Violões de Marcos Borges são nome de Campo Grande em quase 2 mil hits
Apesar de autodidata e ainda adolescente tirar canções de ouvido, Marcos se formou em Música pela UFMS
Aos 34 anos, Marcos Borges é o nome de Campo Grande no cenário nacional, quando o assunto é a gravação de violões. Em comemoração aos 120 anos da cidade, o Lado B conversou com o violonista, que exibe uma carreira impecável diante do empenho e amor ao que faz.
Que Mato Grosso do Sul é bem representando quando o assunto é arte todo sabemos, mas e quem está nos bastidores durante a produção de um material bacana de ouvir? Marcos Borges é autodidata e ainda adolescente tirava músicas de ouvido, mesmo assim se formou em Música pela UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul). Vegetariano e fotógrafo nas horas vagas, o músico é dono de um Black Power invejável, mas não se considera um galã.
Como um violonista nato, mantém as unhas da mão direita na medida e para evitar a quebra, às vezes recorre ao reforço do gel ou trabalho de porcelana de uma manicure. Com o home studio em obras, Marcos cedeu entrevista ao Lado B, no prédio do Campo Grande News. Com seu valioso instrumento de trabalho de uma das edições Takamine , o sul-mato-grossense chegou preparado com um gelado tereré.
Mas quem é o campo-grandense que leva o nome da cidade de forma responsável a todo o Brasil? Para quem curte sertanejo e liga o rádio nos últimos sete anos, com certeza já ouviu uma canção em que Marcos estivesse por trás dos acordes perfeitamente afinados.
Para quem ainda não sabe, Marcos assina os violões de Você Me Trocou (Chitãozinho e Xororó), O Cowboy Vai Te Pegar (Rio Negro e Solimões), Domingo de Manhã (Marcos e Belutti), Escreve, aí (Luan Santana), Homem de Família (Gustavo Lima), Que Sorte a Nossa (Paula Mattos) e, praticamente, todos os últimos sucessos de Marilia Mendonça.
Ligado à arte desde criança, Marcos sempre teve contato com instrumentos. Ainda na adolescência tirava músicas de ouvido, mas nunca se imaginou com um músico profissional.
Aos 16 anos, Marcos participava de bandas, uma delas a BR-060, com amigos do Coophavilla II e diferente da maioria dos músicos, que começaram em palcos de igrejas evangélicas, iniciou as tocadas na missa da igreja Católica.
Marcos viveu até os 10 anos no Santo Amaro e depois se mudou com a família para o Aero Rancho. Se formou em Música pela UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), em 2007, a até hoje admite que entrou no curso meio perdido.
“Em princípio, eu queria só tocar e ficar de boa, como hobby, mas quando surgiu a faculdade de Música na UFMS eu decidi entrar para me tornar um instrumentista. Achei que fosse um “intensivão” para aprender vários instrumentos. É claro, que você pode fazer isso sem faculdade, principalmente, com a internet. Mas foi quase na metade do curso que descobri que a licenciatura me tornaria um professor. Foi também a partir daí, que tudo foi ficando mais sério”, conta.
Formado, o músico passou a dar aulas particulares e até em projetos sociais como o Musicalizando e Música MS. Não demorou muito para que Marcos caísse na estrada com artistas de Campo Grande. Uma das primeiras equipes foi a da cantora Brunna Campos e, em seguida, Janaynna Targino, estourada na época.
A vida nas “carpidas” seguiu de 2008 a 2012, quando o também campo-grandense Wlajones Carvalho, conhecido na música como “Pacote” fez um convite “divisor de águas”. Marcos já havia gravado em São Paulo, mas nada que garantisse uma sequência.
“Quem me impulsionou nas gravações foi Wlajones, no estúdio dele. Foi na época que o sertanejo também estourou em todo o país e, de alguma forma, São Paulo tinha uma carência de músicos que fizessem essa linguagem do sertanejo sul-mato-grossense. Acabei que peguei a “onda” e caí no gosto de outros produtores e a partir disso abriu um mundo de oportunidades”, conta.
Foi neste mesmo período que o campo-grandense conheceu a equipe da FS Produções Artísticas de Fernando e Sorocaba e gravou o primeiro hit da carreira. “Diria que foi o marco histórico das minhas gravações, que foi quando gravei com Marcos e Bellutti, o primeiro acústico que tem “Domingo de Manhã””, pontua.
