Violência contra profissionais de enfermagem assusta, diz presidente do Coren
Profissionais relatam agressões, falta de segurança e impacto psicológico do medo nas unidades de saúde
Assista ao episódio completo do Na Íntegra:
A agressão sofrida por uma enfermeira dentro da UPA Universitário, em Campo Grande, escancarou um problema recorrente enfrentado por profissionais da saúde: a violência no ambiente de trabalho. O tema foi debatido no podcast Na Íntegra, do Campo Grande News, em conversa entre o jornalista Lucas Mamédio e o presidente do Coren-MS (Conselho Regional de Enfermagem), Leandro Dias.
O caso, ocorrido na madrugada do dia 26 de fevereiro, chamou atenção pela ousadia e covardia. O agressor invadiu a unidade, tentou arrastar a enfermeira para o banheiro e só não concluiu o estupro porque colegas ouviram os gritos e intervieram. Ele chegou a ser trancado na sala de raio-X, mas conseguiu fugir.
Para Leandro Dias, a situação reflete um cenário de insegurança nas unidades públicas de saúde, onde enfermeiros, técnicos e médicos se tornam alvos fáceis de agressões físicas e psicológicas. "Essa enfermeira sofreu uma tentativa de estupro, mas temos recebido outros casos de violência constantemente. Só na última semana foram três denúncias formais, sem contar as situações diárias que nem chegam a ser registradas", afirmou.
Segundo ele, a falta de estrutura e de policiamento adequado agrava a vulnerabilidade desses trabalhadores. Após o episódio da UPA Universitário, a unidade recebeu uma base fixa da segurança municipal, mas o problema vai além da presença de guardas na porta.
"A violência acontece dentro dos consultórios, nos corredores. São ambientes fechados, sem estrutura para conter uma agressão. O medo faz com que os profissionais se isolem ainda mais", explicou o presidente do Coren-MS.
Outro ponto abordado no podcast foi o impacto psicológico da violência sobre os profissionais da saúde. De acordo com Dias, muitos enfermeiros desenvolvem transtornos como ansiedade e depressão, além de fazerem uso de medicamentos para suportar a pressão do trabalho.
"A insegurança é um fator de adoecimento. O profissional chega para trabalhar e não sabe se vai sair ileso. Isso sem falar na sobrecarga: a maioria precisa ter dois empregos para conseguir uma remuneração digna. É um desgaste físico e mental enorme", pontuou.
Ele também mencionou a tentativa de criar políticas públicas que garantam mais proteção aos trabalhadores da saúde, incluindo um projeto de lei para fortalecer a segurança nas unidades e assistência psicológica para os profissionais.
A conversa também trouxe à tona outras formas de violência enfrentadas pelos profissionais de enfermagem. O presidente do Coren-MS revelou que casos de assédio sexual e discriminação de gênero são frequentes, especialmente contra mulheres – que representam cerca de 70% da categoria.
"Temos muitas enfermeiras que relatam assédio por parte de pacientes e até de colegas. Além disso, ainda há preconceito contra profissionais LGBTQIA+, com casos de pacientes que recusam atendimento por conta da orientação sexual do enfermeiro", relatou.
Para Dias, o problema passa por uma mudança cultural. "O respeito ao profissional da saúde precisa ser reforçado. Eles estão ali para salvar vidas, mas acabam sendo alvos de violência, assédio e preconceito. Isso precisa mudar."
O podcast também destacou a necessidade de mais mobilização da categoria e da sociedade para pressionar o poder público por medidas efetivas. "Temos audiência pública marcada para junho na Assembleia Legislativa, para discutir soluções. Mas precisamos de ação, e não só discursos", disse Dias.
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