Três meses sem andar foi recomeço de Kethlyn ao lado de quem realmente importa
“Eu aprendi que família é o essencial e a única coisa que importa".
“Não era o que eu queria, mas talvez fosse o que eu precisava”. A frase tatuada próximo a cicatriz de 28 pontos na bacia resume o fechamento de 2019 para a acadêmica de Administração Kethlyn Fialho, de 23 anos. Do famoso clichê “há males que vem para bem”, a jovem precisou ficar três meses sem andar para entender o que realmente importa nessa vida: a família.
Com uma vida totalmente independente, Kethlyn morava sozinha e com muito esforço já tinha mobiliado sua casa. Trabalhando em dois períodos e estudando, muitas vezes, na madrugada, o tempo era escasso e a correria dobrada. No dia 21 de setembro, Kethlyn deixou o buffet onde prestava serviço de freelancer por volta das 23h30, e como passaria o domingo com a mãe, decidiu passar em casa para pegar algumas roupas.
“Cheguei na minha mãe quase meia noite e meia e estava morrendo de fome. Como estava com a minha moto busquei um colega que mora perto e fomos lanchar na Júlio de Castilho. A gente ia seguir para a casa desse meu amigo, mas antes decidimos comprar algumas coisas em uma conveniência quase em frente a uma unidade da Anhanguera”, conta Kethlyn.
A jovem conta que nesse momento, o amigo pilotava sua motocicleta. Ela lembra que um carro de táxi estava parado embarcando passageiros, quando eles deixaram a conveniência.
“De repente o taxista fez uma conversão à esquerda, não deu seta, não olhou no retrovisor, só entrou. Por sorte, nós não estávamos em alta velocidade, pois tínhamos acabado de deixar a conveniência, então, quando bateu, meu amigo freou a moto. Ele ficou e eu voei por cima do carro”, lembra a jovem.
Kethlyn caiu sentada e o impacto causou a fratura da bacia e o deslocamento do fêmur. As duas cirurgias renderam uma placa de titânio, quatro pinos, sete pontos na canela, 28 pontos na bacia e três meses sem andar.
Em estado de choque, a jovem conta que não sentia dor no momento do acidente e se recorda de conseguir avisar a família e ser transportada para a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Vila Almeida pelo Corpo de Bombeiros.
A jovem conta que o atendimento na unidade foi precário e sem conseguir se movimentar até a mesa do Raio-X chegou a ser puxada por uma enfermeira do plantão. “Foi quando as dores se intensificaram e eu só gritava de dor”, lembra.
A essa altura do campeonato, a mãe de Kethlyn, Kelly Fialho, de 41 anos, já estava na unidade, mas só conseguiu contato com a filha horas depois. “Eu pedi várias vezes para falar com a minha mãe, pois queria que ela avisasse minha chefe sobre o que tinha acontecido”, conta.
Kelly está afastada do trabalho há oito meses devido a crises de síndrome do pânico e, mesmo assim, aguentou todas as informações sobre a filha e as intervenções do taxista que durante todos os dias de internação de Kethlyn ligava cobrando o conserto do carro.
Logo após ser transferida para a Santa Casa, Kethlyn passou por mais uma avaliação radiográfica e foi submetida ao primeiro procedimento no fêmur. A segunda cirurgia reestruturou a bacia. A região recebeu uma placa e seis pinos. O procedimento foi fechado em 28 pontos. Kethlyn passou uma semana no hospital e mais três meses sem andar em casa.
Reaproximação – De uma vida independente, Kethlyn precisou entregar o imóvel onde morava e voltar para a casa da mãe, que permaneceu ao seu lado durante todos os dias de aflição. Com o dinheiro da venda dos móveis, Kethlyn quitou seu plano médico que estava atrasado e deu entrada no conserto da motocicleta que ficou avaliado em R$ 4 mil.
Mãe e filha buscaram um advogado e o defensor auxiliou na entrada do Seguro Dpvat (Danos Pessoais por Veículos Automotores Terrestres) e na abertura de uma ação de indenização contra o taxista. “Tive danos materiais e danos físicos. Hoje eu ando com o auxílio de uma muleta, dou alguns passos, mas também em distâncias curtas e mancando. Eu estou assistida pelo INSS até março, mas segundo o médico minha recuperação deve se estender por mais seis meses, porque ainda não estou liberada para a fisioterapia”, explica.
Kethlyn morava no Centro próximo do trabalho e faculdade. Agora depende da mãe para levá-la às aulas. Logo no início da recuperação, a jovem dependia de ajuda até para virar na cama e Kelly acordava quatro vezes na noite para apoiar a filha.
“Não era para ela voltar para casa assim, mas Deus sabe o que faz. Eu acho que a gente precisava desse momento para nós. Afastada do trabalho por conta da depressão tive algumas internações e foi a partir do acidente que ficamos mais próximas. Parece que precisava acontecer algo para que eu não tivesse as minhas crises. E desde que ela voltou eu não tive mais crises, posso dizer que não fiquei mais internada nesses três meses”, pontua a mãe.
“Eu aprendi que família é o essencial e é a única coisa que importa. Eu tinha praticamente tudo, mas na verdade estava sem nada, porque era tudo material. A gente trabalha para conseguir as coisas e de repente você não tem nada. A única coisa que você não perde é a família. Amizades que ficaram eu conto nos dedos. Quem eu achei que ficaria sumiu e quem eu menos esperava ficou. Me dei conta que às vezes damos muita atenção para coisas desnecessárias. Eu vinha ver minha mãe umas duas vezes por mês e depois disso quem ficou ao meu lado? Minha mãe. Minha família. Meus tios. Minha chefe também que me ajudou muito. Sou muito grata à minha mãe por tudo que ela fez e tem feito”, finaliza.
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