No bar, garrafa de "Deus" custa caro e vende pouco, já Lúcifer é bem mais barato
O cardápio anuncia “Deus”, uma garrafa entre os rótulos de cervejas especiais que custa R$ 200. Quando os olhos passam no preço, a curiosidade desperta. Será que alguém já tomou Deus? E Lúcifer? Outra bebida no cardápio. Alguém se atreveu a tomar a bebida, apesar de ser mais barata?
No Mercearia, de Deus só duas garrafas saíram de janeiro até agora. Há 10 anos trabalhando com cervejas especiais, o bar calcula que sai uma média de 6 por ano e geralmente lá por dezembro, quando o décimo terceiro sai ou começam os brindes das festas.
A bebida se apresenta mais como champanhe e não é só no visual. São 750 ml que passam pelo mesmo processo que a bebida, chamado ‘champenoise’. “Ela fica seis meses sendo roleada, como o champanhe, girando 45 graus de tempo em tempo”, explica João Marcelo da Cunha, proprietário do Mercearia.
Para abrir, tem que tirar a rolha como em uma garrafa de champanhe. Levemente frisante, “Deus” é servida em taça e tem uma cor dourada, não deixando de ter o colarinho branco. No estilo Strong Gold Ale, a cerveja tem um percentual bem elevado de álcool, 11,5%. E é isso que garante uma durabilidade maior, explica João Marcelo.
Por ano são fabricadas apenas 15 mil garrafas. De nacionalidade belga, a cerveja é cara por todo processo por trás da rolha e mais ainda pelos impostos quando a caixa chega no Estado. “O que se compra a R$ 10,00 aqui o custo já é R$ 17,00 pelos impostos. A gente coloca uma margem pequena até para ter um giro”, exemplifica João Marcelo.
No comportamento do público, ele já viu de tudo. Dos que escolhem tomar para apreciar e dos que querem esbanjar.
“Tem gente que já é acostumado a tomar as especiais, a começar na de trigo e junta dois, três ou quatro para apreciar. Mas tem que o que tomam por farra, está bebendo uma e pede a que custa R$ 200. Mas quem entende, sabe que é diferente”, conta o dono.
O Lado B experimentou uma taça e sentiu um gosto adocicado. Segundo o dono, ela pode ser facilmente harmonizada com doces. Dá para sentir também uma leve acidez e um gostinho cítrico.
“Trincando, como as demais cervejas, ela perde o sabor”, alerta João Marcelo.
Perguntamos por aí quem já tinha tomado “Deus”. Empresário, Renato Marcondes, de 66 anos, conta que é apreciador de cervejas, em especial as de trigo e malte torrado. Em quatro amigos, eles dividiram Deus.”
“Eu achei que não era nem cerveja, nem champanhe e nem vinho. Gosto muito de cervejas especiais, mas Deus não gostei. Apesar do preço...”, brinca. A impressão que ele tirou foi de uma cerveja mais perfumada que não é para todos os paladares.
O diabo - E numa brincadeira, o dono do Mercearia resolveu trazer para “confrontar” os clientes, a cerveja Lúcifer. Belga, do mesmo estilo da Deus, Lúcifer está em falta na distribuidora, mas quando está presente no bar, o 8% de álcool e o preço que beira entre R$ 60 e R$ 70 vira brincadeira.
“As pessoas me perguntam mas porque Lúcifer é mais barato? Eu respondo que é porque Deus é mais valorizado”.
No mesmo processo de “Deus”, tem cerveja nacional que sai um pouquinho mais em conta. A “Lust” também é vendida numa garrafa de 750ml e custa R$ 150,00. Também Strong Gold Ale, Lust tem 11,5 % de álcool e depois da fermentação e maturação normal dentro da cervejaria, fica três meses numa vinícola do Sul, no mesmo processo dos champanhes.
O aroma, segundo João Marcelo, é frutado e no paladar, a cerveja é bem refrescante, mas nunca ninguém comprou.