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Comportamento

Rose conheceu os filhos em reportagem e adoção deu final feliz à história

Paula Maciulevicius | 07/02/2017 08:16
Mãe e os dois filhos: Lucas e Suellen no aniversário de 15 anos da mais velha. (Foto: Arquivo Pessoal)
Mãe e os dois filhos: Lucas e Suellen no aniversário de 15 anos da mais velha. (Foto: Arquivo Pessoal)

"Picada" pelo mosquitinho da adoção, é esta a definição que se ouve quando se abraça a causa. Jornalista, Rose encontrou os filhos ao fazer uma reportagem em um abrigo, sete anos atrás, na cidade onde morava, em Três Lagoas. A adoção trouxe um final feliz não só a história da repórter, como deles, de família.

Colega de profissão, Rose já tinha 51 anos quando adentrou os portões da instituição de acolhimento "Poços de Jacó". A pauta era acompanhar jogadores sub20 da seleção brasileira que fariam uma partida beneficente, em prol do orfanato. 

Sem nunca ter pensado em filhos - biológicos ou não - , Rose teve o coração tocado quando o pequeno Lucas, à época com 4 anos disse: 'tia, me leva para a sua casa?' Foram três dias pensando, noites mal dormidas e aquela sensação de que a vida não seria completa se ela não se tornasse mãe.

De volta a Campo Grande, já se passaram sete anos desde que a família Alves Rodrigues se formou e é na casa deles que o Lado B conversa com Rose e Lucas. A irmã, Suellen já estava na aula. Seja pela timidez ou pelas lembranças não tão boas, as crianças, agora adolescentes, evitam ao máximo falar como eles se encontraram. E é a mãe que é porta-voz, desta vez, da própria história.

Entre fotos e lembranças, Rose e Lucas conversam e lembram que
Entre fotos e lembranças, Rose e Lucas conversam e lembram que
a vida da família se uniu após reportagem. (Fotos: André Bittar)
a vida da família se uniu após reportagem. (Fotos: André Bittar)

"Eu separada, já estava com 50 anos e pensava 'nessa altura do campeonato? Como eu vou querer adotar? Não vou ter nem saúde para isso'", recorda a jornalista Rosimeire Alves Rodrigues, hoje com 56 anos.

Passado os três dias, o pensamento não lhe deixava dormir. Era o coração que pedia o tempo todo para ela atender ao pedido do garotinho e da irmã. Lucas tinha 4, Suellen quase 7 anos.

"Fui falar com a juíza e olha, vou te dizer, as pessoas pensam que é difícil, mas eu tive um grande apoio da Justiça", elogia Rose. Em dúvida se seria uma boa mãe devido a correria do trabalho, a resposta da magistrada foi para não deixar margem alguma. "Eu disse que nunca sei onde vou parar, que não tinha horários e ela disse que as crianças não precisam de uma galinha choca e sim de referência", reproduz.

Aquilo ficou na cabeça e o processo, foi aberto. Visitas, entrevistas, preenchimento de documentação. E tudo depois de uma reportagem, que era obrigação do dia. "Foi amor à primeira vista e eu falava isso para a juíza, que eu queria dar a eles uma oportunidade, mesmo não sendo milionária", relata a mãe.

A jornalista teve de passar por todo passo a passo, inclusive de conhecer outras crianças até chegar no casalzinho de irmãos por quem tinha se apaixonado. O procedimento Rose até já sabia, isso porque dois anos antes tinha feito outra reportagem, dessa vez sobre adoção.

Rose nem sequer pensava em ter filhos e descobriu depois de visita a abrigo, que não poderia viver sem eles. (Foto: André Bittar)
Rose nem sequer pensava em ter filhos e descobriu depois de visita a abrigo, que não poderia viver sem eles. (Foto: André Bittar)

Quando as crianças chegaram à casa dela, três meses depois, em dezembro de 2009, foi com a ajuda dos amigos que Rose pode contar. Cama, roupas, até que os filhos montassem o próprio quarto de acordo com seus desejos. "E isso é tão segundo plano, você vê que não faz diferença", comenta a mãe.

Entre fotos desde o primeiro Dia das Mães até o aniversário mais recente, Rose e Lucas se deliciam nas lembranças. "Ser mãe aos 51 anos? Não vou falar que não foi difícil, mas mudou minha vida para melhor. Hoje durmo mais cedo" e ao exemplificar, a mãe é corrigida pelo filho. "Não tão cedo", brinca Lucas, hoje com 12 anos. Mas o que muda é ter metas, planos e duas vidas a serem acompanhadas e amadas tão de perto.

"Você tem até motivo para trabalhar. E olha que fiquei chocada de início, no abrigo, porque nunca tinha pensado em ter filhos, principalmente adotar", compara as sensações. E depois de ser mãe, ser jornalista ficou muito mais desgastante.

"Vejo aquelas histórias e é tanta desgraça, a falta de fé das pessoas. É muito ruim, principalmente quando tem crianças e isso tem me afetado muito mais depois que fui mãe. Queria parar em alguns momentos", desabafa.

Hoje, entre elogios do papel tão bem desempenhado, Rose diz que é durona mesmo e que também depende de sorte. "As pessoas têm medo, mas elas deveriam se dar mais. Você corre o 'risco' de uma conduta determinada de qualquer jeito, sendo adotivo ou biológico. E eu acho que você consegue mudar isso, eles só precisam de amor, carinho e disciplina", resume.

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