Todo sábado, porta de igreja mostra dura realidade de quem tem fome
Há 2 anos, voluntários realizam almoço solidário para alimentar mais de 500 pessoas
Mais do que fé, a porta de uma igreja na Vila Popular, aos sábados, mostra a dura realidade de moradores que vivem seu dia a dia atualmente com dificuldade para conseguir se alimentar.
O Lado B foi acompanhar o trabalho de uma comunidade que usa a igreja como ponto de encontro para um almoço solidário, que é feito com muito capricho e carinho por fiéis e voluntários do bairro, e que é entregue a mais de 500 pessoas todos os sábados.
Na porta da Paróquia Maria Medianeira das Graças, que fica na Avenida José Pereira, a cada sábado, a fila é cada vez maior e os perfis de quem busca alimentos preparados são diferentes, não se restringe às pessoas em situações de rua. Até quem ganha salário não tem dado conta de comer com o próprio ‘bolso’, por causa da baixa remuneração e o aumento dos preços de quase tudo nas prateleiras do supermercado.
O agravamento desta realidade se deu logo no início da pandemia, em março de 2020, mesmo ano em que a comunidade decidiu dar início ao projeto, graças a iniciativa do padre Jesudhas Jesuadimai Fernando, que se comoveu com inúmeras famílias sem ter o que comer em casa.
“Encontrei famílias na extrema pobreza, passando dias sem comer. Foi quando eu conversei com a comunidade e decidimos fazer esse almoço todos os sábados. Não podíamos ficar de braços cruzados enquanto uma criança derramava lágrimas porque tinha fome”, diz o padre mostrando a foto de uma criança de dois anos chorando, que ele guarda no celular, na intenção de mudar a realidade dessas famílias que ele encontra quase diariamente sofrendo.
Neste último sábado, cerca de 500 pessoas compareceram ao almoço e chegaram ao local cedo, por volta das 7h da manhã, com as vasilhas na mão. O almoço é servido das 11h às 11h30. No cardápio, arroz, feijão, macarronada, guisado (carne com mandioca), farofa temperada e salada.
Para realização do almoço, seis equipes revezam nos sábados para o preparo dos alimentos que começam cedinho. Tudo é preparado com muito capricho e cuidado pelos voluntários, que usam aventais e touquinhas e prezam pela higiene máxima dos alimentos e da cozinha.
Os mantimentos utilizados nos últimos dois anos tem vindo de doações, mas quando falta algo, os próprios voluntários tiram do bolso e compram o que for necessário para garantir o almoço das famílias.
No prato da dona Ramona Rosa, de 65 anos, às vezes, apenas arroz e feijão. Quando não há dinheiro para mistura, ela torce pela chegada do sábado para garantir o alimento doado pela igreja. Nas vasilhas, o guisado e macarronada preparada pelos voluntários são a esperança de que a fome não esteja presente naquela semana, mas ela torce mesmo é pela mudança na vida. “Não está nada fácil. Já chegou a faltar mistura, isso é muito triste. Ainda tem aluguel pra pagar”, lamenta a aposentada, que mora com outros dois familiares.
Adriana Araújo, de 23 anos, mora com seis pessoas e também foi até o almoço garantir alimento neste fim de semana para toda a família. O marido trabalha, mas o salário não tem sido suficiente para suprir o mês todo.
A fila que se forma é organizada. Antes de pegar os alimentos, é preciso passar por uma voluntária e informar o número de pessoas na casa que irão se alimentar, assim os demais voluntários servem alimento suficiente para que todos fiquem satisfeitos.
O pedido para que cada um leve sua vasilha é uma forma de evitar o descarte de marmitas descartáveis pelo bairro, no entanto, até os recipientes na fila expõe a vulnerabilidade das famílias. “Tem gente que chega aqui para servir a comida em embalagem de água sanitária, é muito triste. Em alguns casos já compramos vasilhas para que essas pessoas não fiquem expostas aos riscos”, explica o padre.
Para a coordenadora da equipe que preparou o almoço deste sábado, Ana Lúcia Candeias, o sentimento é de fé. “A gente fica feliz de poder ajudar um pouquinho, ainda que a realidade dessas pessoas não esteja totalmente mudada. Mas acredito na união da nossa comunidade”.
Além de moradores da própria Vila Popular, tem famílias que chegam de ônibus e outras que chegam a pé de bairros vizinhos, como Serradinho, Nova Campo Grande e até o Núcleo Industrial.
Como ajudar - Quem quiser contribuir com alimentos ou dinheiro para o preparo do almoço todos sábados, o contato pode ser feito com a igreja através do telefone (67) 3363-7902. Você também pode levar doações à igreja em horário comercial de segunda a sexta. A paróquia fica na Avenida José Nogueira, 372.
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