Único disco gravado em 50 anos é reflexo de luta para viver de música
Simona começou com pandeiro feito de lata e nunca mais abandonou os ritmos
Aos 73 anos, Manoel Sotero de Oliveira dedicou mais de meio século ao mundo da música e, apesar de muita luta, conseguiu gravar apenas um disco para eternizar suas criações. Ainda assim, o “mestre” Simona não abandona os ritmos e há mais de 10 anos repassa os conhecimentos para crianças e adolescentes.
“Acho que aprendi a gostar de música com meu pai e minha mãe, ficava ouvindo viola de cocho e reco-reco”, introduz o músico que não deixa de transformar bares em palcos. Ainda pequeno, Simona ganhou um pandeiro improvisado e, desde então, não parou mais.
Em 2005, depois de muita luta, conseguiu apoio para seu primeiro CD com 13 músicas gravadas. Antes e depois disso, as composições não pararam e, por falta de apoio, as melodias precisam ficar apenas na relação do ao vivo entre ele e o público.
Orgulhoso da própria história, o músico narra que se divide entre as alegrias e possibilidades de ter feito mais. E, nos momentos de alegria, compartilhar o amor pela música com novas gerações é um dos pontos altos.
“Há mais ou menos 13 anos eu já dou aula para crianças e adolescentes da periferia. Acho que é com eles que eu tento ver a melhor parte da música, quero mostrar que não importa de onde eles vêm”, explica Simona.
Assim como conseguiu deixar a vida de engraxate para trás, ele narra que tenta repassar diariamente mensagens aos alunos. “Muitos deles não tem uma família que apoia, não existe esse suporte. Mas eu falo que basta tentar, se esforçar ao menos para aprender”.
E, mesmo quando os jovens não entram no caminho da música, o agradecimento acaba chegando de uma forma ou outra. “É engraçado porque às vezes aparece um falando ‘pô professor, não aprendi a tocar violão, mas arrumei um emprego, tenho uma família’ e isso já é bom demais. Eles encontram um bom caminho”, diz.
Olhando para essa parte da vida, o músico conta que se engajar na educação é um dos grandes pontos de alegria. E, assim como ocorre com o violão, se aposentar não passa de especulações alheias.
Retornando para a música, Simona explica que mesmo tendo feito tanto por um período tão longo, não sabe dizer quais motivos fizeram com que ele não ganhasse um destaque duradouro. Exemplificando, comenta que seus shows grandes são raros, por isso se mantém nos bares que o acolhem há muito tempo.
“Eu fiz um pouco de tudo na minha vida. Abri shows, criei músicas, toquei em tudo quanto é lugar, fiz parte das mudanças musicais de Campo Grande, então não sei”.
Contando sobre a primeira fase de seu próprio aprendizado, ele comenta que a família era humilde e dali é que veio o pandeirinho. “Meu pai pegou uma lata, colocou algumas tampinhas e eu ia ali fazendo o som. Aprendia fazer ritmo, brincava e só depois que fui para o violão”.
Com o pai, a posição dos dedos e movimentos da mão no violão começaram a ganhar agilidade. “Ele me ensinou os acordes e eu ficava feliz de ver a música saindo. Aprendi rápido, tanto que em pouco tempo era meu pai que me pedia ajuda”, relembra.
Assim como recebeu o gosto passado pelos pais, Simona também compartilha a história com sua família. “Não posso esquecer dos meus parceiros de composições. Meu primo Edson de Morais, Lázaro, Sérgio Cruz e meu filho, Mano Moreira. Minha filha Karô Castanha sempre canta comigo, assim como meu filho e minha filha Simony também está começando a cantar”.
No período inicial, ele e a família moravam no interior de Mato Grosso do Sul e, apesar de ter nascido no Mato Grosso, foi aqui que construiu suas referências musicais. De samba até Elis Regina, o cantor foi “nascendo” enquanto ouvia as novidades da época.
Na adolescência, morando em Terenos, o trabalho como engraxate era unido com os ritmos do samba para cuidar dos sapatos. E, apesar de ter insistido no gênero musical, percebeu que seu ritmo era outro.
Foi assim que Simona introduziu em Campo Grande, durante a década de 1980, repertórios de MPB, Jovem Guarda e soul music. “Eu tentei por um bom tempo ir no samba pelas minhas origens com o pandeiro, mas não me encontrava. Depois, ouvindo Roberto Carlos, por exemplo, vi que meu jeito era algo mais rock nesse sentido”.
Antes disso, entre a década de 1960 e 1970, começou a mostrar para a cidade que era possível unir soul e rock. E, mais do que ser mais um, sempre mostrou que seu nome poderia ser conhecido.
Apesar de toda a trajetória, Simona conta que o presente e o futuro poderiam ser melhores, mas reforça o carinho. “Quando a gente passa dos 70, as expectativas já não são mais tão altas. Mas eu não desisto porque música é o que eu faço. O que penso é que os músicos poderiam ser mais valorizados, eu mesmo continuo compondo, não paro. Se eu pudesse, gravava vários outros discos”.
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