Anúncio é de igreja, mas bispa também corta cabelo por R$ 10 e tira xerox
Os cultos são terça e domingo à noite, mas o estabelecimento funciona todos os dias a partir das 9h da manhã para corte de cabelo unissex. A crise chegou até na igreja e no bairro Caiobá tem templo ampliando o segmento para salão de beleza e cyber.
Entre um corte e outro, dá pra converter alguém? A bispa e cabeleireira Aydelir Rangel de Silva, de 53 anos, garante que sim. E para isso, o cliente nem precisa dar muita abertura não, que ela já chega com a "palavra". A fachada anuncia a comunidade evangélica "El Shadai", mas uma plaquinha menor, na calçada, diz que ali também tem cabeleireira, xerox, currículo e impressão de segunda via de boleto e por aí vai.
A justificativa da expansão é porque diminuíram as ofertas e dízimos dos fieis e Aydelir não pode deixar fechar as portas da "Casa do Pai", como ela nomeia a comunidade.
Aberta há 6 anos, a igreja é a concretização da promessa feita por ela quando o marido beirou a morte no hospital. Ele caiu de um andaime e os médicos foram diretos ao dizer que eram poucas as esperanças. Naquele momento ela conta ter pedido a intervenção divina e que trabalharia para Cristo se o esposo saísse dessa.
A resposta foi positiva e Aydelir deixou a função de 20 anos como cabeleireira para se dedicar exclusivamente à igreja. O salão no bairro Serradinho fechou, ela "pendurou" as tesouras e aderiu à Bíblia como ferramenta de trabalho.
O imóvel onde funciona igreja, cyber e salão é alugado, mas a bispa afirma que teve do dono o aval para fazer o que quisesse. De puxadinho em puxadinho, o negócio foi aumentando. "Aqui é uma igreja, mas nessas salas funcionavam o escritório e o depósito...", apresenta o local. Aydelir ainda mora nos fundos e a cada reforma, diminui os próprios cômodos de casa.
Há pouco mais de um mês que ela voltou à antiga profissão. "Eu não posso fechar a igreja, então pensei eu vou trabalhar para conseguir sustentar a igreja", explica. A comunidade que atende os fieis fica nos fundos, o espaço comporta de 180 a 200 pessoas. "Fiz assim no teto porque eu também sou decoradora", completa. Aydelir é daquelas que pode arrumar a noiva, decorar o salão e casar.
A máquina de cortar cabelo, fazer barba e a tesoura foram emprestadas e a pequena sala improvisada. "Essa cortina eu que fiz, trouxe o espelho de casa também", descreve. Por problemas na coluna, ela só corta cabelo. Mas não se restringe a isso e aproveita para "pregar".
Os fieis, segundo ela, ainda não se acostumaram e a clientela é mais gente desconhecida mesmo. "Por enquanto têm vindo poucos, dois ou três por dia", relata. Quem corta precisa chegar de cabelo molhado, porque no salão não tem lavatório. Em compensação, o preço é bem em conta, R$ 10,00.
Na cadeira da cabeleireira, ela convida quem se senta a ir sentar também nos cultos. "Quando fala de Deus é uma benção para a gente também. Então eu sempre falo, prego a palavra, chamo para vir... Pelo menos quatro já vieram visitar", enumera a bispa.
Do cyber, o carro-chefe é a xerox, onde se cobra R$ 0,20 a folha. Os cultos acontecem às 7h da noite no domingo e nas terças, às 19h30. "Eu fecho o salão cedo em dia de culto e também quando precisa, porque eu não deixo de fazer nada da igreja", frisa a bispa.
Se tem unção na casa de alguém ou um chamado de velório, ela não hesita em fechar a porta do multicomércio. Por isso quem quiser pode tentar marcar com antecedência, o telefone é o 9298-0698. O endereço da igreja que é cyber e também salão é Rua Genipava, 829.