Valorizar patrimônio cultural do povo negro também é lutar contra racismo
Assunto abordado em audiência pública na Câmara dos Vereadores leva para discussão sobre cenário municipal
![Praça do Preto Velho está recebendo movimentações para solicitação de tombamento. (Foto: Arquivo/Aletheya Alves)](https://cdn6.campograndenews.com.br/uploads/noticias/2024/03/22/3fdc08td5ao0w.jpeg)
Muito mais do que apenas destacar espaços que já são valorizados pela história oficial, identificar comunidades e manifestações enquanto patrimônio público é insistir em lutas essenciais, como a contra o racismo. É nesse sentido que pensar sobre como os patrimônios do povo negro em Campo Grande precisam ganhar destaque mostra como anda a reflexão por aqui.
Unindo lideranças e representantes do movimento negro, Iphan/MS e da Câmara dos Vereadores, a audiência pública proposta pela vereadora Luíza Ribeiro (PT) sobre o tema, nesta semana, ampliou a discussão.
Para refletir sobre as relações com patrimônio público, o representante do Iphan/MS (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), João Santos aponta que se os espaços e representações dos povos negros não são valorizados, o problema ainda persiste.
“Nós sabemos da marginalização, então se esses grupos e suas representações não são vistos como foco do patrimônio cultural, o racismo também está presente ali”, diz João.
Falando sobre espaços que se ligam ao tema, João cita que tanto a Praça do Preto Velho quanto a comunidade quilombola Tia Eva estão em diálogo com o Iphan/MS.
“Nós recebemos as lideranças e comunidades que atuam diretamente com a praça e eles estão articulando um pedido oficial para a solicitação do tombamento. Inclusive, sempre oriento que as solicitações sejam feitas em nível municipal, estadual e federal, assim a pauta segue da melhor forma”, explica o arquiteto.
À frente da Subsecretaria de Estado de Políticas Públicas para a Promoção da Igualdade Racial, Vânia Lucia Baptista Duarte destacou a necessidade da sociedade se voltar para a Comunidade Tia Eva com real valorização.
Para a descendente de Tia Eva, apesar da história da matriarca se vincular com a fundação de Campo Grande, sua existência e as manifestações culturais da comunidade ainda não estão presentes, por exemplo, em todos os livros e materiais didáticos do município e do Estado.
É nesse sentido que destacar a relevância dos patrimônios culturais do povo negro vem como uma reflexão necessária há décadas, mas que acaba sendo deixada de lado.
De acordo com o superintendente do Iphan/MS, a postura do Estado Brasileiro mudou e o objetivo é mostrar que há um olhar atento para as comunidades tradicionais que formam a sociedade. “O Iphan ficou muito ensimesmado por muito tempo, principalmente no último governo. Hoje, a gente precisa ter maior comunicação tanto com a população em geral quanto com as comunidades tradicionais”.
“A partir da década de 1980, uma grande mudança que tivemos nessa área foi o tombamento de terreiros com o Iphan. Passamos a ter uma inserção desses patrimônios ligados a grupos marginalizados e historicamente diminuídos. São grupos perseguidos até hoje, seja pelo racismo estrutural e cotidiano”, completa Santos.
Acompanhe o Lado B no Instagram @ladobcgoficial, Facebook e Twitter. Tem pauta para sugerir? Mande nas redes sociais ou no Direto das Ruas através do WhatsApp (67) 99669-9563 (chame aqui).
Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para entrar na lista VIP do Campo Grande News.