Tradição de décadas, festa a São Jorge é marco da fé de bisneto após 3 acidentes
Uma promessa que começou na guerra e atravessou décadas mantém a fé acesa da família Assunção. Para não ver o filho embarcar rumo ao segundo grande conflito mundial, dona Damiana fez um pedido: pela vida de Quirino, nunca mais deixaria de fazer uma festa em homenagem a São Jorge.
A tradição começou sete décadas atrás, teve uma pausa depois da morte de mãe e filho, e alcançou o bisneto, há nove anos. Amaral é hoje quem toma a frente, em especial depois de sair ileso de três acidentes de trânsito. A festa de família fala muito sobre a fé e se relaciona principalmente importância que se dá ao pedido atendido de Damiana.
Dona Juliana era criança quando a mãe, Damiana, começou. "Era a festa do meu irmão, que estava servindo no quartel e, quando teve a guerra, ela pediu para São Jorge. Foi assim que foi", descreve a senhorinha Juliana Lima de Assunção, do alto dos 84 anos.
Cercada de amigos e familiares, ela vê a festa como motivo para reunir os descendentes dos Assunção. E o que não faltam são convidados. Apesar de ser fechada, a comemoração não reúne menos de 200 pessoas. Nesse sábado, uma chácara alugada no bairro Santa Emília foi a sede.
A programação começou pela manhã, sendo os convidados bem servidos com comida pantaneira. De sopa paraguaia a churrasco, incluindo paçoca de carne de sol feita no pilão. Uma cena de encher a boca d'água, com direito à costela feita no chão.
"Eu já sabia desta história, mas fui colhendo com meus avós e tios. Vem lá de trás este compromisso com São Jorge. A última foi feita pelo finado irmão da minha avó", conta o engenheiro Amaral Assunção, de 36 anos.
Foram duas décadas de interrupção, até ele resolver voltar com a festividade. Na nona edição, nada o impede de seguir com a comemoração. "Além de ser um momento de fé, a gente consegue reunir amigos e família", justifica o bisneto.
São seis meses de antecedência para a realização que a gente vê no dia. Com bebidas e música ao vivo. Voluntários contribuem mensalmente com o que podem e o "grosso" sai do bolso de Amaral mesmo.
"É para São Jorge. Na verdade, o que nós cremos é nele como um guerreiro e significa protetor, que batalha e nunca desistiu das ideias dele", explica Amaral.
A festa tem a participação religiosa de um representante da Igreja Católica que abençoa e benze os devotos convidados.
O que se prega é que São Jorge nasceu na Capadócia e, depois da morte do pai, se mudou para a Palestina, onde entrou para o Exército Romano. Devido às suas habilidades, foi promovido no Exército e depois que o Imperador Diocleciano declarou guerra aos cristãos, ele passou por diversas torturas, sem se render.
Entre as tentativas, a mando do imperador, São Jorge conseguiu destruir um templo, resistiu às lanças vindas do Exército, mas acabou morto decapitado em 23 de abril de 303, aos 30 anos de idade. A devoção ao santo rapidamente se tornou popular e é o que sustenta hoje a fé da família.
"Para mim ele é um guerreiro. A gente que vem de fazenda tem essa identificação com São Jorge. E é uma festa que se faz há anos, sempre como um voto", resume dona Juliana.
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