Tocando violino no Centro, Marcos sonha virar “músico de verdade”
Desempregado, Marcos foi às ruas fazer da paixão pelo violino uma forma de ganhar dinheiro para se tornar músico profissional
Na calçada da rua 14 de Julho em Campo Grande, medo e esperança se manifestam na mesma pessoa ao mesmo tempo. Marcos Domingos Mendes tem 45 anos, toca seu violino solitariamente para um público apressado e desconfiado que passa pela calçada. A caixa do violino aberta com poucas moedas representa seu medo. O violino em suas mãos representa a esperança.
Desempregado desde dezembro de 2020, quando foi dispensando do cargo de balconista de um açougue, Marcos decidiu tomar coragem e tentar realizar um sonho: ganhar dinheiro tocando violino, sua maior paixão. Por isso saiu às ruas do Centro para alegrar brevemente as pessoas que cruzam seu caminho.
Marcos é de São Paulo, onde aprendeu tocar há 13 anos. Ele está em Campo Grande há um ano. Veio com a mãe. Seu começo foi na igreja, mas logo saiu porque desconfiaram que tinha a intenção de aprender a tocar violino como profissão, algo não permitido naquela congregação.
“Na verdade eu sou autodidata, porque só comecei na igreja, o resto aprendi praticamente sozinho”, explica.
Marcos é modesto, afirma que não se sente músico ainda porque tem muito o que aprender. “Música é quem consegue ser regido por um maestro. Eu ainda não consigo”.
A palavra “ainda” resume bem a obstinação dele. Marcos quer ganhar dinheiro para arrumar sua Kombi e ir ao Rio de Janeiro estudar na Escola de Música Villa-Lobos.
Eu quero me aperfeiçoar, aprender a tocar como um músico de verdade e ganhar a vida fazendo o que mais amo”.
Porém, infelizmente, mesmo amando tocar violino, isso não tem sido o suficiente para ele ganhar o dinheiro que precisa. “Eu estou fazendo isso como única opção quase, mas se me aparecesse um emprego registrado, eu aceitaria, é o jeito”.
Seu violino tem cerca de 10 anos e está bem gasto. As finas cordas estão aos poucos quebrando e não devem durar mais muito tempo. “Eu preciso dar uma manutenção nele também, mas isso é caro”.
Mas enquanto elas duram, Marcos toca violino e seu sonho adiante na rua 14 de Julho.
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