Quem vê 3 santas na porta de casa não imagina terror que mãe já viveu
Filha de benzedeira, Maria leva santas para todas as casas que vai e sorri mesmo após viver uma dor terrível
Ao ouvir Maria José de Jesus e Souza, de 65 anos, falar da sua história, é impossível não questionar como ela nunca se revoltou com a vida e consegue manter firme sua fé, mais do que muita gente sortuda e com vida mansa por aí.
Trabalhando maior parte da vida como doméstica, hoje, ela é aposentada e vive em casa com o marido e uma das filhas que mora ao lado. Mas sua maior proteção atualmente está no portão.
São três santas que ela carrega para todos os lugares que já morou, mas essa é primeira vez que ela resolveu deixar as imagens na fachada, depois que o marido, que é pedreiro, ganhou uma capelinha feita de pedra.
Morando numa casa simples, Maria nos recebeu carinhosamente ainda de pijama e sorrindo. Mas quem vê o seu semblante generoso, não imagina a vida sofrida da mãe de seis filhos, que já perdeu a visão por conta do diabetes e enterrou um dos filhos de 24 anos, depois que ele foi assassinado.
Ela não quis falar quais circunstâncias levaram o filho a perder a vida, mas é enfática ao dizer que nem a maior dor que já sentiu no peito foi capaz de acabar com sua fé.
Eu acho que a gente nunca pode ficar revoltada com Deus. As coisas acontecem, talvez era o destino, mas eu sofri muito”, lembra.
Maria não frequenta igreja toda semana, seu templo está na família e nas santas. A devoção em Nossa Senhora Aparecida, ela herdou da mãe, que era benzedeira e teve 13 filhos. Boa parte dos irmãos de Maria já se foi, mas ela parece forte. Acredita que a vida é boa mesmo com os desafios e diz que prefere não reclamar.
Sua felicidade está em ter conseguido passar a fé para os filhos. Inclusive, Santo Expedito era o protetor do filho falecido, já a santa de Janaína de Souza Louveiro, de 33 anos, que ajuda o pai nas construções, é Nossa Senhora de Fátima. “Quando eu bati o olho nela, me apaixonei”, diz.
Com toda a família católica, ela conta que já mudaram várias vezes de endereço. Viveram no José Abrão, Caiobá, Nossa Senhora das Graças e Santa Carmélia, e desde o primeiro endereço, vê a mãe carregar cuidadosamente as imagens.
“A gente aprendeu a gostar delas, porque minha mãe sempre fala delas. Nossa Senhora de Fátima é quem cuida de mim e tenho um irmão que gosta muito de São Jorge”.
Para Janaína, também não há motivos para reclamar. “Nós estamos vivendo bem, não é aquelas coisas, tem muito suor, mas temos muitas bênçãos”, diz a filha.
Dona Maria acredita que as santas protegeram todos até da covid-19 antes da sonhada chegada da vacina. “Antes dela, ninguém pegou, mas depois de vacinados, acho que pegamos, mas foi tudo muito leve, Graças a Deus e às santas”.
Sem ir à igreja, ela diz que suas orações são feitas em casa mesmo e sempre que precisa, não hesita em gritar “socorro” à Nossa Senhora Aparecida.
“Eu só grito socorro e peço. A vida não foi fácil, mas eu não tenho o que reclamar da vida. Trabalhar todo mundo tem que trabalhar mesmo, mas não culpo a vida, eu sou feliz e os filhos estão bem encaminhados”, encerra Maria, que voltou para seu lar sorridente e deixando a repórter à vontade para uma oração numa sexta-feira, que também foi um caos, mas terminou amenizada pela força de dona Maria e a lição de que mais vale a fé do que a desistência.
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