Diante da tecnologia, a viagem até São Paulo não é necessariamente obrigatória. O músico montou um home estúdio onde recebe projetos de produtores e faz suas gravações online. Apesar do trabalho à distância, Marcos não deixa de estudar ou receber materiais um dia sequer.
Apesar de discordar do método, Marcos já chegou a gravar um CD de 15 músicas em um dia. O músico nunca fez um balanço exato de todas as gravações, mas em uma conta rápida entre CDs e DVDs gravados nos últimos sete anos, o número quase chega a dois mil hits, já que são trabalhos de artistas famosos no cenário sertanejo.
“O normal são gravações de cinco a seis músicas por dia, pois gravo tranquilo e consigo deixar de um jeito que eu mesmo me aprove e que eu goste do que estou ouvindo. Sou muito perfeccionista, na verdade”, pontua.
E na play list de Marcos? No dia de descanso, depois de tantas gravações, toca de tudo em seu fone de ouvido, menos sertanejo. “Ouço música gringa, latina, clássica e erudita, até por influência da faculdade. Como estudei violão clássico e tive contato com repertório e técnicas, então de alguma forma coloco em prática na minha tocada no sertanejo. Aí, vem a pergunta: por que esse cara é diferente tocando? Porque ele ouve outras coisas”, ri.
Uma das maiores influências de Marcos no sertanejo é o violonista goiano Marco Abreu, que há anos é referência em todo o país como músico de Bruno e Marrone. “Todo mundo sabe quem é ele e quer arrancar som que ele faz”, frisa.
Acompanhando as gravações de Marília Mendonça no projeto Em Todos os Cantos, Marcos avalia que esse será o maior DVD da história do país, já que cada cidade recebe uma gravação com recorde de público.
Caseiro, Marcos é um músico “diferentão” e troca qualquer balada pelo conforto do lar ao lado da esposa Angélica Chagas, com quem se relaciona há 14 anos, e a filha Catarina Borges, de 5 anos.
“Eu costumo fazer uma zoeira desde que o baterista gringo Tony Royster Jr. veio a Campo Grande e foi na Valley Pub. Eu, particularmente, não sei como é a Valley por dentro. Então, o cara saiu dos EUA e foi na casa de show e eu nunca fui. Para mim, quanto mais ficar em casa é melhor”, compara.
Marcos garante que apesar da licença para dar aulas continuará nos estúdios. “Obviamente continuaria gravando. Eu vivo confortável hoje e sou feliz no que faço. Eu não sei se teria o padrão de vida que tenho hoje se fosse professor. Às vezes é domingo à noite e eu estou gravando, mas aí vem segunda-feira todo mundo reclamando de ir trabalhar e eu estou no sofá com minha filha assistindo desenho. Enquanto tem gente querendo que a sexta chegue logo, eu fico louco para terça-feira não acabar, por exemplo”, conta.
Marcos tem quase 31 mil seguidores no Instagram e mantém um canal no YouTube com quase 32 mil inscritos, onde ensina técnicas aos seguidores. O violonista que hoje é referência incentiva quem está chegando agora e garante que amar o que faz só traz bons resultados.
“Amar o que faz já vai levar a um bom resultado. Eu sempre faço os trabalhos com muito capricho e fico martelando em cima da música, porque no fim eu quero ouvir e gostar. E quando eu mando para o produtor, quase sempre a mensagem de resposta é: Car****, que “sonzeira”! Mas os elogios são resultados do empenho. Mas se a pessoa quer ser um Marcos Borges para ter “like” no Instagram e no Facebook e não percebe que eu estou no mercado há um tempo batalhando, não adianta. Assim como criticam a Anitta, mas se ela está lá é porque ela merece. Então é a mesma coisa, numa escala muito menor, é claro, mas eu estou batalhando. Não tem segredo. O caminho é gostar do está fazendo, porque se você fizer bem feito, você vai se destacar. E isso acontece em qualquer profissão. Imagine se lá atrás eu tivesse feito um trabalho mal feito? Não teria acontecido nada do que aconteceu depois”, conta.