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Comportamento

Racismo e falta de reparação: revolta é cenário de 30 anos que continua

Relatório do SNI detalhou pautas do Grupo TEZ; hoje, reflexão é que muitos problemas persistem apesar do tempo

Por Aletheya Alves | 27/06/2024 08:37
Roda de conversa promovida pelo Grupo TEZ. (Foto: Divulgação)
Roda de conversa promovida pelo Grupo TEZ. (Foto: Divulgação)

Há mais de três décadas, o Grupo TEZ (Trabalho e Estudos Zumbi) era monitorado pelo SNI (Sistema Nacional de Informações) e, em 1988, foi responsável por organizar o 1º Encontro do Negro do Centro-Oeste. Comparando o cenário de 36 anos atrás com os dias atuais, quem segue na luta contra o racismo lamenta que muitas das pautas discutidas na época ainda persistem com força.

Fundado em 1985, o grupo foi um dos pioneiros do movimento negro e combate à desigualdade social em Mato Grosso do Sul. Por ter nascido justamente no período da ditadura, o grupo logo entrou na mira do SNI e teve uma série de encontros monitorados pelo órgão “espião”.

Entre os eventos investigados e relatados pelo órgão está o 1º Encontro do Negro do Centro-Oeste e, apesar do registro não ter sido feito para celebrar o momento, serve como uma forma de olhar o cenário lá atrás.

Presidente do Grupo TEZ, Bartolina Ramalho Catanante comenta que o grupo realmente era monitorado e, enquanto a ditadura ficou para trás, a luta continua. Assim como o próprio Trabalho e Estudos Zumbi também segue vivo, a professora destaca que, infelizmente, parte das preocupações da década de 1980 também persistem.

Celebração dos 38 anos de fundação do grupo em Campo Grande. (Foto: Divulgação)
Celebração dos 38 anos de fundação do grupo em Campo Grande. (Foto: Divulgação)

Na época, o evento foi promovido pelo Grupo TEZ e pelo Conselho Estadual do Negro de Mato Grosso do Sul com apoio da Secretaria de Justiça de Mato Grosso do Sul e do antigo Fundo de Assistência Social de MS.

“Formado ha três anos, o Grupo TEZ é o único grupo de negros organizado no Estado, tendo como objetivo lutar contra a discriminação e a opressão do negro na sociedade brasileira. Apesar das limitações existentes, e que são muitas, podemos destacar como características que tem acompanhado o nosso trabalho, a dimensão democrática, a capacidade do diálogo que não pode e não deve ser confundida com neutralidade, características estas que esperamos que sejam a tônica deste encontro”, relatou a então secretária do grupo, Jaceguara Dantas da Silva na abertura do evento.

Fala de Jaceguara sobre algumas das pautas tratadas no encontro. (Foto: SNI/Arquivo Nacional)
Fala de Jaceguara sobre algumas das pautas tratadas no encontro. (Foto: SNI/Arquivo Nacional)

A partir do encontro, várias pautas foram definidas para abranger desde ações vinculadas ao mercado de trabalho até criação de políticas públicas específicas para mulheres. E, olhando para essas reflexões, a professora Bartô comenta que apesar de direitos terem sido conquistados, ainda há muito caminho a ser percorrido.

“Quando pegamos os dados estatísticos do mercado de trabalho, escolaridade, do atendimento à saúde, observamos que ainda temos uma barreira evidente impedindo a ascensão da pessoa negra na sociedade. Poucas ainda são as pessoas negras com cargos de chefia, por exemplo”.

Além do contexto geral, as violências sofridas pelas mulheres negras também foram tratadas e uma das metas era a conquista de conselhos estaduais direcionados para elas. “Essa criação ainda permanece como um desejo. Temos o conselho municipal dos direitos dos negros, o conselho estadual, mas não existe um estadual da mulher negra. Ainda há uma organização, mas é difícil de colocar sua voz e ainda estamos na luta para se fazer visível e presente nos espaços de poder”.

Outra preocupação era com denúncias sobre o controle de natalidade “forçado” e, sobre esse assunto, a professora explica que a lógica mudou.

“Hoje, a gente não se preocupa em denunciar casos de controle de natalidade, mas sim de orientar e informar sobre os métodos contraceptivos. Além disso, nos preocupamos em orientar sobre quando dizer ‘não’, situações de abuso e como denunciar as violências sofridas pela mulher negra”, detalha a professora.

Pautas definidas a serem trabalhadas após o evento. (Foto: SNI/Arquivo Nacional)
Pautas definidas a serem trabalhadas após o evento. (Foto: SNI/Arquivo Nacional)

Ainda sobre o que persiste, ela comenta que a baixa renda é um dos indicativos preocupantes. “Seguimos com a população pobre, sendo que os mais pobres são as pessoas negras. Também continuamos com casos explícitos de racismo que observamos na escola, no trabalho, em vários tipos de locais”.

Por outro lado, Bartô defende que há o que comemorar como as cotas raciais para ingresso nas universidades e em concursos públicos.

“Isso faz com que o Estado reconheça que houve um prejuízo histórico colocado para a população negra, que é preciso fazer uma retomada e correção das políticas públicas. Dessa forma, é possível que a pessoa negra tenha condições de cursar o ensino superior, de estar nos concursos e desenvolver os trabalhos assim como outras pessoas”.

E, com o grupo na ativa, ela completa dizendo que ações focando na educação seguem sendo executadas em busca de maiores evoluções. “O Grupo TEZ continua atuando com educação, acolhendo os novos grupos sociais, do movimento negro, segue formando as pessoas e tendo ações nas escolas, universidades, comissões de heteroidentificação de políticas públicas favoráveis à pessoa negra. Estamos atuando de uma forma veemente, acompanhando políticas públicas para que mais pessoas consigam acessar educação superior e espaços de poder, aumento salarial e emprego digno”.

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