Hortifrúti mais caro transformou vegetarianismo em coisa só de rico?

Nos últimos meses, o aumento no preço de hortifrúti fez com que as contas do mês pesassem ainda mais e, sendo vegana, escutei diversas vezes que minha alimentação deve ser bem mais cara do que a de quem come carne. Mas, e aí, ser vegetariano é mesmo coisa de rico?

Quem é vegetariano, seja não comendo nenhum produto de origem animal ou utilizando leite e ovos, acaba tendo como rotina ouvir questionamentos sobre duas coisas, que acabam vindo como certezas de quem pergunta: número 1, e as proteínas, como você repõe? Número 2, a alimentação é muito cara? Como o objetivo aqui é falar sobre os valores, vamos deixar a “reposição” das proteínas para um outro momento.

Não há como negar que comer esteja caro, seja para quem vai ao mercado em busca de carne ou para quem tem vegetais na base da alimentação. No mês passado, o Campo Grande News divulgou que, devido a diversos fatores, o preço de hortifrúti tem triplicado: o quilo da cenoura a R$ 13, batata a R$ 6,98 e por aí vai.

Enquanto isso, o quilo da linguiça, considerada uma carne “barata”, tem ficado em torno dos R$ 20. Daí o questionamento, é mesmo só quem come vegetais que paga caro?

Sem comer carne há 11 anos, a jornalista Ellen Ramos, de 25 anos, conta que, para conseguir manter a alimentação na linha, tem feito alguns ajustes na rotina de compras. Mesmo assim, não consegue dizer que caso fosse onívora, a compra do mês sairia mais barato.

“Houve esse aumento nos preços, mas ainda não dá para falar que é mais caro você comer vegetais do que comer carne. Sempre vai existir quem fale que ser vegano ou vegetariano é caro, mas isso é um comentário a partir de um senso comum”, defende.

Para equilibrar os valores, ela detalha que tem seguido as estratégias básicas em tempos de inflação alta: muita pesquisa de preço e criatividade na cozinha. Em sua página no Instagram, @vegantour_, Ellen publica diversas refeições feitas em casa e que ilustram os comentários feitos por ela sobre a alimentação.

”Tento procurar mercados menores, hortifrútis dentro de bairros e feiras de produtor. Normalmente, o preço nesses lugares é um pouco mais em conta do que em grandes redes de mercados, então você encontra preços mais acessíveis. Depois, a estratégia é fazer pratos diferentes com os itens, procurar receitas e se inspirar no que tem na internet”, diz.

Claro que, assim como para quem tem uma alimentação com produtos de origem animal, os preços podem ficar ainda mais altos dependendo da escolha.

Ellen destaca que quando falamos em uma alimentação vegetariana, estamos reforçando a base de vegetais in natura. Por isso, as refeições são variadas e vão desde o uso da conhecida proteína de soja até criações de pratos tradicionais, como estrogonofe,  com leguminosas.

Caso as opções fiquem restritas aos industrializados, os preços sobem ainda mais devido aos produtos vegetais serem novidade nos mercados. “Se você escolher comer industrializados, não quiser abrir mão do gosto do queijo ou da carne, isso vai ficar caro. Até por uma lógica de demanda menor, mas se focar em legumes, frutas e cereais, ser vegano é bem mais barato do que ser onívoro.”

Vegano periférico 

Devido ao assunto ser tão questionado, diversas páginas na internet e documentários são produzidos para tratar sobre a alimentação baseada em vegetais ser popular ou não. Nos últimos anos, o documentário “Vegano Periférico”, produzido no Brasil, ganhou alcance nas redes sociais e aborda justamente esse tema.

Dois irmãos que cresceram na periferia de Campinas, em São Paulo, contam sobre o veganismo a partir do ponto de vista popular e também político. No filme, explicam sobre a industrialização dos alimentos ser um dos fatores que afasta a população do veganismo, incluindo a ideia de que a dieta é alta. Clique aqui e confira o documentário na íntegra.

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