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Comportamento

Sonia deixou administração para trás para ser feliz como caminhoneira

Motorista de caminhão de comboio, relata que vem de família de caminhoneiros, e sempre sonhou com a profissão

Por Idaicy Solano | 25/07/2024 06:55
Sonia trocou escritório pela estrada e realizou sonho de dirigir caminhão de comboio (Foto: Arquivo/MS Florestal)
Sonia trocou escritório pela estrada e realizou sonho de dirigir caminhão de comboio (Foto: Arquivo/MS Florestal)

"Quando marcaram a minha integração, senti-me como uma atriz contratada para ser protagonista da novela das oito." O relato é de Sônia Ferreira Vida, de 47 anos, que decidiu abandonar o diploma de administração para se tornar caminhoneira e seguir a profissão dos sonhos.

A sensação de falta de pertencimento e propósito na antiga profissão a fez mover-se para conquistar um espaço em uma área dominada por homens. Única mulher na equipe, ela assumiu, há um ano e dois meses, o papel de comboista em uma empresa de operações florestais.

“Na integração a gente se levanta e se apresenta. Eu levantei, falei ‘meu nome é Sonia, e sou contratada como motorista de comboio’. Só eu de mulher naquela sala, falando que ia ser motorista de comboio, com toda elegância e orgulhosa de mim mesma’, relembra o momento.

Irmã caçula de dois caminhoneiros e um carreteiro, Sonia via os irmãos e primos dirigirem desde cedo, e assim crescia o sentimento de querer seguir a mesma profissão. Apesar de ter se dedicado à graduação, o sonho falou mais alto, e ela trocou o escritório pela estrada.

Sonia chegou a trabalhar no setor administrativo de uma loja de vendas, e apesar da remuneração ser boa, sentia que faltava alguma coisa. A comboista relata que correu atrás de fazer cursos e tirar a habilitação na categoria exigida para dirigir veículos de grande porte, e iniciou no transporte público da Prefeitura de Água Clara para adquirir experiência.

Um tempo depois, percebeu que seu sonho ia muito mais além, e passando por uma estrada rural, ao ver homens trabalhando no caminhão de comboio, decidiu que era aquilo que gostaria de fazer. O desejo de mudar completamente de área, no entanto, no início parecia até mesmo uma afronta, e não foi um caminho fácil.

Sonia roda pelo menos 300 quilômetros por dia em estradas de terra (Foto: Arquivo/MS Florestal)
Sonia roda pelo menos 300 quilômetros por dia em estradas de terra (Foto: Arquivo/MS Florestal)

O preconceito de gênero sofrido por Sonia veio de todos os lados, e teve início dentro da própria casa. Quando contou ao ex-marido que queria ser comboista, foi totalmente desacreditada por ele. “Ele falou ‘você é louca, nunca vão te contratar para serviço de comboio’, e eu perguntei, por que não? E ele disse ‘porque isso não é serviço de mulher’”, relembra.

Decidida a fazer a diferença e provar que era capaz de conquistar seus sonhos, ela conta que mergulhou fundo na profissão e investiu em um curso na área. Em seguida, começou a enviar currículos nas empresas, e relembra que era constantemente ignorada. Ela trabalhava como motorista do ônibus que transportava os funcionários da MS Florestal, quando surgiu uma vaga no comboio, e ela prontamente se candidatou.

O machismo lhe perseguia até pelos corredores da antiga empresa, onde relata que ouvia várias risadas pelas costas, e diz ter sido desacreditada que passaria até mesmo pelo período de experiência.

"Eu só escutava a palavra ‘nunca’. As pessoas diziam ‘estranho contratarem uma comboista mulher, porque isso não é um trabalho de mulher’. Eu respondi ‘Não é? Pois veremos’. Eu entrei desacreditada. Uns me deram 15 dias, um mês, outros falavam que eu não passava do período de experiência”, relata Sônia.

Sonia compartilhou rotina de trabalho pesado na condução de caminhão de comboio (Foto: Arquivo/MS Florestal)
Sonia compartilhou rotina de trabalho pesado na condução de caminhão de comboio (Foto: Arquivo/MS Florestal)
Rotina inclúi sobe e desce de caminhões, abastercer veículos, abrir e fechar porteiras (Foto: Arquivo/MS Florestal)
Rotina inclúi sobe e desce de caminhões, abastercer veículos, abrir e fechar porteiras (Foto: Arquivo/MS Florestal)

Hoje, há mais de um ano na profissão, Sonia comemora ter conquistado o respeito da equipe, e agradece aos superiores que acreditaram em seu potencial quando lhe contrataram para a vaga.

O dia de Sonia começa bem cedo, logo às 6h da manhã. Ela roda em média 300 quilômetros por dia em um caminhão comboio que leva combustível para abastecer os maquinários das equipes que atuam em campo nas operações florestais.

A maioria dos trajetos são em estradas de terra, e até chegar na operação, são percorridos muitos quilômetros em meio a plantações de eucalipto. A única comunicação é o rádio comunicador. Sonia manobra por qualquer terreno e manuseia a mangueira para abastecer todos os maquinários, sem precisar de ajuda.

A rotina inclui bastante sobe e desce de máquinas quentes, trocas de óleo, abrir e fechar porteiras, tudo embaixo do sol quente. Apesar disso, ela não deixa dúvidas de que não existe nem um pingo de arrependimento pela sua escolha.

“Sou muito grata pela época do ônibus, mas eu gosto mesmo é do caminhão. No meu dia, sou eu, meu caminhão e Deus. É muito bom ter esse momento pra pensar, pra colocar música se eu quiser, e poder dirigir sem carregar passageiros. É meu momento”, finaliza.

Na estrada, Sonia relata sentir paz e não se arrepende de ter apostado tudo na nova profissão (Foto: Arquivo/MS Florestal)
Na estrada, Sonia relata sentir paz e não se arrepende de ter apostado tudo na nova profissão (Foto: Arquivo/MS Florestal)

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