Varal com chicote na calçada é tudo para quem não esquece Pantanal
No Jardim Anache, o homem que passou 33 anos no Pantanal expõe o trabalho artesanal em frente de casa
No lugar onde sabe a idade do asfalto, Moacir Gonçalves Dias, de 72 anos, vende em frente à casa onde mora talento, habilidade e conhecimento de quem passou a vida embrenhado no Pantanal. A junção dessas três coisas é colocada na produção de chicotes de couro costurados à mão.
Moacir é um homem que fala rapidinho sem tropeçar nas palavras e emenda uma conversa atrás da outra. Na calçada, depois de se apresentar, ele explica que o motivo de estar vendendo os instrumentos para a ‘lida’ de gado é conseguir dinheiro extra para as despesas do lar. “Tudo que você vende ajuda”, afirma.
Aposentado há nove anos, ele relata numa curta frase a grande experiência que acumulou como peão. “Mexi 33 anos no Pantanal, a comitiva foram 10 anos, trabalhei no estradão com gado e eu não sou daqui, sou de Barretos”, anuncia.
Em 1983, ele veio para Mato Grosso do Sul e foi beiradeando cidades vizinhas que parou em Campo Grande. Na terra natal, Moacir atuava como enfermeiro, mas o sonho de conhecer o Pantanal somado a falta de interesse na área de saúde o fizeram mudar de estado.
Ao revelar esse sonho de vida, Moacir sai falando sobre a região onde mora há 40 anos. O Bairro Jardim Anache é o lugar onde o homem chegou para viver com a esposa Neusa, com quem é casado há 50 anos. O casamento resultou em cinco filhos, 17 netos e 11 ‘bisnetinhos’.
“Meu sonho era conhecer o Pantanal, quando cheguei aqui não tinha nada, sou fundador daqui. Isso aqui era mato só tinha eu e essa casa da esquina, era matinho, tudo sujo. Esse asfalto aqui fez oito anos agora”, comenta.
Veja o vídeo:
Na calçada, próximo ao asfalto que fez aniversário em agosto de 2022, Moacir cravou duas estacas de madeira. Ali improvisou um varal onde organizou os chicotes e as guachas. Feitas com couro curtido ou cru, os itens artesanais são vendidos a R$ 80.
Moacir fala da produção com orgulho, explica detalhes da costura, material e se diz indignado porque as pessoas não compram e quando compram querem quase ‘de graça’.
“É difícil vender, porque na selaria não querem pagar o que vale, querem pagar vinte reais, é um trabalho fazer isso aí. A gente tem que procurar valorizar o que faz. Fui ver na CLC, mas você tem que deixar um salário mínimo pra poder vender lá”, conta.
A indignação não é maior que o bom humor do senhor que investe um dia todo para produzir os acessórios. Esses mesmos acessórios, segundo Moacir, saem mais caros que o dele em outros pontos da cidade.
“Esses dias fui numa selaria da 14, entrei pra dar uma olhadinha, perguntei pro rapaz onde tinha guacha. Ele veio com umas coisas mais horríveis do mundo, ele só costurou esses pauzinho, a costura tava solta, era R$ 130”, comenta.
Quando não está fazendo os acessórios, Moacir aproveita a tranquilidade de casa. Às vezes, ele viaja para Rio Verde onde ajuda o filho na ‘lida’ com os bichos. Questionado se sente falta do Pantanal, Moacir é enfático.
“Vish Maria, demais, quer ver não. Eu tenho um carrinho velho aqui que pego e vou pra lá. Fico 15 dias, 20 dias”, destaca.
Quem quise adquirir um dos itens artesanais de Moacir, é só entrar em contato com a neta dela. O telefone da Carol é (67) 9. 9191-8333
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