Via-Sacra lembra trajetória de doentes no Hospital São Julião
Um paralelo entre os últimos instantes da vida de Jesus e a trajetória dos doentes. Desta maneira, trabalhadores e pacientes do Hospital São Julião, em Campo Grande, encenaram a Via-Sacra, na manhã desta Sexta-Feira da Paixão de Cristo (6).
Escrita por Lino Vilachá, poeta que ficou internado mais de 30 anos com hanseníase, a peça ‘do doente’ é encenada há 16 anos dentro da unidade hospitalar.
Desde que a obra começou a se encenada, quem organiza é o funcionário Bruno Maddalena, que também atua como músico durante a procissão.
“Cada estação da Via-Sacra faz comparação com momentos da recuperação da saúde do doente. Isso cria reflexão importante dentro do hospital e contribuiu para os funcionários e, principalmente, pacientes”.
No momento em que Jesus é condenado à morte, por exemplo, o escritor fez a comparação com a dor que alguém sente quando recebe a notícia de que está doente e precisa se tratar. Seguindo adiante, o paciente carrega a cruz do tratamento com quedas pelo caminho e se deparando com aflições de familiares e amigos.
Quando Jesus morre, paralelo com os doentes que são abandonados, esquecidos e até considerados mortos por parentes.
O capelão do São Julião, Frei Wanderley Gomes de Figueiredo, enfatizou que a encenação da Via-Sacra tem tudo a ver com a história do hospital.
“Além do sofrimento e abandono dos doentes, lembra também a solidariedade de Deus, que se compadece dos sofredores deste mundo. Olhando o sofrimento de Cristo, vivemos de maneira melhor nossos sofrimentos, sem desespero ou revolta”, afirmou o padre.
A Via-Sacra foi acompanhada também por parentes dos doentes, moradores dos bairros próximos e pessoas de outros lugares. Uma delas é o servidor público Odair Garcia da Silva, 47 anos, que considera importante a reflexão que a Paixão de Cristo proporciona.
“Tantas pessoas reclamam da vida. Ver a Via-Sacra dói e emociona, mas traz a gente à realidade, para tentar melhorar. Hoje, nós abandonamos as pessoas, principalmente os idosos e enfermos. Então temos que tirar Jesus da cruz e a única forma é ajudando o próximo”, relatou Silva.
Voluntário no São Julião, o estudante Junior Fernando Cruz de Souza, 16, destacou que os pacientes gostam de participar. “Eles se integram e se sentem até melhor”.
O Hospital São Julião é referência no tratamento de hanseníase, de doenças infectocontagiosas (como aids e tuberculose) e em cirurgias oftalmológicas (incluindo transplante de córnea). Atualmente, a unidade abriga cerca de 80 pacientes internos.