Quando puder ler, Olívia vai saber como foi crescer na pandemia
O diário é para Olívia, de 1 ano e 7 meses, que quando crescer, poderá ler como foram suas descobertas e o período de isolamento
Para se reconectar com Olívia, Naísa Tonon resolveu escrever um diário contando como estão sendo os dias da filha na quarentena. A pequena tem 1 ano e sete meses, está descobrindo o mundo e cada novidade é importante no seu desenvolvimento. É uma forma de registrar os momentos inesquecíveis e também saber que existiu um vírus que mudou completamente a rotina da população.
“Resolvi escrever por conta do momento que estamos vivendo. Algo inédito na história do Brasil. Algo que só vemos nos filmes. É para que ela leia no futuro e, muito mais que acontecimentos, eu conto como ela está, o que aprendeu de novo, como está dormindo, o que come”, explica a mãe.
Naísa é publicitária, tem 35 anos e relata que Olívia é primeira filha, sua e do esposo, Marcos. No entanto, para que ela chegasse ao mundo, a mãe passou por momentos conturbados, de frustração e tristeza.
“Tive dois abortos anteriores, em 2014, e tinha começado a escrever para esses bebês. Contudo, na gestação da Olívia quebrei essa regra para ver se a gravidez vingava. Passar pelos abortos, foram os piores momentos da minha vida”, desabafa.
Ela está casada há 12 anos e queria ver a família ficar completa. Apesar dos ocorridos, o casal não desistiu. “Nós planejamos a chegada dela. Eu já estava há mais de um ano sem tomar pílula, por questão de saúde. Apenas nos prevenindo de outras formas, até que no fim de 2017, decidimos tentar novamente”.
Naísa logo engravidou, porém, decidiu fazer tudo diferente. Resolveu parar de trabalhar para cuidar melhor da saúde e se dedicar inteiramente à gestação. “Conversei com Marcos. Planejamos e combinamos que ia cuidar apenas de mim e dela. Tive uma gestação mais perfeita, sem qualquer intercorrência, super plena. Não me estressava com nada, cuidei muito da alimentação e até fiz pilates”, lembra.
Os meses passaram, a barriga foi crescendo e com ela, o amor também foi aumentando. Quase que não cabia no peito a felicidade de ver o sonho finalmente estar sendo realizado. Naísa estava pronta para a nova fase. “Tive o parto dos sonhos, normal, sem analgesia e mega humanizado”, diz.
Estava dando tudo certo, até que surgiu a depressão pós-parto. A doença acomete muitas mulheres e é preciso ter sensibilidade para lidar com o assunto. As mães que se depararem com esta situação precisam tomar os cuidados necessários com a saúde e contar com o auxílio de profissionais capacitados, para que a ajudem a enfrentar esse momento.
“Isso foi muito difícil porque ela foi totalmente planejada. Nos preparamos para recebê-la. Foi realmente devastador. Então, escrever para ela, tem me ajudado em tudo isso. Ainda estou em tratamento”, comenta.
Cheia de vida, Olívia enche a casa de alegria e faz a mãe redescobrir o amor verdadeiro. Por isso, Naísa resolveu usar a caneta e papel para registrar no caderno os melhores momentos.
“Nas partes em que escrevo sobre ela, não menciono momentos ruins. Falo do desenvolvimento dela, da alegria de viver que tem, de como faz nossos dias na quarentena mais felizes. Para me reconectar com ela”.
Com o isolamento, Olívia parou de ir à escolinha e passou a ficar mais tempo com a mamãe. Juntas, se divertem, se descobrem e se amam. O sorriso da filha, com certeza, é o motivo do sorriso da mãe e assim elas entram em sintonia.
Naísa começou a escrever no caderno no dia 23 de março deste ano. “A primeira página é explicando o motivo de estar escrevendo tudo isso, como ela chegou ao mundo. Contudo, não escrevo todos os dias porque, muitos, são iguais”.
As anotações ocorrem quando algo novo acontece no mundo, na família ou no seu desenvolvimento. “Escrevo de três a cinco páginas quando ela dorme porque, se me vê com a caneta na mão quer brincar de desenhar. Agora, na quarentena, é muita brincadeira”.
Foram vários momentos marcantes até aqui, mas a mãe comenta sobre dois fatos inesquecíveis. “Antes da quarentena foi o aniversário de um ano, é um marco na vida dela e na nossa. A gente conta os meses esperando o dia chegar. Foi mágico. Agora, na quarentena, foi ela começar a comer e dormir melhor, e falar mamãe e papai”.
“Ter ela sob minha responsabilidade 24h por dia, nos conectou em outro nível. Claro que é cansativo, mas sinto que se desenvolveu, teve vários aprendizados e muita evolução”, afirma a mãe.
Enquanto os dias passam e as novidades aparecem, Naísa registra tudo no caderno. Já são 30 folhas preenchidas para que, no futuro, a filha possa receber o presente e descobrir como foi sua infância e como estava o mundo.
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