancionado e, para quem sofre com intolerância religiosa diariamente, a data é mais uma chance de falar sobre a luta histórica.
Integrante do Fórum Municipal da Cultura Afro e vice-presidente do Instituto Cultural da Umbanda Sagrada Vó Ana e Pai Manoel, José explica que ouvir que o Preto Velho é o “demônio” é algo comum, assim como replicar isso a quem segue religiões em geral de matriz africana.
É implantado na mente das pessoas que somos demônios, que somente a religião da qual essas pessoas pertencem é a que vai de encontro com o Pai e todos nós sabemos que não é desta forma que as coisas acontecem, descreve o guardião da praça, que já até recebeu moção pelos seus serviços no local.
Não saber que o Preto Velho ou os Pretos Velhos são espíritos que se apresentam como africanos que viveram nas senzalas e sofreram como escravos é parte do desconhecimento generalizado com religiões de matriz africana. Para José, é essa falta de saber o que costuma dar base aos ataques.
E é justamente pelos Pretos Velhos se ligarem à escravidão que seu dia é celebrado em 13 de maio, a data da abolição da escravatura. “Inserirmos essa data no calendário municipal nos fortalece muito no sentido de respeito porque temos que preservar a memória daqueles que sofreram e ainda sofrem com o racismo”.
O integrante do Fórum de Cultura Afro também defende que aceitar todos os tipos de pessoas é algo que acaba sendo mal visto por integrantes de outras religiões.
“Nós não discriminamos ninguém, aceitamos a pessoa como ela é. Se procurar fazer o bem e auxiliar o próximo faz nós sermos religiões do demônio, então é complicado. O difícil é colocar na cabeça das pessoas que elas precisam conhecer um pouco das religiões e, aí sim, talvez comecem a ter outras visões”, diz José.
Enquanto isso não acontece, até pedidos para a retirada da estátua do Preto Velho aparecem, segundo o umbandista. Além da data, há também uma movimentação para solicitar o tombamento do local.
Especificamente sobre a praça, ele relata que é o único local em que as religiões de matriz africana e ameríndias conseguem se manifestar publicamente. “É por isso que ela precisa estar preservada e sempre pronta para receber as pessoas”.
Agora, enquanto a data municipal ainda não foi sancionada, a celebração será no dia 19 de maio, a partir das 13h, na Praça do Preto Velho.
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