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Comportamento

Voluntários doam maquiagem e vestidos para meninas se formarem como sonharam

Cerca de 75 meninas ganharam roupas e formaram em projeto que existe há 4 anos

Thais Pimenta | 11/12/2017 06:28
Princesas em formatura. (Foto: Acervo Pessoal)
Princesas em formatura. (Foto: Acervo Pessoal)

A quarta turma do projeto Princesas da Escola Estadual Tereza de Noronha se formou neste sábado (9) em uma emocionante cerimônia de encerramento. O professor de Educação Física Jessé Fragoso da Cruz, responsável pela ação, não esconde o orgulho de poder formar o maior grupo de meninas que já passou pelo projeto. “Hoje é um dia muito especial porque é a coroação de todo o trabalho realizado durante um ano inteiro com essas garotas e também com suas famílias”, diz.

As formandas usaram vestidos doados pela população em geral, arrecadados por meio de campanhas. A maquiagem e os penteados foram feitos por voluntários. “A gente conseguiu quase 600 peças. Todos foram distribuídos e os que restaram foram doados para cerca de 60% das mães. As peças que não foram doados serão guardadas pro ano seguinte e também poderão ser locados para as mulheres do bairro por um preço mínimo", explica.

O ritual da noite seguiu os padrões de outras formaturas. As meninas e suas famílias estavam radiantes. Verdadeiras princesas desfilaram pelo salão, foram apresentadas pelo cerimonialista, dançaram a valsa com seus familiares, jantaram e finalizaram as comemorações se jogando na "pista de dança" da escola.

A diretora adjunta Marcia da Silva Teixeira destaca a importância da fomatura para as meninas. "Muitas delas aqui têm 15 anos então elas se sentem comemorando essa data. Algumas delas não terão outra oportunidade de se colocarem dessa forma, cuidarem de si, então é muito especial essa noite pra cada uma das 75 garotas que estão aqui", conta.

Meninas na sala de aula antes da festa.
Meninas na sala de aula antes da festa.

A presidente do Grêmio Estudantil, Desiree Souza Nascimento, participa pela quarta vez do Projeto das Princesas. Ela vem se envolvendo há anos porque diz aprender muito a cada edição. "Eu mudei muito depois que entrei no projeto. Passei a tirar notas boas, a respeitar meus pais e passo o conhecimento adiante". 

Desiree tem um sonho: quer trabalhar com crianças em abrigos e passar a elas tudo o que aprendeu até agora. "Quero ser médica e, nos tempos vagos, ir até os abrigos e ensinar as meninas", finaliza.

Fila para entrar na cerimônia. (Foto: Thaís Pimenta)
Fila para entrar na cerimônia. (Foto: Thaís Pimenta)

Sonhos não faziam parte da realidade dessas garotas. Vivendo na periferia da Capital, tinha acesso a muitas situações negativas nas quais acabavam se espelhando. A maioria vivia em situação e risco e vulnearabilidade social. Jessé explica que a gravidez precoce atingia níveis muitos altos no colégio, além das agressões físicas, dentro e fora do ambiente estudantil. 

"Sempre conversei muito com elas. Eu via essas situações e foi quando me veio a ideia de ajudá-las. Para mim, o meu propósito de vida é servir aos outros, então eu estou aqui servindo a elas", explica.

Ele completa: "o Projeto Princesas trabalha com três pilares, que são fazer com que as meninas resgatem sua identidade, ajudando elas a entender como elas são amadas e especiais. A consequência é que elas passam a se autovalorizar. Nessa busca ela permitem criar sonhos e perspectivas de vida".

Desiree e Jessé na formatura do ano passado.  (Foto: Acervo Pessoal)
Desiree e Jessé na formatura do ano passado. (Foto: Acervo Pessoal)

Tudo isso é alcançado por meio de uma tecnologia social bem simples, baseada em três ferramentas. Semanalmente essas garotas participam de rodas de discussões. "São momentos em que elas refletem em conjunto", fala Jessé. Cursos com os mais diversos temas são ministrados por profissionais voluntários, alguns deles permitem inclusive a ingressão no mercado de trabalho. Finalmente, palestras completam o ciclo que cada princesa vivencia em um ano de curso

O resultado de tanto trabalho é traduzido em números. O diretor da Escola Estadual Tereza de Noronha, Pedro Novaes, detalha: "o índice de reprovação em 2015 era de 26%. Depois de quatro anos do projeto, caiu pra 7% em 2017". Além disso, nenhuma das 75 meninas engravidaram.

Tem dado tão certo que hoje o projeto tem quatro polos, sendo reaplicados no Instituto IDE no bairro Caiobá, na Vila Carlota e em Cassilândia. Jessé quer expandir a ideia no futuro e lançar o Projeto Honra, dessa vez focado nos meninos.

Festa de encerramento. (Foto: Acervo pessoal/Dede Machado)
Festa de encerramento. (Foto: Acervo pessoal/Dede Machado)
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