Valorizar patrimônio cultural do povo negro também é lutar contra racismo
Assunto abordado em audiência pública na Câmara dos Vereadores leva para discussão sobre cenário municipal
Muito mais do que apenas destacar espaços que já são valorizados pela história oficial, identificar comunidades e manifestações enquanto patrimônio público é insistir em lutas essenciais, como a contra o racismo. É nesse sentido que pensar sobre como os patrimônios do povo negro em Campo Grande precisam ganhar destaque mostra como anda a reflexão por aqui.
Unindo lideranças e representantes do movimento negro, Iphan/MS e da Câmara dos Vereadores, a audiência pública proposta pela vereadora Luíza Ribeiro (PT) sobre o tema, nesta semana, ampliou a discussão.
Para refletir sobre as relações com patrimônio público, o representante do Iphan/MS (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), João Santos aponta que se os espaços e representações dos povos negros não são valorizados, o problema ainda persiste.
“Nós sabemos da marginalização, então se esses grupos e suas representações não são vistos como foco do patrimônio cultural, o racismo também está presente ali”, diz João.
Falando sobre espaços que se ligam ao tema, João cita que tanto a Praça do Preto Velho quanto a comunidade quilombola Tia Eva estão em diálogo com o Iphan/MS.
“Nós recebemos as lideranças e comunidades que atuam diretamente com a praça e eles estão articulando um pedido oficial para a solicitação do tombamento. Inclusive, sempre oriento que as solicitações sejam feitas em nível municipal, estadual e federal, assim a pauta segue da melhor forma”, explica o arquiteto.
À frente da Subsecretaria de Estado de Políticas Públicas para a Promoção da Igualdade Racial, Vânia Lucia Baptista Duarte destacou a necessidade da sociedade se voltar para a Comunidade Tia Eva com real valorização.
Para a descendente de Tia Eva, apesar da história da matriarca se vincular com a fundação de Campo Grande, sua existência e as manifestações culturais da comunidade ainda não estão presentes, por exemplo, em todos os livros e materiais didáticos do município e do Estado.
É nesse sentido que destacar a relevância dos patrimônios culturais do povo negro vem como uma reflexão necessária há décadas, mas que acaba sendo deixada de lado.
De acordo com o superintendente do Iphan/MS, a postura do Estado Brasileiro mudou e o objetivo é mostrar que há um olhar atento para as comunidades tradicionais que formam a sociedade. “O Iphan ficou muito ensimesmado por muito tempo, principalmente no último governo. Hoje, a gente precisa ter maior comunicação tanto com a população em geral quanto com as comunidades tradicionais”.
“A partir da década de 1980, uma grande mudança que tivemos nessa área foi o tombamento de terreiros com o Iphan. Passamos a ter uma inserção desses patrimônios ligados a grupos marginalizados e historicamente diminuídos. São grupos perseguidos até hoje, seja pelo racismo estrutural e cotidiano”, completa Santos.
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