Sem frescura, barbearia do Cowboy é “raiz” na base de álcool e navalhete
Carlos Antônio conta que aprendeu a profissão no quintal de casa e desde então não abandonou a simplicidade
Sem decoração escolhida a dedo ou produtos da moda, Carlos Antônio Ribeiro de Magalhães, o Cowboy, até tentou criar um espaço moderno para sua barbearia, mas se identificou mesmo com a área de casa, que se parece com um rancho. Argumentando que não precisa de “frescuras”, por ali os cortes são feitos com tesoura, máquina, navalhete e álcool 70% para finalizar.
De botina e chapéu, Cowboy é barbeiro há 32 anos e, afirmando ainda mais o estilo, conta que também trabalha com locução de rodeios e de rádio desde que se entende por gente. Por ter aprendido as profissões “nos fundos do quintal”, como ele conta, explica que tudo precisa ser simples para dar certo nas duas áreas de serviço.
Por isso, em sua área externa de casa, uma cadeira de fios é o sofá de espera e outras duas simples de salão são usadas para o momento dos cortes. Na prateleira de acessórios, também pequena, Cowboy deixa o pincel de barba ao lado de um vidro de álcool 70% e três garrafas com lâminas descartáveis já usadas, tudo posto estrategicamente.
“Para barbear eu uso o navalhete e finalizo com o álcool. Esses outros produtos não funcionam, o cara sai até meio tonto depois de passar o álcool, mas precisa. É ele quem faz que não tenha alergia ou outros problemas depois”, conta.
Já as lâminas descartadas são mantidas por ali, conforme ele conta, para provar que a higiene está presente. “Eu quero que o cliente veja que eu não uso mais de uma vez a lâmina, então se ele tiver algum problema não vai ter pego aqui não”.
Garantindo que nunca fez curso de barbearia ou cabeleireiro, Cowboy se diverte ao contar sobre como aprendeu o ofício ainda adolescente. “Um dia chegou um senhorzinho, sogro do meu irmão, e pediu para eu cortar o cabelo dele. Eu falei “você tá doido? Não corto cabelo não”, eu tinha uns 16 anos e nunca tinha cortado cabelo. Com ele é que descobri meu dom”.
Carlos relembra que naquele dia demorou uma hora para fazer o primeiro corte e que desde então não parou mais. “Hoje eu sei fazer desde os cortes mais antigos até os mais novos, além da parte de barbearia. É uma das minhas paixões”, diz.
Insistindo na profissão
Há cerca de 5 anos, ele se mudou para o atual endereço na Avenida Capibaribe, Bairro Santo Antônio, mas antes disso já tentou trabalhar em espaços mais modernos, todos na mesma avenida.
Sem dizer que desaprovou completamente estar em uma área com ar condicionado, mais ferramentas e químicas variadas, Cowboy garante que se identifica mais com o “rancho”. “Eu encontrei essa casa aqui há um tempo e gosto dela. É antiga, em Campo Grande muitas eram assim antigamente, mas foram reformadas”.
Apesar de não saber sobre a história da casa, Carlos detalha que o modo com que ela foi construída continua o agradando. Seja porque combina com seu estilo ou porque remete à sua infância, isso ele já não sabe dizer.
Mais do que precisar se adaptar com o passar do tempo ou com os espaços, Cowboy explica que até hoje o mais difícil foi sobreviver à covid-19. Durante 2021, ele foi contaminado e precisou ficar intubado por 60 dias, totalizando 90 dentro do hospital.
Estou me recuperando até hoje. Continuo trabalhando, não me abalou não, mas minha respiração ficou ruim. Na época perdi a visão, memória, movimentos do corpo e achei que não ia mais conseguir voltar, explica.
Hoje, além da respiração, algumas partes do corpo ainda não voltaram ao modo com que eram antes, mas Carlos conta que segue tentando. “Meus pés ficam dormente, fico cansado, mas estou fazendo academia e caminhada sem desistir”.
E, entre os períodos de recuperação, Cowboy destaca que a paixão pela barbearia continuou. Por isso, nem covid-19 e outros problemas fazem com que ele abandone as ferramentas que adotou há tanto tempo.
Para conhecer a barbearia e também o Cowboy é necessário ir até a Avenida Capibaribe, número 746, no Bairro Santo Antônio.
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