Todo dia, Pedro mói o café para sentir o amor da esposa que morreu
Casa rodeada de árvores na Vila Gomes é cheia de saudade e memórias de um amor que se foi há 3 anos
Pedro José Inácio, de 79 anos, é um mineiro que, há 53 anos, chegou em Campo Grande sem intenção de voltar para a terra natal. Na cidade, ele trabalhou em uma empresa de automóveis onde ficava na linha de montagem. Depois de décadas dedicadas ao ofício, Pedro aproveita a vida no sossego que a casa onde mora fornece.
A residência localizada no Bairro Vila Gomes é um verdadeiro refúgio da natureza em meio à área urbana. Devido às grandes árvores e plantas no quintal, o lugar parece uma pequena chácara. É da varanda que Pedro acompanha o movimento da rua e vê os dias e tardes começarem e terminarem.
Natural de Uberlândia, Pedro vive há 34 anos na casa onde compartilhou 31 deles ao lado da esposa Hortência. “Ela foi embora da minha vida há três anos, para mim, foi a coisa mais difícil do mundo e até hoje, ainda sinto falta. Quando estou moendo café, lembro dela, porque ela que fazia”, diz.
A companheira partiu, mas o costume de acordar cedo e moer o café continuou. Orgulhoso, ele afirma que a bebida tem ótima qualidade graças à forma como a prepara. “O café é bom, os grãos eu mesmo compro lá no Mercadão”, conta. A rotina de Pedro não apresenta grandes surpresas e, segundo ele, é repleta de sossego. "Eu acordo cedo, faço a limpeza, tiro as folhas, depois, fico aqui tranquilo sentado”, fala.
Cada canto do terreno onde mora tem uma história e significado diferente para o Pedro, desde os pés de manga aos poços, que hoje, perderam a utilidade. Ao mostrar uma marca no chão de concreto, Pedro compartilha um sonho antigo que tinha com a mulher. “Nossa meta era fazer um sobradinho, ela queria muito, mas foi embora antes e não me esperou”, desabafa.
Na casa, que é uma junção de alvenaria e madeira antiga, o morador conserva fotos dos netos e o pequeno altar de oração que a esposa mantinha. Católico e devoto de Nossa Senhora Aparecida, hoje, é ele faz as preces em nome da mulher. "Todo dia de manhã e noite, venho aqui acender uma vela para ela", relata.
Ao lembrar dela, Pedro faz questão de dizer que tudo que tem no espaço foi conquistado “em comum acordo” por ambos. “Aqui tudo foi ela que me ajudou a adquirir, porque 31 anos não é pouco tempo”, frisa.
Mesmo sem Hortência, o morador segue tendo a companhia da filha, que mora na casa ao lado da dele. Ele diz que é a caçula quem cuida dele e prepara as refeições desde que a mãe se foi. Apesar disso, Pedro comenta que quando quer, não perde a chance de fazer os pratos que gosta. “Quando me dá vontade de comer uma abobrinha, eu faço ela em cubinhos. Eu também faço cará, que é uma batatinha com carne moída que gosto bastante”, explica.
Com diversos motivos para gostar do lar e de tudo que o rodeia, Pedro não pensa em voltar para Minas Gerais, mesmo a pedido dos irmãos. “Eles me chamaram, mas aqui que é o meu cantinho”, conclui.
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